Brasil

Um trompete tira o sono de Bolsonaro

No meio desse turbilhão de desinformação que toma conta do país há tantos anos, uma rara notícia real é digna de nota. A invasão ‘sonora’ do Jornal Nacional pelo ativista Fabiano Leitão, o TromPetista, ativou a memória recente dos brasileiros que ainda se prestam a acompanhar o telejornalismo asséptico e institucionalizado da Rede Globo.

Gustavo Conde

Ilustração de Carvall

A reportagem atingida também não poderia ser melhor: foi a entrevista coletiva fraudulenta do governo federal acerca das ações contra o coronavírus.

Tudo na matéria era mentiroso, exceto o trompete de Fabiano, que fazia reverberar a verdade inconveniente de um Brasil que jogou a democracia no lixo para restabelecer o poder político das nossas oligarquias seculares, leia-se: família Marinho.

O Brasil padece sob os escombros que vão sendo deixados por duas famílias: os Marinho e os Bolsonaro. Pudéssemos fazer voltar a tradição monarquista só de pirraça, um casamento entre um Bolsonaro e ‘uma’ Marinho (ou vice-versa) seria a concretização do coisa ruim com o cruz credo.

Deixemos de lado esses dois vetores de atraso por ora e falemos do que é bom.

Foram 18 segundos do riff mais conhecido do país, melodia que subsidiou a nossa maior revolução social, a que mais combateu a desigualdade e mais produziu riqueza no país, material e imaterial (a ciência, as universidades).

O “Olê, olê, olá” de Fabiano incomodou. Obrigou William Bonner a pedir ridículas desculpas ao “telespectador” em função de “uma música das campanhas do PT”, que não era para estar ali, na encenação diária empacotada com papel celofane e oferecida aos fanáticos que ainda toleram uma TV aberta decadente dentro das suas salas de estar.

A invasão de Fabiano ao mais reacionário jornal brasileiro ainda serviu de pano de fundo para o panelaço espontâneo de véspera contra Bolsonaro -, que tomou o país e que também foi ignorado e, depois, suavizado pela família Marinho, a verdadeira editora-chefe do Jornal Nacional (pobre Bonner, é só um capacho).

Fabiano lhes esfregou na cara a fraude completa que é a Globo e continua sendo. Foi a ação em nome da liberdade de expressão e da democracia mais eficiente dos últimos anos, semioticamente, mais poderosa do que todas as campanhas obsoletas assinadas por marqueteiros políticos ainda encostados na burocracia progressista, gravando clipes disfuncionais de favor, com zero impacto eleitoral ou retórico.

Fabiano ainda restituiu uma dolorosa verdade aos zumbis cativos do JN: este jornal ignorou a libertação de Lula, o título de Cidadão Parisiense de Lula e o discurso de Lula sobre o coronavírus.

Trata-se de um ex-presidente da República, o mais popular da história em qualquer pesquisa que se faça.

O fato de ele ser também o maior político da história do Brasil e um dos maiores da história mundial é praticamente irrelevante editorialmente – perdão pelo cinismo.

A Rede Globo é uma vergonha e Fabiano nos fez – nos faz e continuará a nos fazer – lembrar disso.

Seu trompete é a alvorada possível da democracia popular que nos foi usurpada. Ele entoa a ‘melodia do futuro’ há mais de 5 anos e é preciso dizer: ele é um guerreiro.

Já foi preso, hostilizado, sabotado mas jamais arredou pé de emergir com seu trompete provocador.

Fabiano enfrenta os fascistas, os fanáticos, os sem-noção, os bolsonaristas, essa classe média burra e os políticos corruptos do establishment. Ele vai pra cima, demarca territórios, se infiltra em redes milicianas digitais e promove a mais eficiente, prolongada e inteligente luta contra o estado de coisas que se apoderou do nosso país.

O som do seu trompete ecoando “Olê, olê, olá” extrapola a memória partidarizada de campanha, supera a evocação de um tempo bom, legitima a verdadeira natureza dessa melodia histórica.

Fabiano se tornou co-autor dessa canção. É o “Olê, olê, olá’ de Fabiano, do tromPetista, do trompete, do sopro que nos devolverá a esperança e a capacidade de respirar e sonhar.

Nesta crise gigantesca do coronavírus e diante da monumental incompetência do governo Bolsonaro, a presença de Fabiano Leitão será essencial para que possamos manter, ao menos, cifras de sanidade mental.

Bolsonaro é um homem em estado avançado de demência. Um psicopata vingativo e violento que ameaça a vida de todos os brasileiros.

Enquanto existir um trompete para nos lembrar de tudo isso, a esperança estará viva e fará tremer esse poder estabelecido por famílias egocêntricas e promotoras de ódio.

Seu trompete deixou isso muito claro para todos nós.

Salve, Fabiano!


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