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No inferno do Carandiru, você tinha que ser lobo. Lobo mau.

Por Manuela Azenha e André Neves Sampaio

Mais conhecida como Carandiru, nome do bairro onde foi construída, a Casa de Detenção de São Paulo foi o maior presídio da América Latina e chegou a abrigar oito mil presos. Implodido em 2002 para dar lugar ao Parque da Juventude, o nome Carandiru ficaria gravado para sempre como o palco da maior tragédia já vista num presídio: o fuzilamento por soldados da Polícia Militar de 111 presos na madrugada de 2 de outubro de 1992. Conhecido como o Massacre do Carandiru, o episódio rendeu filme, livros e documentários.

Dividido em nove pavilhões, o presídio era visto como um Estado à parte. Ali os presos ditavam as regras entre si e transformaram o terreno de 240 mil m² em uma cidade dentro da cidade de São Paulo.

Para reconstituir parte dessa história, Nocaute conversou com dois ex-presidiários do Carandiru – Claudio Cruz e Washington Pereira Paz – que revelam como funcionava a vida dentro da prisão e quais são os principais desafios da liberdade.

“Existem muitos jovens que saem da cadeia e acabam voltando, porque saem de lá sem perspectiva nenhuma. A pessoa tem que mudar por ela mesma, porque se for pela ajuda do Estado não consegue mudar de vida”, diz Washington.  

Claudio Cruz, também conhecido como ‘Kric’, passou mais de vinte anos no Carandiru e contou que logo na chegada foi preciso entender o funcionamento do presídio: “No Carandiru eu procurei sobreviver. Era um país, e dentro desse país existia todo tipo de coisa, ‘treta’, confusão, tinha que andar armado. Foi então que percebi que eu não podia ser ‘cordeirinho’, senão eles iam me jantar. Tinha que ser lobo, e lobo mau”.

A reportagem também conversou com Valdemar Gonçalves, ex-funcionário do Carandiru: “Às vezes a coisa esquentava de uma forma que você não via solução. Quando acontece um ‘barulho grande’ é complicado, você balança porque não sabe quais serão as consequências. Em algumas situações eu ponderava: ‘será que eu vou sair vivo?’”.

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