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Um ano depois da morte de Khashoggi, quem irá à “Davos do Deserto”, confraternizar com o mandante?

Há um ano o jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi foi sequestrado, morto e esquartejado. Acusado de ser o mandante do crime, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, conhecido como “MbS”, está convocando para uma mega conferencia de investimentos em seu país, que ele chama de a “Davos do Deserto”. Quem vai comparecer? Quem vai boicotar?

Hoje faz um ano do assassinato brutal do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi nas mãos da Arábia Saudita. E o regime brutal não se envergonha de tentar varrer a memória de Khashoggi para debaixo do tapete. No final deste mês, os sauditas estão organizando uma conferência de investimentos intitulada “Davos no Deserto” e convidaram os maiores gigantes financeiros do mundo. Citigroup, Goldman Sachs e… Larry Fink, presidente e CEO da BlackRock, o maior investidor mundial em armas de guerra, já confirmaram que vão.


Empresas como essas não dão a mínima para os direitos humanos, mas por que aparecer na Arábia Saudita um ano depois que um jornalista de destaque foi atraído para uma embaixada, assassinado a sangue frio e depois cortado em pedaços e descartado? Isso apenas joga sal em uma ferida aberta.


No ano passado, em resposta ao assassinato de Khashoggi, Blackrock e outras empresas – Google , Uber, JP Morgan Chase, CNN, The New York Times e muitas outras – abandonaram a conferência em protesto. Mas agora, ano depois da morte, e mesmo que ninguém tenha sido responsabilizado por ela, as empresas estão tentando voltar. Algumas, como a Blackrock, divulgaram sua participação, enquanto outras ameaçam participar silenciosamente.

A verdade é que nenhuma empresa ou CEO deveria comparecer à “Davos no Deserto”.

Mesmo que Fink admita que o assassinato de Khashoggi foi “horrível”, ele está disposto a ignorar os muitos crimes da Arábia Saudita contra a humanidade – o assassinato de Khashoggi, a prisão e tortura de mulheres ativistas, a guerra no Iêmen – desde que isso melhore os laços comerciais de sua empresa, incluindo o lançamento de um novo escritório da BlackRock na Arábia Saudita.

No domingo passado, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (MbS) foi entrevistado no programa “60 Minutos”, da CBS. Ele negou qualquer envolvimento pessoal ou conhecimento do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, que foi cortado em pedaços com uma serra de açougue. Isso apesar de a CIA e a ONU, garantirem que MbS não está apenas envolvido, mas que provavelmente foi o mandante do crime.

Durante a MbS também negou qualquer conhecimento da tortura do ativista dos direitos da mulher Loujan al-Hathloul, que está definhando em uma prisão saudita desde março de 2018, dizendo que a libertação de Loujan não depende dele. A resposta é ridícula, pois a Arábia Saudita é uma monarquia absoluta, na qual MbS tem conhecimento e controla todas as decisões importantes, desde a tortura de Loujan ao assassinato premeditado de Khashoggi.

A Arábia Saudita acha que agora que já se passou um ano do assassinato de Khashoggi, o mundo deve fechar os olhos e ignorar os crimes sauditas.

(Por Medea Benjamin, do Code Pink: www.codepink.org)

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