Brasil

Bolsonaro avança contra as universidades. Vem aí a “Lava-Jato da Educação”.

Jair Bolsonaro pretende juntar a Polícia Federal (PF), a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU) para fazer uma “Lava-Jato da Educação”. O anúncio da campanha macartista de caça às bruxas foi reforçado no Twitter nesta segunda-feira (4) e promete mudar “as diretrizes educacionais” do país.

Em comunicado oficial, o Ministério da Educação (MEC) revelou um acordo com a pasta da Justiça para investigar indícios de corrupção e desvios nas gestões anteriores. Bolsonaro também disse que a farão parte da iniciativa.

“Há algo de muito errado acontecendo: as prioridades a serem ensinadas e os recursos aplicados. Para investigar isso, o Ministério da Educação junto com o Ministério da Justiça, Polícia Federal, Advocacia e Controladoria Geral da União, criaram a Lava-Jato da Educação”, escreveu o ex-capitão.

Bolsonaro defendeu que o Brasil gasta mais em educação do que a média de países desenvolvidos. “Em 2003 o MEC gastava cerca de R$ 30 bi em Educação e em 2016, gastando 4 vezes mais, chegando a cerca de R$ 130 bi, ocupa as últimas posições no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).”

Tudo seria um indício de ilegalidades. ”Dados iniciais revelam indícios muito fortes que a máquina está sendo usada para manutenção de algo que não interessa ao Brasil. Sabemos que isto pode acarretar greves e movimentos coordenados prejudicando o brasileiro. Em breve muito mais informações para o bem de nosso país”.

“A agenda globalista mira a divisão de classes. Pessoas divididas e sem valores são facilmente manipuladas. Mudar as diretrizes ‘educacionais’ implementadas ao longo de décadas é uma de nossas metas para impedir o avanço da fábrica de militantes políticos para formarmos cidadãos.”

Logo em seguida, Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, rebateu o discurso de Bolsonaro em sua conta no Facebook. Em seu texto, Daniel esclarece que a educação não recebe recursos demais e que a área “não pode ser usada como bode expiatório do bolsonarismo”, nem “instrumento partidário” para “perseguir opositores”.

Bolsonaro quer usar a franquia Lava-jato para reduzir recursos na educação e perseguir opositores

Bolsonaro anunciou por sua conta no Twitter mais um capítulo da franquia Lava-jato.
Ele sugere que houve corrupção na educação nos anos petistas. Em seguida, conclui que a área tem muitos recursos, em uma dedução pobre e irreal: basta visitar escolas públicas nas periferias das grandes cidades e nos interiores do Brasil para ver a precariedade e a falta de investimentos em políticas educacionais. Além disso, faltam vagas e apoio à permanência dos estudantes de baixa renda nas universidades federais.

É preciso informar a sociedade brasileira sobre essa artimanha bolsonarista.
Além de ser um princípio, o combate à corrupção deve ser um dever dos agentes políticos. Porém, não pode ser usado como instrumento partidário e, muito menos, para agradar os setores mesquinhos e míopes do mercado que querem reduzir os gastos sociais, aumentando as já gritantes e dramáticas desigualdades sociais brasileiras. A educação não pode ser usada como bode expiatório do bolsonarismo.

Daniel Cara – coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Fernando Brito, editor do blog Tijolaço, entende que a administração de Bolsonaro prepara uma ofensiva contra as universidade públicas e busca criar um novo “inimigo da Pátria” que sirva de distração para problemas mais urgentes a serem enfrentados pelo governo.

Ainda não se sabe o que será a tal “Lava Jato” da Educação, anunciada há dias por Jair Bolsonaro, mas os disparos de mensagens feitos hoje pelo presidente mostram que se trata de uma ação com viés é nitidamente ideológico, boa razão para o nome que para ela se escolheu.

Se não fosse o presidente da República, mas um estagiário, o texto seria jogado fora: não tem os famosos “quem, o quê, onde, quando e como” que se esperam de uma notícia.

Como é, porém, lixo oficial, espere-se uma ainda imprevisível ofensiva contra a Universidade, justamente onde Bolsonaro já antecipa esperar “greves e movimentos coordenados prejudicando o brasileiro”.

Vejamos o que o tal Vélez, o energúmeno que dirige o MEC. E o que Moro, o pusilânime, fara para agradar ao chefe.

Da Polícia Federal, nada se espere, pois universidade é apenas o lugar chato que tiveram de frequentar para obter o diploma indispensável ao concurso para entrar na instituição.

Certamente podem existir irregularidades numa rede de ensino superior federal que tem, hoje, perto de 1,3 milhão de vagas.

Infinitamente menores, claro, que na sonegação de impostos e nas falcatruas bancárias, contra as quais não se vê a fúria do capitão.

Esperemos o que vem, mas é nítido que Bolsonaro quer criar um novo “inimigo da Pátria” que distraia a atenção e possa se ajustar aos recalques e frustrações da pequena classe média ignorante que o idolatra.

Fernando Brito, editor do blog Tijolaço.

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