Mundo

A Europa vira a cara para a tragédia dos refugiados


 
Por Víctor David López*
 
Bem-vindas e bem-vindos! Nocaute na Espanha.
É impressionante a atitude da Europa com a tragédia dos refugiados, dos refugiados que fogem das guerras ao redor do planeta. É impressionante e triste a atitude da França, a atitude da Espanha, a atitude da Itália, da Alemanha. Cada ano, só no mar Mediterrâneo morrem entre 3.500 e 4.000 pessoas dos barcos que chegam das costas africanas.
A Comissão Europeia é a instituição que controla as leis do Parlamento Europeu, que executa as leis do Parlamento Europeu. Eles marcaram uns objetivos, umas cotas de acolhimentos dos refugiados, cotas por pais. Ninguém cumpriu. E ninguém trabalhou para cumprir as cotas de acolhimentos dos países, que em si já eram baixíssimas.
Entrevistei há uns dias o Riccardo Gatti, um dos diretores da ONG Proactiva Open Arms. Eles resgatam refugiados no mar mediterrâneo. Segundo ele, a Guarda Costeira italiana, por exemplo, não tem capacidade suficiente para resgatar milhares de imigrantes que tentam chegar à costa italiana pelo mar. Os barcos das ONGs trabalham em parceria com eles. Tem barcos com cem refugiados e tem barcos com até mil pessoas.
Porém, a tarefa das ONGs finaliza nos portos italianos. A polícia e o exército esperam os barcos, e os imigrantes vão diretamente aos Centros de Internamento de Estrangeiros (CIEs), aquelas prisões disfarçadas onde esperam o movimento administrativo preciso para serem devolvidos aos seus países de origem. Prisões que já comentamos aqui faz pouco tempo em Nocaute.
A questão é: os outros países europeus não poderiam ajudar com mais barcos de resgate e com mais funcionários da área da saúde?
Como tem gente para tudo neste mundo, na Europa às vezes se fala do “efeito chamamento” provocado pelo trabalho de resgate de ONGs como a Open Arms. Como se os imigrantes, incluindo crianças, fossem arriscar as suas vidas somente porque têm certeza de que serão resgatados. Na realidade, se as ONGs, como a Open Arms, não estivessem no mar resgatando refugiados a morte de todos eles estaria garantida. A tragédia seria maior ainda.
Outro dos trabalhos das ONGs, além dos resgates, é divulgar as histórias pessoais dos imigrantes e dos conflitos. Na entrevista com o Riccardo Gatti ele me falava das histórias dos refugiados, que sempre contam a grande violência que sofrem na Líbia. Eles chegam de diferentes origens e, antes de poder comprar a vaga num barco suicida, nos barcos da morte. Ainda na Líbia têm que lutar para salvar suas vidas e não acabarem nas mãos de escravistas. As histórias dos refugiados são incríveis.
A Europa não escuta o drama dos refugiados. Vira a cara pro outro lado enquanto o holocausto continua nas águas do mar Mediterrâneo. A Europa sempre foi exclusivamente uma união financeira, uma associação de países sem sensibilidade.
 
* Víctor David López (Valladolid, Espanha, 1979). Jornalista, editor literário e escritor. Colabora na Radio Nacional da Espanha e escreve no jornal El Español. Trabalhou nos jornais espanhóis As, Marca e La Razón. É co-diretor da editora madrilena Ediciones Ambulantes, especializada em literatura brasileira e sobre o Brasil. É autor dos livros “Maracanã, territorio sagrado” (2014), “Brasil salta a la cancha” (prólogo) (2016) y “Brasil, Golpe de 2016” (prólogo). Twitter: @VictorDavLopez

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  1. Avatar
    rose ferrante says:

    olá, nós do Brasil ficamos chocados com esse drama. Infelizmente pouco podemos ajudar, pois enfrentamos sérios problemas internos. Desejamos que nossos irmãos e irmãs, em condição de refugiados, tenham algum bom acolhimento para acalmar seus sofrimentos.

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