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Deu no Estadão: Macris pai & Macris filho “doaram” R$ 881 mil de grana pública para um posto de gasolina.

O deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP) repassou, em 2018, R$ 615 mil em verbas de campanha ao posto de gasolina do filho Cauê Macris (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de SP. Ontem, o Estado informou que Cauê repassou R$ 266 mil ao posto. O pai diz que usou a empresa para “facilitar o pagamento dos cabos eleitorais”.

O posto de gasolina que pertence ao presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Cauê Macris (PSDB), recebeu R$ 615 mil em cheques emitidos pela campanha do pai dele, o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB), na eleição de 2018. O valor equivale a 47% do que o pai obteve do fundo eleitoral (constituído por dinheiro público) repassado pelo partido: R$ 1,3 milhão.
O expediente utilizado por Macris foi semelhante ao praticado pelo filho, só que com um volume de recursos maior. Ontem, o Estado revelou que Cauê repassou R$ 266 mil de sua campanha para a empresa Posto União de Limeira Ltda., da qual é sócio. Segundo o tucano, a medida foi tomada para “facilitar o pagamento dos cabos eleitorais” que não possuem conta bancária e moram no interior. Ambos se reelegeram.

Juntos, pai e filho repassaram R$ 881 mil para o posto de combustível, que fica no km 134 da Rodovia Anhanguera, em Limeira, cidade vizinha de Americana, na região de Campinas. Se esse dinheiro fosse gasto com gasolina, seria possível encher o tanque de mais de 3 mil veículos ou dar cerca de 50 voltas na Terra. Ambos, porém, não declararam a empresa como fornecedora de suas campanhas. Afirmam apenas que ela foi intermediária dos pagamentos a cabos eleitorais.

Extratos bancários anexados à prestação de contas de Vanderlei Macris no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que 660 cheques emitidos pelas duas contas eleitorais abertas pela campanha dele no Banco do Brasil foram compensados pela empresa do filho em uma agência bancária do Bradesco que fica na cidade de Americana, berço político da família.

Ontem, Cauê divulgou um vídeo no Twitter no qual afirma que ele mesmo declarou todas as informações sobre os extratos bancários à Justiça Eleitoral e que ela foi “minuciosamente analisada pelo Ministério Público Eleitoral e aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral”. “Não foi feito Vanderlei Macris (PSDB-SP) nada escondido, foi tudo transparente. Repito, eu mesmo declarei essas movimentações”, disse.

De acordo com o TSE, porém, os extratos bancários eletrônicos que estão anexados à prestação de contas disponível na internet e que foram analisados pelo Estado são informados diretamente pelos bancos ao tribunal, conforme resolução de 2017. As campanhas depois devem fornecer as mesmas informações na prestação de contas oficial à Justiça Eleitoral, que avalia a regularidade da contabilidade.

O presidente da Alesp afirmou que fez a triangulação com sua empresa para pagar funcionários de campanha para evitar que seus cabos eleitorais tivessem que se deslocar do interior até a capital, onde estava a agência bancária que abrigou a conta eleitoral. “Para agilizar o pagamento a fim de não desmotivar, inclusive, quem trabalha na nossa campanha, descontamos o cheque em minha empresa para pagar todos os funcionários”, disse. “Temos inclusive todos os recibos assinados por aqueles que trabalharam conosco recebendo os seus salários.”

A prática, contudo, é ilegal, segundo especialistas em Direito Eleitoral ouvidos pelo Estado (mais informações nesta página).
Contas. As contas de Cauê foram aprovadas e as de Vanderlei Macris reprovadas pelo TRE. Em nenhum dos pareceres, porém, há menção aos extratos bancários que mostram mais cheques emitidos pelas duas campanhas sendo compensados pela empresa do presidente da Assembleia paulista. A contabilidade das duas campanhas foi feita pelo advogado Marcos Antonio Gaban Monteiro e pelo contador Anderson Orivaldo Ercolin. Monteiro não retornou contato da reportagem e Ercolin disse que não foi o responsável por essas operações.

Apresentados como justificativa para os repasses para o posto de gasolina, os gastos com pessoal representaram cerca de 45% das despesas totais de campanha tanto de Cauê quanto de Vanderlei Macris. O presidente da Alesp declarou ao todo ter gasto R$ 742 mil e o deputado federal, R$ 2,2 milhões. Segundo a prestação de contas, Macris repassou R$ 170 mil da parte que recebeu do Fundo Eleitoral para a campanha do filho.

Em nota, o deputado federal repetiu a versão do filho de que fez uso da empresa de Cauê para “facilitar o pagamento dos cabos eleitorais” e que “utilizou de maneira totalmente transparente e legal o Posto União de Limeira para descontar cheques e garantir a agilidade do pagamento dos trabalhadores de campanha”.

Sobre os recursos repassados pela campanha do pai a sua empresa, Cauê disse, via nota, que Vanderlei Macris “foi a principal dobrada” dele na campanha, “o que significa que houve trabalho conjunto entre ambos”. Tanto o pai quanto o filho ressaltaram que “os cheques emitidos foram nominais, os colaboradores tiveram contrato de trabalho, receberam pelo serviço prestado e assinaram recibo”.

“(…) Utilizou de maneira totalmente transparente e legal o Posto União de Limeira.”
DEPUTADO FEDERAL, EM NOTA

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