O Capitalismo não é pessoal.

 
 
Toda vez que eu falo uma fala anticapitalista, vem um argumento que é um argumento individual como se o capitalismo fosse um grande acordão. O capitalismo não é uma questão pessoal. Parem de propor saídas individuais pro capitalismo porque não resolve nada. Porque as soluções individuais como trabalhar por conta própria, não te tira do sistema explorador que é o capitalismo. Você continua sendo parte do sistema. E quando a gente diz que o capitalismo é um sistema explorador, eu não estou falando que você é um motherfucker explorador. Eu estou falando que você não tem como sair do sistema. O sistema é explorador. Ninguém está falando que você é má pessoa porque você tem funcionários. Até porque dentro desse sistema, se você for pagar justamente os seus funcionários você vai quebrar. O sistema te obriga que você pague menos do que o trabalho deles vale. O sistema também faz que você pequeno empresário tenha que trabalhar mais. Também é explorador pra você. Vou falar a palavra que todo mundo tem medo, tá? Toda essa mais valia do trabalho ela vai para na mão daquelas oito pessoas que têm tudo. Não é na sua mão, porque você tem uma padoca. Fica frio, você também é explorado, tá? Parem de achar ruim que eu te chame de pobre. Pobre não é xingamento, pobre é condição social. Não fica bravo comigo, para com isso. A gente precisa ter um pouquinho mais de noção também do processo histórico. Porque não é assim que um dia algumas pessoas decidiram: ei vamos ser capitalistas? Ah, vamos, tudo bem, eu trabalho por menos que eu valho. Não aconteceu isso. É um processo histórico que aconteceu lá na Idade Média. O capitalismo não é um acordo individual entre o empregado e o empregador. Então não adianta você apresentar uma solução individual ou cair no mito de que se todos nós virarmos pequenos empresários acaba a exploração. Porque pequenos empresários também fazem parte de um sistema. Aliás, inclusive, se eu resolver viver no meio do mato fazendo artesanato, fazendo brinco de fio, eu também vou comprar o fio mais barato pra comprar, e como que se faz um fio barato? Trancando muitas pessoas numa sala e pagando pouco pra elas. Pra elas fazerem o fio barato. Então, não tem muito como a gente sair. Por isso que a gente está tentando falar que a luta não pode ser individual. Se você não é explorado, ou se você acha que não está sendo explorado, primeiro você está iludido, segundo sai um pouquinho da sua zona de conforto e olha pro mundo porque alguém você está explorando e alguém está te explorando. Isso não é justo. É assim que a gente está imbricado nessa situação. Primeiro as pessoas não têm noção que estão sendo exploradas, segundo mesmo quando elas têm, às vezes, ela não opção. A maioria das vezes ela não tem opção. Porque ou é aquele trabalho ou é passar fome. Porque todos os argumentos são muito individualizados que os trabalhadores perderam a noção da sua força como classe. Porque se os trabalhadores pararem, todo mundo para. Por isso que fica essa pressão individualista. Para parecer que as decisões são individuais. Para parecer que você toma conta da sua vida como se nada mais influenciasse nisso, como se não tivesse pressões socioeconômicas, como se a gente não fizesse parte e como se eu pudesse fazer assim: não concordo com o capitalismo vou vender meu iphone e vou cair fora. Eu não tenho como cair fora. A gente não tem mais como cair fora. A não ser que eu vire andarilha no meio da Chapada Diamantina. E ainda assim eu só vou conseguir virar andarilha porque eu tenho o meu iphone pra vender e comprar a passagem pra ir. Então, ou a gente lida com o que tem e transforma o que tem através da consciência de classe, da consciência social e da união dos explorados. Ou a gente não vai sair dessa. Ai que papo anos sessenta. É! Eu não acredito que nessa altura da vida desse planeta a gente tem que estar falando coisas que já falaram há duzentos anos. Mas como eu procuro ser uma pessoa esperançosa, eu quero dizer que se a gente se unir tem jeito.