O ministro Eliseu Padilha jogou a culpa do incêndio do Museu Nacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para saber quem é o homem forte do governo golpista, o melhor caminho é ler as memórias de Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente conta a “aflição” de ter que nomear Padilha para o ministério, por pressão de Temer, Geddel e companhia.
Na noite de ontem, terça-feira, o governo Temer voltou a tratar da tragédia que consumiu o Museu Nacional no fim de semana.
Até agora a única manifestação oficial dos golpistas tinha sido a frase lapidar do ministro de Governo, Carlos Marun. Segundo ele, as denúncias de incúria do governo não passavam de “choramingas de viúvas do Museu Nacional”.
Na entrevista de ontem o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, decidiu bater pesado, tirando a responsabilidade das costas do governo e jogando-a na Universidade Federal do Rio de Janeiro, responsável pela manutenção do Museu.
Padilha afirmou que o orçamento da Universidade cresceu 49%, de 2012 a 2017, enquanto a dotação repassada pela UFRJ ao Museu Nacional, no mesmo período, foi de apenas 43%.
Trata-se, em primeiro lugar, de uma mentira. A Universidade rebateu imediatamente as declarações de Padilha, afirmando que a UFRJ, ao contrário do que disse o ministro, sofreu significativa redução orçamentária nos últimos quatro anos. E acrescentou que, por causa dos cortes de verbas, a universidade vai fechar o ano de 2018 com um déficit de R$ 160 milhões.
A verdade é que por trás das declarações de Eliseu Padilha está escondido um vulgar ato de vingança. O governo Temer está tentando dar o troco no reitor da Federal do Rio, o biólogo Roberto Leher.
Como todos devem se recordar – sobretudo os seguidores do Nocaute – Leher foi a primeira autoridade do mundo acadêmico a denunciar o golpe de Temer contra Dilma.
Em entrevista exclusiva ao Nocaute, concedida em dezembro de 2016, Leher explica, ponto por ponto, o desastre que significará para a ciência, a cultura, a tecnologia e as pesquisas a aprovação da PEC 241, responsável pelo congelamento dos gastos sociais por vinte anos (veja a entrevista aqui).
Leher é reconhecido nacional e internacionalmente como um cientista de grande prestígio e renomado acadêmico.
E Padilha? Quem é Eliseu Padilha?
O melhor lugar para se levantar a folha corrida de Eliseu Padilha são os livros de memórias do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
No segundo tomo dos “Diários da Presidência”, FHC faz nada menos que 25 referências a Padilha. Nenhuma delas elogiosa.
Fernando Henrique revela o clima de “aflição” – a palavra é essa mesmo, aflição – causado pela insistência do PMDB em indicar Eliseu Padilha para o Ministério dos Transportes, pasta conhecida como uma cornucópia de verbas públicas, um verdadeiro objeto do desejo e da cobiça dos políticos.
Havia, segundo FHC, abre aspas “medo de que a nomeação de Padilha, indicada pelo Michel Temer leve à organização de um grupo que controle o ministério para fins eleitorais, o que implicaria, talvez, corrupção” fecha aspas.
Repito que esta é apenas uma das 25 referências do ex-presidente a Padilha.
Uma particularidade chama especialmente a atenção: quando aparecia no Palácio para pressionar FHC pela nomeação de Padilha, Temer estava quase sempre acompanhado por sua tropa de choque, formada por Wellington Moreira Franco e Geddel Vieira Lima – sim, o mesmo Geddel das malas com 51 milhões e que hoje desfruta dos serviços da Penitenciária da Papuda, em Brasília.
Ou seja, passados vinte anos, a guarda de ferro do golpista Michel Temer continua a mesma: Padilha, Geddel e Moreira Franco.
Os diários de Fernando Henrique revelam que o presidente perdeu a parada para a turma de Temer. Ofereceu outros ministérios a Padilha, como o da Justiça, mas não tinha conversa: ou era o ministério dos Transportes ou nada. E “nada” significava perder o apoio do PMDB na Câmara dos Deputados.
A solução foi nomear Padilha mas, por via das dúvidas, deixar como guarda do cofre um homem de confiança de FHC, José Luiz Portela – que acabaria se demitindo do cargo.
É esse Eliseu Padilha – o homem cuja reputação causava aflição em Fernando Henrique – que hoje responsabiliza a Universidade Federal do Rio de Janeiro pelo incêndio do Museu Nacional.
Na sua opinião, quem merece crédito? Eliseu Padilha ou o cientista Roberto Leher?
Mais Nocaute:
A morte do Museu Nacional é a crônica de uma tragédia anunciada
A imprensa também é responsável pelo incêndio do Museu Nacional
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José Eduardo Garcia de Souza says:
Certo. Mas neste caso eu acredito no Padilha, por mais pilantra que ele seja.
O Leher e equipe foram de uma incompetência abismal e permitiram que, em dois anos, quatro prédios sob administração da UFRJ tivessem incêndios. Não me consta que nenhum prédio administrado por Padilha tivesse pegado fogo.
L Oliveira says:
Não acredito em nenhum dos dois!
Salazar Silva says:
Acredito em Padilha. Canalha por canalha, tomei a liberdade de consultar os números – divulgados pela própria UFRJ. O Museu Nacional recebeu menos que o Magnífico Reitor. De fato, recebeu menos que cada professor – sozinho.
A quem cabia administrar? A UFRJ, que recebendo seus bilhões, não teve a decência de gastar o que já gasta com dois funcionários – o que garantiria que o Museu estivesse minimamente equipado e bem conservado.
O que sucedeu? A despeito do aumento de recursos destinados nos últimos anos (e não me venham com a mentira generalista sobre o “congelamento” – ele não funciona assim), o gasto com o ordenado se multiplicou de forma impressionante, enquanto o gasto com o Museu Nacional minguou até a insignificância.
Como devo interpretar? Bom, que a gestão da UFRJ não é simplesmente temerária. É criminosa. E o reitor não deveria ser apenas demitido, como preso. Não vou nem falar de merecimento – coisas como “degredo” vêm à mente…
Regina Maria de Souza says:
Não conheço o reitor Leher. Mas a Padilha conheço , e o que sei dele não me permite acreditar em suas palavras. Logo um reitor que tem sua universidade boicotada pelo regime Temer, é seguramente vítima com seus alunos, professores e fincionários.
Antônio Carlos Costa Lima Vieira says:
É claríssimo que Leher vai acabar preso.
Antônio Carlos Costa Lima Vieira says:
Mais claro que aquelas chamas: Leher vai acabar preso.