O pau está comendo, está na hora da gente ter prioridade de luta

 
Ana Roxo
É inegável o papel das redes sociais atualmente nos nossos meios de comunicação e em como a gente se informa, em como a gente lê o mundo. No fundo, a gente também é um pouco fruto do algoritmo do Facebook.
Você provavelmente está vendo este vídeo no Facebook, e eu queria fazer algumas considerações sobre isso.
Eu não assisto televisão porque eu realmente acredito que a família Marinho é inimiga do Brasil e deve ser tratada como tal. Mas eu participo do Facebook. Para mim, já está muito difícil saber o que é verdade, o que é pós-verdade, o que é mentira mesmo e o que é publicidade, que são variações de uma mesma coisa, que é a mentira.
Por gradação, a gente tem a publicidade que é uma verdade maquiada, muito bem maquiada. Por exemplo, um homem fazendo crochê. Eu duvido que ele tenha feito um jogo de banheiro inteiro, mas ele fez crochê. E está lá a foto dele fazendo crochê e a gente fala “ai, que homão da porra, fazendo crochê”. Truco. Publicidade.
Manipulações da verdade, uma coisa que é verdade, mas é lida de um jeito que considera um lado só da questão.
Pós-verdade que é aquela coisa que já desconsiderou a verdade mesmo. Está ali falando uma coisa que poderia ser verdade num mundo bizarro, num mundo paralelo, não é.
E mentira mesmo. Antes, as mentiras ficavam mais no campo dos alienígenas, mulheres de três cabeças. Agora, as mentiras estão por aí, com as pessoas querendo ganhar dinheiro. E aí, como que a gente escolhe com que a gente vai gastar o nosso tempo, com o que a gente vai gastar a nossa energia de leitura de mundo. As questões mais interessantes estão fora do Facebook. As questões mais importantes estão sendo muito pouco compartilhadas.
Eu tenho aprendido mais lendo artigos que não entram no algoritmo do Facebook. Eu tenho aprendido mais conversando com pessoas, convivendo com pessoas e escolhendo pessoas para ler, mesmo que sejam de opinião contrária à minha para fazer alguma leitura sobre o mundo. Está na hora, assim, de a gente ter prioridades de luta.
Está acontecendo um massacre no Brasil. O massacre da população negra, o massacre da população indígena. O massacre dos pobres está acontecendo. A reforma trabalhista já passou. Vão passar outras reformas. Já tem editoriais de revistas perguntando se realmente 2018 tem que ter eleição porque não vai dar tempo de fazer todas as reformas. A gente não sabe se vai ter eleição em 2018.
E se tiver eleição, o nosso maior líder popular – independente do que você acha do Lula, ele é o maior líder popular do Brasil – não estará na eleição. É uma eleição justa, onde o Lula não esteja? É uma eleição justa, sem um líder de esquerda? Sem um candidato forte da esquerda? É justa uma eleição em que a gente vai ter que escolher entre o Doria e o Bolsonaro? Isso não é eleição. Isso é publicidade, ou talvez pós-verdade, ou talvez mentira mesmo.
Eu poderia fazer comentários sobre o quanto é chato ler spoiler do “Game of Thrones” ou se o Rodrigo Hilbert é um homão da porra ou não, tem diversas coisas que eu poderia comentar. No entanto, o negócio está acontecendo e o pau está comendo. Talvez não tenha volta.
Talvez a minha geração, de pessoas de 40 anos, não veja mais os tempos que já foram, onde a gente tinha tempo de ter essas discussões quase suecas. O pau está comendo, gente. Está na hora de priorizar, sim.