Comportamento

O neoliberalismo é o nosso aquário. Dá um pulinho fora dele.


 
 
Por Ana Roxo
 
A gente vai fazer uma distinção entre o que é natural e o que é naturalizado. Natural num ser humano são as coisas que nascem naturalmente com ele. Essencial, intrínseco, estou usando palavras difíceis hoje. Intrínseco que é próprio da essência, é essencial. No entanto, o ser humano não é um ser natural. Ele é um ser social, um ser cultural, um ser político.
 
Como que a gente fala de coisas que são naturais quando a gente não tem mais além do que é essencial, biológico, como necessidade de comer, de se reproduzir, de respirar, como a gente pode falar de coisas naturais? Como a gente pode ouvir frases como: é natural a desigualdade. Ou, o papel da mulher na casa é natural. Como a gente pode falar disso?
 
Então, a gente tem que começar a diferenciar o que é natural e o que é naturalizado por uma cultura e por uma ideologia. Porque isso tudo é ideologia. Lembra que a gente tem mania de chamar ideologia só o que é dos outros, mas a gente está imerso numa ideologia. E todas essas ideologias acabam naturalizando desigualdades, naturalizando preconceitos, naturalizando discrepâncias de convívio e de conduta.
 
Acabam dificultando a transformação dessas condutas, porque tem o argumento de que isso é natural. Isso sempre foi assim. Sempre existiu ricos e pobres. Isso é natural. Não, não é natural. Isso é social, isso é cultural, isso é ideológico.
 
Se o ser humano é criado numa cultura machista, competitiva, desigual, ele vai naturalizar isso. Porque isso é a experiência que ele tem do mundo.
 
Um peixe que está no aquário, ele acha que o aquário é o mar. Ele não sabe que ele está num aquário, ele tem que pular para fora do aquário, ele tem que se arriscar a olhar e ver olha eu estou no aquário. Essa é a jogada difícil da conscientização política ou cultural ou de sair de uma cegueira de um racismo, de uma cegueira de privilégio.
 
Você tem que ver porque você está num aquário e sair do aquário é muito difícil.
 
O neoliberalismo é o nosso aquário. Dá um pulinho fora dele. Tem um mar tão lindo lá fora. Um mar de possibilidades para fora disso.
 
A gente precisa começar a enxergar para fora do aquário.

Notícias relacionadas

  1. Avatar
    Leonardo Leão says:

    Aquário
    Para Ana Roxo
    Leonardo Leão
    Com fim nado
    limite
    ou como
    brioches:
    sem início nada
    vinga
    ou bebo
    circos:
    humano,
    minha natureza
    é somos.
    Recife, 30 de abril de 2017

  2. Avatar

    Ana: muito legal a distinção entre “natural” e “naturalizado”. Legal, também, a figura do peixinho e do aquário. Talvez, fosse interessante explorar um pouco mais a ideia de que, no aquário, estão peixinhos vermelho-mortadela e peixinhos azuis-coxinha e que, portanto, TODOS seremos atingidos pelas medidas neoliberais.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *