América⠀Latina

Sobre patrões e peões

O ex-presidente da Argentina Eduardo Duhalde escreve um artigo sobre a relação entre a prisão de Lula e a geopolítica na América Latina.

A recente decisão da Justiça brasileira de proibir de ser candidato a Lula da Silva, o favorito dos brasileiros para as próximas eleições presidenciais, é demonstrativo do estado atual das coisas.

Com uma dinâmica sem precedentes na história, o cenário mundial mostra mudanças permanentes que nos obrigam a olhar mais do que nunca para a política externa.

Perón argumentou que a única política era, precisamente, a política externa, que em seu tempo condicionou – e o faz muito mais agora – a “política interna” das nações.

Nestes dias, em discussões sobre a necessidade argentina de uma política externa independente e, sobretudo, inteligente, e ao rever o confronto EUA-China pelo controle dos mercados latino-americanos, recordei um encontro com Henry Kissinger que ilustra o pensamento do conservadorismo estadunidense em relação aos nossos países.

O BRIC tinha acabado de ser formado, a aliança entre Brasil, Rússia, Índia e China (mais tarde se somaria a África do Sul) e os analistas viram nela a sombra da União Soviética, um bloco destinado a enfrentar os EUA em todos os campos.

Kissinger publicamente desprezou o BRIC. Não lhe deu nenhuma importância.

Mas fora das câmeras e microfones, sua atitude era diferente. Naquela reunião da qual me lembro agora, talvez o mais brilhante político do ultraconservadorismo dos EUA falou:

“O que os brasileiros pensam? Que eles podem fazer o que quiserem? Que eles podem se meter em política internacional quando bem entenderem? “

Palavras de um patrão que critica o comportamento de um peão.

É dessa forma também que se explicam as reações aparentemente irracionais do presidente Trump e a nova política de interferência do Departamento de Estado em assuntos internos dos países latino-americanos.

 

*Por Eduardo Duhalde, ex-presidente da Argentina

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