Cultura

Eu Não Sou Seu Negro

Irineu Perpetuo fala sobre o filme “Eu Não Sou Seu Negro”. A partir de um livro deixado inacabado pelo escritor James Baldwin, o cineasta Raoul Peck conta a história dos ativistas Medgar Evers, Malcom X e Martin Luther King.

Vou pedir licença para falar de um filme que não está mais em cartaz, que eu saiba, em lugar nenhum. Mas eu achei esse filme no Youtube, inteirinho, de graça e com legenda em português. O que não só me dá motivo para falar dele, mas também para você, que foi relapso como eu e inexplicavelmente deixou de ver na tela grande, poder conferir agora de novo. É um negócio muito impactante, para mim, pelo menos. Chama-se Eu Não Sou Seu Negro, do haitiano Raoul Peck.

Raoul Peck fez esse filme e depois ele fez O Jovem Karl Marx, uma ficção sobre a juventude do Marx que também está disponível no Youtube na íntegra e também com legenda em português. Aliás se você quiser ver os dois, fique à vontade. Esse filme do Marx também é interessante. Mas para mim o Eu Não Sou Seu Negro causou um impacto maior.

Esse filme tem como personagem central o escritor James Baldwin, americano, negro, gay. Quer dizer, o pessoal que tem ódio pelos direitos civis nem sabe por qual motivo começa a odiar mais o Baldwin.

Baldwin que tem alguns livros publicados no Brasil como o Quarto de Giovanni, como Terra Estranha. Ele deixou um livro incompleto chamado Remember this House, no qual ele investiga o assassinato de três ativistas negros nos Estados Unidos na década de 60: Medgar Evers, o Malcom X e o Martin Luther King.

A partir desse material deixado inacabado pelo Baldwin, Raoul Peck vai contando a história desses ativistas. Vai contando a relação do James Baldwin com eles. E também vai falando do James Baldwin, trazendo muitas imagens de arquivo, muitos debates e entrevistas com o Baldwin falando das questões sociais nos Estados Unidos da década de 60.

Se fosse só um documento das tensões raciais americanas de 50 anos atrás, esse filme já seria bastante interessante, bastante impactante. Mas o que deixa a gente animado ou triste, melancólico é o quanto aquilo que o Baldwin tinha que falar nos Estados Unidos da década de 60, permanece pertinente para a gente que está aqui nos dias de hoje.

Vou até te propor um exercício, você que é branco, homem, paulistano de classe média e se queixa de como está chato o mundo politicamente correto, esse mimimi vitimista de como está difícil ser branco nos dias de hoje. Dá uma olhadinha aqui nesse filme, o quanto você aguentar olhar, depois me conta se aquele mundo politicamente incorreto era mais legal e mais confortável de viver.

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No inferno do Carandiru, você tinha que ser lobo. Lobo mau.

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