Com raríssimas exceções, a imprensa brasileira tem ignorado solenemente um escândalo que há semanas ocupa as primeiras páginas dos jornais e os horários nobres da televisão francesa. Trata-se do misterioso “caso Benalla”, que o público já apelidou de “l’affair Benallagate” do presidente François Macron.
O estopim do escândalo foi aceso nas manifestações do dia 1º de maio, quando tropas de choque da polícia francesa saíram às ruas para fazer o que fazem nesses casos: reprimir com violência os manifestantes.
Um popular anônimo que filmava com seu celular a agitação nas ruas de Paris identificou um soldado fardado, de capacete policial e levando no braço esquerdo a insígnia que identificava a tropa: “Police”. O militar foi filmado em pelo menos duas cenas: quando agredia uma mulher indefesa e ao espancar e prender em uma “gravata” outro manifestante.
O dono do celular reviu as cenas em casa e concluiu: eu conheço esse cara. Levou as imagens ao jornal Le Monde, onde as dúvidas se dissiparam: tratava-se de um alto funcionário nomeado por Macron como seu sub-chefe de Gabinete, mas que exercia, na verdade, as funções de chefe da segurança pessoal do presidente. Isso sem que ninguém soubesse. Como ninguém sabia também que Benalla passara a morar em um apartamento exclusivo dentro do Palácio do Eliseu – residência oficial e gabinete do presidente.
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Alexandre Benalla, de capacete, espanca um manifestante nas manifestações de 1º de Maio.
Transformado em escândalo nacional, o “caso Benalla” levou o congresso francês a convocar para prestar esclarecimentos ninguém menos que Gérard Collomb, ministro do Interior – função que na França incluiu o comando geral de todas as polícias nacionais. O ministro respondeu a apenas uma pergunta, suficiente para empurrar a batata quente para o colo do presidente Macron:
– Não conhecia Alexandre Benalla. Pensava que era alguém que fazia parte da polícia. Nunca me encontrei com ele… Aliás, encontrei-me, mas não sabia que era conselheiro do Presidente da República. Não fui informado. Só mais tarde constatei que havia dois observadores presentes no local, onde entraram, aliás de forma bastante inoportuna, na sala de comando onde eu estava com o Chefe de polícia para acompanhar o seguimento das operações do 1º de maio.
Chamado a depor ao Congresso, o chefe de polícia de Paris, Michel Depuech, não melhorou a situação de Macron:
– Este caso, como diz a imprensa, não pode deixar de ter consequências para a Chefia de Polícia. Resulta, sobretudo, de uma derrapagem individual inaceitável e condenável, que tem como fundo um compadrio pouco saudável.“
O Benallagate de Macron não parece ter chegado ao fim. Partidos de direita e de esquerda apresentaram duas moções de censura exigindo explicações do governo de Emmanuel Macron sobre o misterioso caso do sub-chefe de Gabinete que na verdade era guarda-costas do presidente, com o excepcional privilégio de viver na mesma casa que Macron, o Palácio do Eliseu.
Políticos e jornais prometem novos vídeos que poderão, estes sim, levar Macron às cordas.
Mais Nocaute:
Crise migratória: “Nós estamos aqui porque vocês estavam lá”.
Após três meses do incêndio, moradores de prédio do Paiçandu continuam desabrigados
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Roberto Machado Cassucci Cassucci says:
CHIIIIIII!?!?!?
João de Paiva says:
Se o jornalista titular do blog tiver boas fontes em Paris, esse enigma Benalla pode ser decifrado. O sujeito parece ser mais do que um simples agente clandestino da guarda pessoal (guarda-costas) do presidente neoliberal-financista, Emmanuel Macron. Parece, de fato, haver muitos caroços nesse angu.
Agindo como um monarca absolutista, Emmanuel Macron confrontou o parlamento, propondo a redução do número de representantes. Os deputados franceses tiveram, então, de lançar mão dos trunfos que guardavam consigo; ante a ameaça, parlamentares da Esquerda e da Direita resolveram dar um “enquadro” no pupilo da finança internacional levado à presidência da França por um golpe eleitoral.
Aguardam-se cenas dos próximos capítulos