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O saldo da viagem de Trump à Europa é um jogo a longo prazo

A viagem de Trump pela Europa, que culminou com uma controversa coletiva de imprensa ao lado de Vladimir Putin, teve um saldo, para dizer o mínimo, interessante. Por um lado, Trump reafirmou o que já vem sendo conhecido como sua “doutrina” em política externa: polêmicas e grandes espetáculos midiáticos, que falam mais para seu público cativo nos Estados Unidos do que qualquer outra coisa. Por outro, Putin mostrou grande destreza diplomática.

Durante todo o tour, Trump pareceu querer deixar claro que rejeita premissas fundamentais da política externa estadunidense para Europa e Rússia, desafiando um consenso mais ou menos estável entre Republicanos e Democratas que se arrasta desde o fim da Guerra Fria.

E não se esquivou de criar polêmicas: repreendeu publicamente líderes europeus, criticou frontalmente os alemães, deu pitaco sobre o Brexit e afirmou que considera a União Europeia como seu “maior inimigo”. Sobrou até para o serviço de inteligência dos Estados Unidos, criticado pela condução das investigações sobre os e-mails de Hillary Clinton.

Assim como o encontro com Kim Jong-Un, tanto a Cúpula da OTAN quanto o encontro com Putin tiveram mais impacto midiático do que resultados práticos imediatos. Do ponto de vista dos estadunidenses, não houve barganha sobre a Ucrânia, não foi estabelecido nenhum compromisso de longo prazo sobre a Síria (apesar da declaração de intenções de ambos os lados) e Trump não convenceu seus pares europeus a aumentar sua fatia na divisão dos custos da OTAN. Putin, por sua vez, teve diversas oportunidades para retratar a Rússia como uma superpotência restaurada, ainda que não tenha conseguido nenhum acordo concreto nem sobre o acordo nuclear com o Irã, nem sobre a rescisão das sanções (os Republicanos, inclusive, já apontam para a possibilidade de mais uma rodada de medidas coercitivas unilaterais). Conseguiu, ainda, colocar sua versão dos fatos sobre o suposto envolvimento russo nas eleições de 2016.

Digno de nota, foi a de Putin reação ao ser perguntando se o governo Russo tinha algum “material comprometedor” contra Trump.

O encontro entre Putin e Trump tem, sem dúvida, potencial para ser um importante paradigma na construção de uma nova ordem global. Como apontou o jornalista Michael Klare, da The Nation, as discussões entre os dois líderes (que juntos detém mais de 90% do arsenal nuclear de todo o mundo) giraram principalmente em torno de como fazer com que o conturbado relacionamento entre Estados Unidos e Rússia passa de uma fase de hostilidade e fricção para uma fase de acomodação e colaboração. Ao que tudo indica, os dois líderes podem estar assentando os alicerces para um interessante jogo de longo prazo.

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