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Ariel Seleme, correspondente no Vietnã, fala de violência urbana.


Alô amigos do Nocaute;
quem fala é Ariel Seleme diretamente de Hanói, Vietnã, nessa nossa primeira participação como correspondente do Nocaute.
Nessa nossa primeira intervenção, vamos falar sobre um assunto que aflige o Brasil e traçar um paralelo com a experiência e a realidade de Hanói, sobre a questão da violência urbana.
Hanói tem a mesma população do Rio de Janeiro, são 7 milhões de habitantes. No ano passado, 2017, em Hanói, aconteceram apenas 3 homicídios e no Rio de Janeiro mais de 3.500.
A população de Hanói tem uma renda que vale a um terço da população do Rio. Ou seja, a renda média em Hanói é um terço da renda média no Rio de Janeiro.
O Vietnã é um país muito mais pobre que o Brasil, mas mesmo assim consegue manter um nível de violência muito baixo.
Então, a relação entre pobreza e violência não é uma relação direta.
Como Hanói consegue manter esse nível de violência tão baixo? Quais as lições poderiam ser dadas ao Brasil?
A primeira questão é que em Hanói se pratica o Budismo. O Budismo é uma religião por essência não violenta, ou seja, existe uma cultura da não violência relacionada a religião budista que se percebe no dia a dia, na convivência com as pessoas, no trânsito – estou aqui há mais de dois anos e nunca vi uma briga, nem uma discussão de trânsito. Então, existe uma cultura da não violência.

Ariel Seleme, correspondente

Cidade de Hanoi, no Vietnã


Outro aspecto importante, a sociedade é controlada. Estima-se que mais ou menos 500 mil pessoas em Hanói informam, constantemente, a polícia sobre as atividades que estão acontecendo na cidade.
O crime organizado não consegue se organizar porque as pessoas denunciam tudo o que está acontecendo de errado, tudo que parece ser ilegal, ilegítimo ou criminoso, é denunciado. O crime organizado não tem tempo de se organizar.
Eu brinco dizendo que é o maior disque-denúncia do mundo.
Mais um aspecto importante é o desarmamento total. Ninguém possui armas, nem a polícia as tem. Bandidos não têm armas, a população geral não tem acesso a armas. Não existem armas e nem lojas que vendem armas. O desarmamento é total.
O desarmamento é tão grande que no ano passado aconteceu algo engraçado. Uma pessoa tentou assaltar um banco, aqui em Hanói, com um martelo. Chegou até o banco com o martelo, ameaçou o caixa, que ficou tão assustado que deu um pouco de dinheiro para o indivíduo, que quando saiu logo foi preso.
Não existem armas.
Bancos também são interessante por aqui. Os bancos não têm portas giratória, não tem segurança, não tem nada. As pessoas entram com malas de dinheiro para fazer os seus depósitos, ou para sacar suas economias, e não ocorre violência nenhuma.
Outro aspecto que, ao meu ver, contribui para a não violência em Hanói é a existência da pena de morte para os crimes hediondos. Inclusive crimes ligados ao tráfico de drogas.
Nesse aspecto geral é possível explicar porque Hanói consegue ser tão menos violenta que o Rio de Janeiro. E olha que o ano passado foi um ano considerado violento por conta dessas três mortes. No ano de 2016 não houve um único assassinato aqui em Hanói.
Bom meus amigos, essa foi a minha primeira participação aqui no Nocaute, diretamente de Hanói. Vou estar aqui semanalmente trazendo informações do Vietnã e desse lado do mundo.
É longe, muito longe. Para vocês terem uma ideia, para ir daqui até o Brasil são 9 horas de voo até Dubai e depois mais 15 horas de voo até São Paulo. Ou seja, só dentro do avião são 24 horas.
Um abraço e até a próxima.

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  1. Avatar
    AFONSO GUEDES says:

    Ariel comete o erro tradicional de quem compara pobreza x criminalidade. Ariel , onde todo mundo é pobre não há violência. A violência ocorre onde há coexistência de riqueza, opulência e miséria. Esse é o caldo de cultura. Existe uma cidade no Piauí onde o último criem de morte tem mais de 40 anos. Lá todos são de uma pobreza franciscana.

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    MARIA LUIZA FRANCO BUSSE says:

    Ariel poderia ter abreviado a análise considerando que o regime comunista cria e fortalece o estado de pertencimento entre cidadão e Estado.
    Se o povo informa às forças de segurança sobre delitos e pretensões afins não é porque seja delator mas, sim, porque se sente responsável pela condução coletiva de um processo que garanta o bem estar físico e imaterial de todos.
    Não há duvida que o budismo colabora, mas a China não é budista e a criminalidade é quase zero justo porque há o sentido de segurança coletiva baseado na confiança entre cidadão e Estado.
    Em decorrência da confiança mantida pela certeza do compromisso do regime com as causas e populares e do forte poder bélico do Estado que garante a soberania nacional contra ataques externos, é que não há população armada.
    São reflexões preliminares provocadas pela feliz decisão do Nocaute de iniciar essa correspondência direto do Vietnã, em especial da Hanoi.

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    MARIA LUIZA FRANCO BUSSE says:

    Ariel poderia ter abreviado a análise considerando que o regime comunista cria e fortalece o estado de pertencimento entre cidadão e Estado.
    Se o povo informa às forças de segurança sobre delitos e pretensões afins não é porque seja delator mas, sim, porque se sente responsável pela condução coletiva de um processo que garanta o bem estar físico e imaterial de todos.
    Não há duvida que o budismo colabora, mas a China não é budista e a criminalidade é quase zero justo porque há o sentido de segurança coletiva baseado na confiança entre cidadão e Estado.
    Em decorrência da confiança mantida pela certeza do compromisso do regime com as causas e populares e do forte poder bélico do Estado que garante a soberania nacional contra ataques externos, é que não há população armada.
    São reflexões preliminares provocadas pela feliz decisão do Nocaute de iniciar essa correspondência direto do Vietnã, em especial da Hanoi.
    Maria Luiza Franco Busse

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    Tenho um colega chinês. Ele diz que na China, os policiais não usam armas. E que é constante, o cidadão se rebelar contra a polícia ou o policial, e “sair na porrada” com o policial, quando se sente agredido em seus direitos. Experimente aqui, se rebelar contra uma arbitrariedade de um PM,.O seu próximo endereço será o cemitério, com certeza!!!!

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    Cassius Catão Gomes Jardim says:

    Quanta alegria em ouvir o amigo Ariel Seleme!! Quanta satisfação em saber que el estará conosco semanalmente. Saber que ele está em Hanoi é algo significativo, pois foi em seu apartamento, nos anos 80 que vimos, pela primeira vez, o documentário “Corações e mentes”, durante ainda a ditadura e justamente sobre um povo que nos enchia de esperança. Parabéns, meu camarada, e saiba que estarei sempre atento aos seus depoimentos.
    Bareta.

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