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Um olhar sobre a Venezuela, em luta contra o gigante do Norte

Por André Neves Sampaio e Manuela Azenha, enviados especiais a Caracas
No dia 5 de março de 2013, quando Nicolás Maduro anunciou em rede nacional a morte do então presidente Hugo Rafael Chávez, a Venezuela passou a encarar o período mais conturbado da República Bolivariana.
Durante os treze anos frente ao comando do país, Chávez ressuscitou a identidade do povo venezuelano com a ideia de tornar a Venezuela uma pátria soberana. Tendo a seu favor uma América Latina progressista e a valorização do barril de petróleo, articulou acordos econômicos com países vizinhos, como Brasil, Argentina, Uruguai e também com os países caribenhos, e estabilizou a economia, além de investir em programas sociais dentro de seu país.
Chávez assumiu o governo em 1999 e foi reeleito três vezes. Por meio de suas políticas vinha consolidando um projeto socialista de sucesso na Venezuela. Mas sua morte precoce e a eleição de Nicolás Maduro em 2013 trouxeram à Venezuela novamente um período de incerteza. Os falcões dos EUA intensificaram as agressões econômicas.
Articularam um gigantesco locaute para gerar desabastecimento de alimentos e remédios, sanções econômicas, congelamento de bens da Venezuela nos EUA e punições a quem estabelecesse relações comerciais com Caracas. Se com Barack Obama a relação já era ruim, com Donald Trump as sanções se tornaram mais radicais.
Nas eleições realizadas no último domingo 20, Maduro foi reeleito com 67% dos votos em uma eleição democrática onde parte da oposição adotou como estratégia o boicote, já que seus principais líderes estão inabilitados.

Leopoldo Lopes está preso por incitar a violência. Em 2014 ele convocou um levante contra o governo e chamou seus partidários às ruas para derrubar o governo constitucional de maneira violenta. Incendiaram a sede do Ministério Público de Caracas, colocaram fogo em ônibus e escolas, o que causou a morte de dezenas de pessoas, e consequentemente, sua prisão domiciliar.
Já Henrique Capriles, candidato à Presidência em duas ocasiões, está inabilitado a ser candidato por 15 anos, por ter cometido um crime eleitoral ao receber dinheiro da Polônia e do Reino Unido para sua campanha a governador em 2016, o que é proibido de acordo com a constituição bolivariana.  
Henri Falcón, candidato de oposição à Presidência, foi o segundo colocado, conseguiu quase 2 milhões de votos e não reconheceu o resultado da eleição.
Os eleitores de Maduro enxergam o líder venezuelano como o sucessor e representante das ideias de Chávez, e dizem votar no atual presidente por um simples motivo: foi quem o “comandante eterno” indicou. De fato a Venezuela continua respirando princípios socialistas. Mesmo com a profunda crise econômica que o país atravessa, todas as quintas-feiras são entregues 300 apartamentos de moradia popular ao redor do país, pelo programa  “Gran Misión Vivienda Venezuela”. O programa “Misión Barrio Adentro” leva médicos para dentro dos bairros mais carentes de forma gratuita. E os “Comitês Locais de Abastecimento e Produção”, levam cestas básicas quinzenais à população dos bairros mais pobres.

Após a eleição do último domingo, países do recém-formado “Grupo de Lima”, como Brasil, Peru e Argentina, também aderiram à postura estadunidense  e buscam sufocar a Venezuela. Uma estratégia de guerra para tentar deslegitimar o governo eleito e reeleito de Maduro.
O governo bolivariano reage e tenta estreitar suas relações com países aliados, como Rússia, China, Índia e Turquia, para superar a crise. Além disso, tem como plano desenvolver a indústria nacional para depender cada vez menos de produtos importados. Também criou a moeda virtual “El Petro” para fortalecer a moeda local, que hoje sofre uma das maiores inflações do mundo.
A dúvida de agora é saber se o governo conseguirá suportar os ataques estadunidenses, em conchavo com países latino-americanos e a União Europeia. Os eleitores de Chávez e Maduro continuam fiéis e afirmam estar dispostos a pegar em armas para manter a soberania conquistada nos últimos anos pelo povo venezuelano. Por outro lado, o eleitorado  da oposição apoia uma possível intervenção dos EUA para “ajeitar” o país.
É impossível cravar o futuro de um país dividido. O que se sabe é que Nicolás Maduro irá até onde puder para manter a soberania do povo venezuelano. Maduro expulsou diplomatas americanos de Caracas no dia de sua diplomação e acenou ao mundo que está pronto para comprar a briga com os EUA até a última instância.
O fluxo migratório de venezuelanos para países vizinhos comprova que a estratégia americana está surtindo efeito. Devido ao sufoco econômico causado pelas sanções, venezuelanos preferem sair do país.
A ameaça americana a democracias na América Latina não é nenhuma novidade. O império tenta impedir qualquer avanço de países que ousam contestar o modelo político e econômico imposto pelos Estados Unidos – principalmente a Venezuela, que está em cima de uma das maiores reservas de petróleo do mundo e situada no Caribe, passagem dos EUA de um oceano a outro.
Agora a Venezuela lutará contra os Estados Unidos com todas suas forças por um direito estabelecido pela ONU, que é a “Autodeterminação dos Povos”. A Venezuela tem seus problemas internos assim como qualquer outro país, e sendo assim, é capaz de resolver a própria conjuntura política e econômica sem a interferência de outra nação.

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