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A quem interessa que Porto Rico seja uma colônia?


Para além da tragédia humana (ainda há um saldo não-contabilizado de pessoas que faleceram pela ineficiência do governo em suprir os hospitais com diesel para os geradores e centenas de milhares de pessoas que estão sem energia elétrica ou acesso a água e alimentos por tempo indeterminado), a tempestade também varreu aproximadamente 80% da produção agrícola do país e destruiu cidades inteiras, adicionando mais 30 bilhões de dólares à já exorbitante dívida de mais de 120 bilhões de dólares que assola Porto Rico. Só para colocar em perspectiva, a cidade de Detroit declarou falência pública (e foi beneficiada com uma série de medidas para reconstruir sua economia) quando sua dívida atingiu os 18 bilhões de dólares. E porque Porto Rico não faz o mesmo? Porque o país é uma colônia dos Estados Unidos, e, como tal, não tem a autonomia necessária para implementar sua própria política econômica.
Porto Rico é um território dos Estados Unidos desde 1898. Ao passar da Espanha para os Estados Unidos, a ilha perdeu todas as instituições de autogoverno que haviam sido conquistadas ao longo de mais de quatro séculos de domínio colonial espanhol. Em 1901, a Suprema Corte dos Estados Unidos determinou que Porto Rico seria efetivamente um território que pertence aos Estados Unidos, mas que não faz parte dos Estados Unidos. Os porto-riquenhos não puderem eleger seus próprios representantes até 1948, e até hoje os residentes da ilha não podem votar para presidente – apesar de terem cidadania americana desde 1917. Além disso, a ilha está sujeita, desde 1920, a uma lei que institui um sistema de cabotagem – veja bem, um sistema de cabotagem, em pleno século XX – que faz com que o custo de vida na ilha seja quase o dobro do continente, embora a renda per capita em Porto Rico seja inferior à do Mississippi, o estado mais pobre dos Estados Unidos. Por anos, a ilha foi um paraíso para os mercados especulativos, criando uma crise econômica que tem levado, entre outros, a uma epidemia de migrações involuntárias e ao colapso dos sistemas de educação e saúde.
A resposta do governo dos Estados Unidos às tragédias que assolam o país é uma cruel lembrança da condição colonial de Porto Rico e das mais de 60 colônias que ainda existem em todo o mundo em pleno século XXI. Esperar que Porto Rico se reconstrua desse desastre natural e, ao mesmo tempo, resgate os credores de Wall Street é condenar seus moradores a um estado permanente de desolação e empobrecimento. Parafraseando Marx, é nas colônias que a profunda hipocrisia e a barbárie inerentes ao capitalismo ficam nuas.

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  1. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    Esta condição presente de Porto Rico não interessa a ninguém. 1) A sua população já votou a favor de se integrarem aos EUA como estado pleno, o 51º, 2) Isto dará automaticamente aos porto-riquenhos o direito de ter represdentantes da Câmara e no Senado, bem como o de votar nas eleições presidenciais; 3) Isto também dá azo a que se repila a obrigação de que as entregas de importações e remessas de exportações por via marítima tenham que ser feitas pela frota mercante norte-americana, uma das mais caras do mundo, o que baixará substancialmente o custo de vida; 4) Dará acesso a programas e condições de recuperação econômica em termos mais favoráveis; e 5) Ajudará a impir medidas de austeridade fiscal para quer não se repitam os desastres causados pelo governbo de Ricardo Rosselló, que agravaram ainda mais a crise pela qual a ilha já passava is. O que é preciso agora é que o Congresso dos EUA reconheça este desejo do povo porto-riquenho e expeça a sua integração plena.

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