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Rajoy, exemplo para Temer, depõe no maior caso de corrupção da Espanha


Víctor David López
 
Olá, bem-vindas e bem-vindos ao Nocaute na Espanha.
 
A democracia espanhola, a partir da morte do ditador Franco, já teve seis presidentes: Adolfo Suárez, Leopoldo Calvo Sotelo, Felipe González, José María Aznar, José Luis Rodríguez Zapatero e, desde o final de 2011, o Mariano Rajoy. Nenhum deles esteve tão perto da corrupção como o Rajoy, o modelo, o exemplo para o Michel Temer, que foi o primeiro presidente europeu –e segundo presidente mundial, depois do Macri– em visitar o Brasil após o golpe institucional.
 
O Mariano Rajoy foi depor hoje como testemunha no Caso Gürtel, o esquema de corrupção com propinas e financiamento ilegal do Partido Popular, com uma rede empresarial que comprava funcionários do partido em troca de contratos públicos. O Partido Popular está acusado como partícipe a título lucrativo. O Caso Gürtel é imenso, o esquema funcionou em vários estados do país, durante mais de uma década a partir dos anos noventa, mas a investigação que incluía o depoimento de hoje está limitada ao período de 1999 a 2005 e a corrupção em dois municípios de Madri, quando o atual primeiro ministro espanhol foi vice-secretário geral, secretário geral e presidente do partido. O Rajoy está na direção do Partido Popular há 27 anos.
 
Os principais protagonistas do esquema, até o momento, são os ex-tesoureiros do Partido Popular, Luis Bárcenas e Álvaro Lapuerta, e três dos articuladores das propinas: Francisco Correa, Álvaro Pérez e Pablo Crespo. A relação do Rajoy com o tesoureiro Bárcenas, que chegou a acumular mais de quarenta milhões de euros em contas na Suíça e confirmou a existência de um caixa dois no partido, sempre foi boa, quase familiar, inclusive com torpedos de apoio nos piores momentos, meses antes de ele entrar na cadeia em 2013. Então, a credibilidade do Rajoy está absolutamente desgastada.
 
Em depoimento, o primeiro ministro Rajoy driblou as complicadas perguntas informando que ele não tinha responsabilidades financeiras, unicamente políticas. Afirmou também não conhecer pessoalmente o líder do esquema, Francisco Correa, embora, foi o próprio Rajoy quem ordenou não continuar trabalhando com as empresas envolvidas, segundo suas próprias declarações. Conhecia os outros dois líderes do esquema, o Crespo e o Pérez. O Rajoy, como vem fazendo nos últimos anos, negou o caixa dois do Partido Popular e as propinas. O que se destacou no julgamento foram as perguntas bloqueadas pelo presidente do Tribunal sobre o envolvimento direto do Rajoy nessas propinas. Um assunto que não está incluso nessa parte da investigação.
 
O mais grave foi escutar o primeiro ministro reconhecer que, depois de ordenar não continuar trabalhando com o esquema corrupto de empresários, ele não controlou a execução daquela ordem. O Rajoy diz não saber até quando o Partido Popular contratou as empresas do esquema de corrupção. Essa irresponsabilidade e a relação com o ex-tesoureiro Luis Bárcenas –o nome do Rajoy aparece também nos papéis do caixa dois– seriam mais que suficientes para forçar a demissão do primeiro ministro Rajoy. Mas é muito complicado acreditar que isso possa acontecer na Espanha.
 
Tudo forma parte da mentalidade da direita espanhola, essa que é modelo da direita brasileira. O único alvo é o dinheiro: o pacote inclui, por exemplo, anistia fiscal que perdoava as empresas que não pagaram impostos, a reforma trabalhista em que o trabalhador é ainda mais explorado, e a naturalização da corrupção. É verdade, o Mariano Rajoy é o modelo perfeito do Michel Temer. A sua única luta é pela manutenção e melhoria dos privilégios das classes altas. Está tudo explicado em um dos torpedos do Rajoy ao ex-tesoureiro Luis Bárcenas antes de entrar na cadeia: “Luis, nada é fácil, mas a gente faz o que pode”.

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