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Quem é Leopoldo López, o homem que quer ser presidente da Venezuela

*Por Daniella Cambaúva
Venezuela, janeiro de 2014. Nove meses depois das eleições em que o presidente Nicolás Maduro venceu nas urnas o então candidato Henrique Capriles, grupos de oposição iniciaram uma jornada de protestos violentos a qual deram o nome “La Salida” (A saída, exigindo a renúncia de Maduro e de seu gabinete).
Violento não é um mero adjetivo governista para tentar deslegitimar a oposição. Segundo informações dos hospitais, 43 pessoas morreram e pelo menos 800 ficaram feridas em consequência das guarimbas – manifestações em que estradas, ruas e avenidas são fechadas com barricadas formadas por fogo em pneus, em pedaços de madeira ou em lixo.
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O problema é que, dali, os manifestantes atiram coquetéis molotov e bombas de gás lacrimogêneo, atirando em que tenta abrir o bloqueio. Nos meses de janeiro e fevereiro daquele ano, também colocaram fogo em hospitais, clínicas médicas, centros de distribuição de comida e em faculdades. No auge da violência, a oposição recorreu a franco-atiradores.
Em alguns lugares, colocaram um arame farpado no meio da rua, na altura do pescoço de quem passa de moto. Uma das vítimas deste tipo de armadilha foi Santiago Enrique Pedroza, de 29 anos, venezuelano que passava de moto e foi degolado por um arame estendido em uma avenida de Caracas. As vítimas foram oficialistas, oposicionistas e funcionários da Guarda Nacional Bolivariana.

Leopoldo López durante a jornada “La Salida”


Uma das lideranças dessa jornada de guarimbas foi Leopoldo López, 46 anos. Por isso, foi condenado a 13 anos, nove meses e sete dias de prisão em setembro de 2015.
Cumpria pena em regime fechado até o dia 8 de julho, quando a Justiça da Venezuela determinou o cumprimento da pena em casa por estar com problemas de saúde.
Uma de suas tias já declarou à imprensa que ele passa bem.
Acompanhado por diversas emissoras de televisão e com direito a transmissão ao vivo, López saiu da prisão Ramo Verde e concedeu entrevista coletiva antes de ir para casa. Oposicionistas esperavam por ele, e alguns gritavam “é o próximo presidente da Venezuela, doa a quem doer”.
López nunca negou as acusações, mas considera as condenações injustas. Argumenta que os episódios violentos são necessários para desestabilizar o governo no cenário de crise econômica que a Venezuela enfrenta. Ele se entregou voluntariamente às autoridades em 18 de fevereiro de 2014.

Leopoldo, na porta de casa, saudando seus apoiadores (Foto: Instagram/Lilian Tintori)


Desde que terminou sua formação nos Estados Unidos, destaca-se enquanto liderança de oposição ao governo.
Graduado em economia, fez uma pós-graduação em Políticas Públicas na Kennedy School of Government da Universidade de Harvard, conhecida por ser uma escolar conservadora, motivo por que alguns o acusam de ser agente da CIA.
Em 2002, López estava na marcha da oposição que tentou dar o mal sucedido golpe de Estado no presidente Hugo Chávez (1999-2013). Sua tarefa foi sequestrar o então ministro de Interior e Justiça, Ramón Rodríguez Chacín. Foi processado, mas nunca foi preso e foi anistiado em 2007 por Chávez.
López também tem uma trajetória institucional. Eleito para dois mandatos consecutivos, foi prefeito de Chacao (2000-2008), um dos cinco municípios que conformam a região metropolitana de Caracas.
Começou sua carreira política filiado ao Primero Justicia, partido que ajudou a fundar, cuja liderança mais expressiva atualmente é Henrique Capriles. Depois ajudou a fundar o Voluntad Popular em 2009, do qual é considerado presidente de honra.
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Nas eleições parlamentares de dezembro de 2015, o Voluntad Popular participou da aliança da MUD (Mesa de Unidade Democrática), que obteve 112 cadeiras entre as 167 que compõem a Assembleia Nacional.
A família López é influente nos setores conservadores da Venezuela. Seu avô e seu tio foram ministros em governos anteriores a Chávez e seu pai é diretor do El Nacional, um dos jornais mais lidos do país, de oposição ao chavismo.
O rosto público de López desde que foi preso é sua mulher, Lilian Tintori, 39 anos. Com atividade diária no Facebook, no Twitter e no Instagram, mostra os filhos, de oito e quatro anos, e defende a aprovação de uma lei que anistie o marido.
Em suas publicações, Lilian, que é campeã nacional de kitesurf e graduada em comunicação política, fala que Leopoldo era torturado na prisão. Chegou a publicar uma notícia falsa de que ele havia sido assassinado pelo governo.

Lilian é uma das oposicionistas mais entrevistados pela imprensa na Venezuela, apesar de ela afirmar que o país vive uma ditadura


Em campanha, Lilian viajou ao Chile, ao Panamá e ao Brasil, onde foi recebida por senadores da base de Michel Temer, como Aécio Neves (PSDB-MG).
Na Argentina, foi recebida pelo presidente Mauricio Macri em 2015 no comitê de campanha no momento em que foi anunciada sua vitória nas urnas.
Com López preso em casa, a expectativa é que Lilian continue sendo sua porta-voz, já que uma de condições é a proibição de fazer declarações públicas.
O Voluntad Popular já publicou seus planos para 2017. Na Assembleia Nacional, articular uma forte oposição a Maduro e conseguir, nas ruas, pressão suficiente para que ele saia da presidência.

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  1. Avatar

    Este López é um reles agente da CIA, como o “juiz” da nossa Farsa a Jato. O negócio deles é golpear os regimes democráticos através de falsas ONG’s que recebem milhões de dólares do EUA para promover uma guerra civil até destruir completamente a democracia no país. É o que fizeram em Honduras, no Paraguai, na Ucrânia e estão fazendo no Brasil.

  2. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    A técnica do cidadão parece ser meio violenta mesmo. Só que ela, pela descrição, em tudo se assemelha aos atos de vandalismo que Boulos e seus amigos do MTST/Povo sem Medo perpetram, só que eles são chamados de progressistas em vez de fascistas. Pergunto apenas o porquê de tal discrepância…

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