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O papelão do Brasil na OEA: golpismo tipo exportação


 
Por Aline Piva
Nessa última semana foi realizada mais uma Assembleia Geral da OEA, e dois fatos foram muito notórios nessa reunião. Em primeiro lugar, as mudanças na delegação estadunidense. Até então, essa delegação vinha sendo liderada por diplomatas de carreira do Departamento de Estado, que emprestavam um baixo perfil à atuação dos Estados Unidos na busca por sanções contra a Venezuela na OEA. Agora, foi o próprio subsecretário de Estado, John Sullivan, o porta-voz das demandas dos Estados Unidos. Ainda que suas declarações não tenham sido muito impactantes, Sullivan fez questão de salientar que os Estados Unidos apoiam as manobras no âmbito da OEA. Mas, mais uma vez, a Venezuela sai vitoriosa: assim como a última reunião aqui em Washington, foi impossível chegar a um consenso, e as duas resoluções que estavam em discussão sobre o país tiveram que ser tiradas da mesa de negociação.
Mas digno de nota mesmo foi a vergonhosa atuação do Brasil. Para criticar a Venezuela, o embaixador Marcos Galvão, número dois de Aloysio Nunes no Itamaraty, fez um discurso absolutamente desconectado com a realidade do Brasil.
É preocupante ver não só que o Brasil está sendo representado nesses foros multilaterais por um governo que não tem legitimidade democrática, mas também que as posições que estão tomando em nome do país vão além das tendências majoritárias da região para se colocar ainda mais no campo ultraconservador. O Itamaraty volta a replicar sua ação dos tempos da ditadura militar: fecha os olhos às atrocidades cometidas dentro do país, e usa esses espaços internacionais para legitimar o governo golpista de Michel Temer. O Brasil já não fala mais pelos interesses do país ou dos povos da América Latina. O Brasil agora volta a ser um mero porta-voz dos interesses dos Estados Unidos na região.
Para além da legitimação desse governo de facto, um cenário ainda mais preocupante começa a se desenhar: os efeitos de longo prazo da atuação dos golpistas no cenário internacional, não só no sentido de avançar políticas prejudiciais aos interesses nacionais e que afetam frontalmente o direito de autodeterminação dos povos – como é o caso do convite aos Estados Unidos para participar de exercícios militares na Amazônia ou do golpismo que querem exportar à Venezuela –, mas também ocupando importantes cargos internacionais com pessoas que cerraram fileiras com o governo ilegítimo, como é o caso da Flávia Piovesan na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Mesmo que a democracia seja restaurada em 2018, os golpistas vão deixar políticas para a posteridade. Quantos posicionamentos, quantos acordos, poderia esse governo fazer com essa legitimidade questionável? Que não seja preciso décadas para que cada um dos envolvidos nesse desserviço ao país sejam responsabilizados por seus atos – inclusive os pseudoburocratas do Itamaraty.
Veja aqui o discurso do diplomata brasileiro, e a excelente resposta de Samuel Moncada, atual ministro de Relações Exteriores da Venezuela.

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  1. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    Já passei a considerar o humor como a especialidade desta articulista já que, nesta profundíssima análise, ela menciona 1) Uma “ausência de consenso” como sendo mais uma vitória da Venezuela, esquecendo-se de que isto apenas aumenta a descredibilização do governo Maduro no exterior e a agonia do povo venezuelano noi seu país, bastando, para tal, consultar a media internacional séria. 2) “Políticas prejudiciais aos interesses nacionais e que afetam frontalmente o direito de autodeterminação dos povos – como é o caso do convite aos Estados Unidos para participar de exercícios militares na Amazônia”, esquecendo-se, com certeza, de que um CONVITE, por definição, é o oposto da imposição e que, por conseguinte, de qualquer “perda de autodeterminação”. 3) Que o govermo brasileiro ocupa “importantes cargos internacionais com pessoas que cerraram fileiras com o governo ilegítimo, como é o caso da Flávia Piovesan na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.”, esquecendo-se de que Flávia, além da sua inegável atuação na área, tem doutorado na matéria, é professora da PUC-SP e da PUC-PR, professora de pós-graduação das universidades Pablo de Olavide, em Sevilha, e de Buenos Aires e, sobretudo, foi ELEITA por tres anos para o cargo, juntamente com o mexicano Joel Hernandez Garcia e a chilena Antonia Urrejola Noguera. Realmente, Aline Piva é impagável – sempre.

  2. Avatar

    Ainda bem que o representante da Venezuela respondeu à altura .pena que ele não completou dizendo que era um governo de “honoráveis bandidos”. “Palmeiro doria”

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