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Morre Miguel D'Escoto, padre, sandinista e ex-presidente da Assembleia da ONU

Foto: Cubadebate


Aos 87 anos, o ex-chanceler da Nicarágua, ex-presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas e padre católico, Miguel D’Escoto Brockmann, faleceu nesta quinta-feira (8/7) em Managua.
Miguel d’Escoto nasceu em Los Angeles, Califórnia, em 1933, mas foi naturalizado nicaraguense. Em 1947, foi aos Estados Unidos para estudar, voltou à Nicarágua em 1947 e, em 1962, aos 29 anos, tornou-se padre.
Aproximou-se da teologia da libertação durante os anos 1960. A partir de 1975 se uniu aos sandinistas até, em 1977, declarar publicamente seu apoio à Frente Sandinista – desde 1979 a Nicarágua vivia sob a ditadura de Anastasio Somoza Debayle.
Em julho de 1979, com a Revolução Sandinista, D’Escoto assumiu o Ministério das Relações Exteriores da Nicarágua e permaneceu neste cargo durante dez anos.
Na década de 1980, desempenhou um papel decisivo nos processos de paz da América Central. Sua trajetória católica foi marcada por uma suspensión a divinis que durou 30 anos e o proibia, entre outras coisas, de rezar missa. A proibição foi declarada pelo papa João Paulo II em 1984.
O que desagradou o Vaticano foi o episódio em que D’Escoto apresentou à Corte Internacional de Justiça uma queixa contra os Estados Unidos por apoiarem atividades militares e paramilitares contra a Nicarágua. A decisão do tribunal foi favorável aos nicaraguenses. Em agosto de 2014, o papa Francisco anulou a suspensão. No mês seguinte, D’Escoto celebrou um missa.
Em março de 1973, quando viajou a Managua, João Paulo II já havia repreendido o governo nicaraguense publicamente em um episódio que ficou famoso internacionalmente.
Uma comitiva do governo estava no aeroporto esperar pelo Papa – entre eles, D’Escoto e outro sacerdote, Ernesto Cardenal, então ministro da Cultura.
Depois do discurso de boas vindas, o presidente Daniel Ortega acompanhava João Paulo na saudação oficial aos membros do governo. Diante do Papa, Ernesto Cardenal tirou sua boina e se ajoelhou. João Paulo respondeu ao gesto com a mão direta em riste, afirmando: “Regularize sua posição com a Igreja! Regularize a sua posição com a Igreja!”. Clique aqui para assistir.
Miguel D’escopo foi aliado da Revolução Cubana e do governo chavista na Venezuela. Foi ativista pela libertação dos cinco agentes cubanos de contra inteligência presos pelos Estados Unidos.
Apoiou a greve de fome do presidente da Bolívia, Evo Morales, em 2009, para pressionar o Congresso Nacional pela aprovação do calendário eleitoral.

Foto: Cubadebate


Foi presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas entre 2008 e 2009, sendo um defensor de uma refundação da Organização das Nações Unidas (ONU): “Estou mais convencido do que nunca de que o mundo precisa de uma verdadeira ONU, que uma a todos os povos e governos do mundo em defesa do direito à vida e de todos os outros direitos inalienáveis dos seres humanos individualmente e da humanidade em seu conjunto (…) o que temos agora enquanto Nações Unidas é uma fraude, uma farsa”.
Naquele período, também se manifestou publicamente contra Israel pelos ataques à Faixa de Gaza em 2009: “Os ataques contra Gaza continuam sem cessar. Gaza está em chamas e se transformou em um verdadeiro inferno”, declarou D’Escoto, na abertura de uma reunião de emergência da Assembleia Geral para debater a grave situação no território palestino.
Em 2015, quando o então presidente norte-americano Barack Obama declarou ser a Venezuela um perigo para o continente, Miguel D’Escoto liderou um manifesto público junto do teólogo Leonardo Boff e dom Pedro Casaldáliga. “O que aconteceu com aquele valente e inteligente Obama que, em 2008, e durante sua campanha presidencial, falou de mudança, mudança de verdade, na qual as pessoas podiam acreditar?”, constava na carta aberta.
Quando morreu Fidel Castro, padre Miguel declarou: “Fidel é um presente de Deus para nos ajudar a despertar. Eu sempre o chamava de Profeta Maior da nossa grande pátria indolatinoamericana e agrocaribenha. Fidel foi o Profeta Maior na América Latina e no Caribe”.
A vice-presidente da Nicarágua, Rosario Murillo, lamentou a morte e disse que a notícia poderia ser triste, mas trata-se da morte de uma pessoa que fortalece, “um irmão, que nunca foi triste, que combateu com o povo, pelo povo, junto ao povo, por todas as causas justas, cheio de alegria, de esperança”.

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