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Morreu François Houtart, padre, sociólogo e marxista

Faleceu hoje em Quito, Equador, François Houtart, aos 92 anos. Teólogo, sociólogo e marxista, ficou conhecido como o “Papa da antiglobalização”.
François Houtart nasceu em Bruxelas, Bélgica, em 1925, onde passou pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Em 1949, tornou-se padre. Logo depois, vinculou-se a movimentos sociais ou de defesa de justiça social de diversos países.
A partir de 1953, estreitou laços com os revolucionários cubanos. “Depois de 1959, fui à ilha mais de cinquenta vezes, encontrando-me com Fidel em dez ocasiões”, contou. Engajou-se também pela paz no Vietnã.
Houtart foi o responsável por sistematizar e apresentar a proposta da América Latina no Concílio Vaticano II, por nomeação do ex-presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), Dom Hélder Câmara.
Doutor em Sociologia pela Universidade Católica de Louvain, publicou mais de 70 livros.
Em Quito, era professor no Instituto de Altos Estudos Nacionais e na Universidade Central do Equador.
Teve, a partir dos anos 2000, uma postura crítica diante dos governos progressistas da América Latina – “dominadas ainda pela lógica do capitalismo”. Questionava sobre o futuro dos governos progressistas, qual seria o fim deste ciclo, a crise e a decadência do capitalismo e defendia a necessidade de abrir novos caminhos.
Para Houtart, o “Brasil foi tímido frente aos projetos de integração latina”.
“A ideia fundamental é de que a crise é uma coisa comum e parte da lógica do sistema capitalista. Temos uma lógica de acumulação do capital que cobre toda a realidade econômica sem pensar nas consequências ambientais, sociais etc., porque são consideradas como externalidades, e não é o capital que paga por esses danos”, declarou, em 2016, ao jornal Brasil de Fato, quando esteve no Brasil pela última vez.

Houtart em sua última visita ao Brasil (Foto: Foto Lizely Borges/MST)


Houtart se posicionou sobre diversos temas. Como, por exemplo, o primeiro Papa latino-americano: “O cardeal tomou posição a favor do golpe militar, e é odiado pelos movimentos sociais. Ele é um homem da oligarquia tradicional, apesar de um discurso muito progressista e anticapitalista, suas práticas internas são problemáticas. Ele ser o eixo fundamental da reforma da igreja é um problema”.
“Fidel sempre foi implacável com aqueles que, de dentro ou fora, colocavam em perigo o processo revolucionário. Ou seja, o projeto de uma sociedade mais justa, o reconhecimento político do direito de todos à vida, à saúde, à educação, à cultura, ao esporte; à transformação dos valores sociais para uma solidariedade real oposta ao individualismo e à tentação do consumo”, escreveu Houtart, em 19 de janeiro de 2017, por ocasião da morte de Fidel Castro.
Em 2010, ano em que era candidato ao Nobel da Paz, Houtart admitiu ter abusado sexualmente de um menino, seu primo, na década de 1970.
Segundo um sociólogo equatoriano, Napoleón Saltos, “na mesma semana, podia estar no Vietnã, depois na Síria para tentar um acordo de paz. Depois, na América Latina, podia passar pelas mesas de diálogo das FARC, falar com o PT sobre a crise no Brasil. Uma conferência na Argentina, um curso na Escola de Formação dos Sem Terra, em uma reunião em Havana”.
Segundo a nota de pesar do MST, François Houtart era um “expoente de um seleto grupo de intelectuais comprometidos nas lutas contra a opressão, contra as injustiças e pela libertação dos povos, nos cinco continentes do planeta”.
Seu último artigo, “A Venezuela de hoje e de amanhã”, foi publicado no Nocaute em 29 de maio de 2017. Clique aqui para ler.

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