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Fiasco na OEA: reunião extraordinária de chanceleres termina sem consenso

A tão esperada reunião de chanceleres, que supostamente iria estabelecer ações concretas da OEA contra a Venezuela, acabou em fiasco: os países membros não conseguiram chegar a um consenso, e a reunião teve que ser suspensa, sem que nenhuma resolução fosse adotada.

Dois fatos saltam aos olhos: primeiro, o posicionamento coerente dos membros da ALBA e CARICOM. Apesar das críticas, o Caribe, como bloco, não se deixou atropelar pela direita do continente, rejeitando veementemente a resolução encabeçada por países como Estados Unidos, Canadá, Peru e Brasil – resolução essa que pretendia se imiscuir nos assuntos internos da Venezuela, fazendo um chamado, entre outros temas, à suspensão da Assembleia Constituinte.
Segundo, o discurso do golpista Aloysio Nunes no plenário da Organização. Em sua fala, além do tom descaradamente ingerencista, o golpista ainda fez afirmações como a “democracia não é um luxo, é um bem essencial” e a “autodeterminação e soberania resultam da possibilidade do povo falar livremente, em eleições livres”. Muito convenientemente, deixou de fora de sua fala o golpe pelo qual ele e seu grupelho chegaram ao poder, a repressão contra manifestantes em Brasília, os assassinatos de indígenas e trabalhadores rurais nos rincões do Brasil – enfim, a longa lista de atrocidades que vêm sendo cometidas pelos golpistas (ou mesmo a hipocrisia de um representante ilegítimo de um governo ilegítimo estar atacando frontalmente um governo legítimo, eleito democraticamente pelo voto popular).

 
Com a suspensão da reunião sem consenso, os países-membros consideraram que o tema está em aberto, ou seja, seguirão debatendo e negociando as estratégias de ataque à Venezuela até a próxima Assembleia Geral da OEA, a ser realizada em Cancun agora em junho.
 
Enquanto os chanceleres se reuniam, grupos de oposição e movimentos sociais e de solidariedade se manifestavam em frente à OEA. Veja o vídeo:

“Guarimba, golpista, e terrorista!”
Sarah Sloan (ANSWER Coalition) Nós estamos aqui hoje, do lado de fora da OEA, enquanto os ministros de Relações Exteriores estão reunidos para discutir a Venezuela e para aprofundar a agenda intervencionista, para dizer que o povo dos Estados Unidos estamos com o governo venezuelano, com a Revolução Bolivariana e queremos que a OEA – que nós sabemos, está trabalhando em nome do governo dos Estados Unidos – fora da Venezuela, e que pare de interferir nos assuntos da Venezuela e de atentar contra o governo democraticamente eleito e legítimo do presidente Maduro.
Brian Becker (ANSWER Coalition)  Meu nome é Brian Becker, eu sou o diretor do ANSWER Coalition aqui em Washington, DC. Nós estamos em frente à Organização dos Estados Americanos – nós, o povo americano -, em solidariedade com o presidente Maduro, em solidariedade com a classe operária venezuelana e com os pobres, para dizer à OEA e para a América que a Venezuela e a Venezuela sozinha deve determinar seu próprio destino, de acordo com sua própria Constituição. Então nós estamos aqui protestando o reunião com Almagro, nós estamos aqui para dizer para o povo venezuelano que nós somos seus amigos, nós apoiamos a Revolução Bolivariana, e nós sabemos que ela pode ser bem sucedida, apesar de todas as pressões do imperialismo americano.
Basma Gregg  (Workers World Party) Nós definitivamente acreditamos que se os Estados Unidos e a OEA se envolverem na Venezuela isso pode ter um impacto negativo no povo venezuelano. Eles não querem nada a não ser dinheiro do povo, eles não querem nada além de tomar controle de seu petróleo, eles não têm nenhuma preocupação com o povo pobre, com a classe trabalhadora na Venezuela.
Cherryl Labash (Comitê Internacional de Solidariedade com Cuba) – Eu estou aqui, em frente à OEA hoje para dizer que Almagro e a OEA e os Estados Unidos não têm direito de intervir nos processos internos da Venezuela. Isso tem sido uma mudança forçada de regime pura e simples, financiada pelas companhias de petróleo dos Estados Unidos. Nós temos que nos solidarizar com Maduro e com todo o povo venezuelano que foi tirado da miséria por Chávez. Então é por isso que eu estou aqui hoje. Eu penso que é importante defender Venezuela.
William Camacaro (Círculo Bolivariano Alberto Lovera, NY)
Estamos aqui também para mostrar nosso repúdio a Almagro – e devemos denunciar que ele não representa ninguém. A única coisa que representa Almagro são os interesses norte-americanos no Departamento de Estado e a indústria armamentista desse país. Isso é o que representa Almagro.
Frederick Mills (professor, Bowie University)
A intervenção do bloco do Almagro na OEA, apoiado pelo Departamento de Estado, deu basicamente o sinal verde para os setores mais extremos da direita na Venezuela. E é por isso que vemos terrorismo de direita na Venezuela, resultando no linchamento e outros ataques contra Venezuelanos. Então isso é sobre estar a favor do diálogo, e contra a intervenção na Venezuela.
William Camacaro (Círculo Bolivariano Alberto Lovera, NY)
O senhor Almagro é muito seletivo. Ele é muito seletivo. Há uma série de lugares nesse continente onde há violações de direitos humanos reais e o senhor Almagro não se pronuncia. Se pronuncia contra Venezuela, e não se pronuncia contra esses outros porque, simplesmente, ele está defendendo os interesses do Departamento de Estado e do Pentágono na região.
“Guarimba, golpista, e terrorista!”
 

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  1. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    Desculpem, mas a articulista acaba de dar nova prova da sua monumental incompetência ou irremediável desvio jornalístico ao não mencionar – no tal “fiasco” – o fato da Venezuela ter-se inscrito para participar desta mesma reunião e ter confirmado que irá à Assembleia Geral da OEA no fim do mês, no México. Também não mencionou a fala de Almagro, onde afirma que “Vocês sabem como é a lógica das ditaduras, nunca aceitam até que em um momento tenham que aceitar. Essa tem sido a lógica das ditaduras do sul, em todos este tempo, nos 70 e nos 80, resistiram tudo o que puderam, tudo o que foi necessário, tudo o que correspondia até que houve um momento de ruptura.” E tampouco houve por parte dela qualquer menção à recusa de Maduro em aceitar ajuda humanitária, já que a Organização Panamericana de Saúde teria muito que contribuir para o controle de epidemias que voltaram a ser registradas na Venezuela depois de décadas, como malária e difteria.

    • Avatar
      Francisco de Assis says:

      Menos, José Eduardo, menos. A articulista foi super democrática, tanto que deu até o link para o discurso do vira-latas Aloysio Nunes, o que deveria – I presume – suprir, com folga, todas essas suas reclamações. Ou você não é seguidor de Aloysio Nunes, esse golpista?

  2. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    O meu comentário não se prendeu ao discurso do Aloysio Nunes (que mal há em ser vira-latas, a propósito? Há algo de ruim em ser de raças misturadas?), que li, mas sim à falta de menção e/ou comentário da competentíssima articulista sobre a inscrição da Venezuela e da recusa de Maduro em aceitar ajuda humanitária, mesmo em face de surtos de malária e difteria. Algo a dizer sobre isso, democraticamente? Um abraço.

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