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Morreu Noriega, agente da CIA, narcotraficante e ditador do Panamá

O ex-ditador do Panamá Manuel Antonio Noriega morreu, aos 83 anos, no Hospital Santo Tomás, na Cidade do Panamá na noite desta segunda-feira (29/5). Estava internado em estado grave desde o dia 7 de março, em decorrência de uma cirurgia para remover um tumor cerebral benigno.
Foi ditador do Panamá entre 1983 e 1989, ano em que os Estados Unidos iniciam uma operação para prendê-lo. Além de chefe de governo, o militar foi agente da CIA (Agência Central de Inteligência) a partir dos anos 1970.
Sua atividade na CIA era permitir que forças norte-americanas instalassem postos de escuta no Panamá e usassem o país para direcionar ajuda a forças pró-EUA em El Salvador e na Nicarágua.

George H. W. Bush e Manuel Noriega, em 1983


Apesar das relações de Noriega com narcotraficantes, as tensões com os EUA só começaram a partir de 1985, quando ele rejeitou Nicolás Ardito Barletta, o primeiro presidente panamenho eleito democraticamente em 16 anos. A eleição era condição dos EUA para devolver o controle do Canal do Panamá.
Em 1990 foi preso, julgado e condenado, em 1992, a 40 anos de prisão nos Estados Unidos, sob acusação de estar ligado ao Cartel de Madellín. Ao se dar conta de sua iminente prisão pela DEA (Drug Enforcement Administration), do governo norte-americano, Noriega se escondeu na nunciatura apostólica da Cidade do Panamá.

Foto: WikiMedia Commons


A denominada “Operação Justa Causa”, de busca e captura do ditador foi, na época, a maior mobilização militar dos Estados Unidos desde a Guerra do Vietnã.
Os EUA chegaram a invadir o Panamá em 20 de dezembro de 1989, com objetivo de prender Noriega, alegando “defesa da democracia, dos direitos humanos e combate ao tráfico de drogas”.
Noriega passou 11 dias dentro da Nunciatura Apostólica – de 24 de dezembro de 1989 a 3 de janeiro de 1990 – cercada por 500 soldados e dezenas de carros militares dos EUA. Chegou a solicitou asilo à Espanha e ao Vaticano, mas os pedidos foram negados.
Para forçar sua saída da nunciatura, os EUA reproduziam rock and roll em alto volume noite e dia nas cercanias do prédio.
Inicialmente, a música alta fora colocada através dos alto-falantes quando Noriega começou a conversar com o núncio para pedir ajuda ao Vaticano. O barulho evitaria que a imprensa escutasse o diálogo. Depois, foi usada como estratégia para atingi-lo e provocar sua rendição.
Noriega era apreciador de ópera. A escolha dos militares norte-americanos frecaiu sobre músicas como “No more Mr. Nice Guy”, de Alice Cooper, “You shook me all night long”, de AC/DC.
Assista ao vídeo abaixo, que mostra parte da operação para capturar Noriega na nunciatura:

Os EUA chegaram a realizar uma operação especial para evitar sua fuga – a Operação Nifty Package. Afundaram um barco de Noriega e destruído seu jato, deixando quatro mortos e nove feridos.
Não há um número oficial sobre vítimas da operação montada para prender Noriega, mas, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos na América Central (CODEHUCA) estima pelo menos 3 mil mortes.
Depois de se entregar aos EUA, na época governado por George Bush pai, Noriega foi levado para Miami. Especulava-se que sua condenação poderia chegar até 120 anos de prisão.
Segundo um dos agentes da DEA que participou da operação, Rene de la Cova, na casa do ditador havia 8,2 milhões de dólares guardados em sacolas do Banco Nacional de Panamá, junto de uma mochila, passaporte e cartões de crédito.
No Panamá, foi julgado à revelia e condenado a 15 anos pelo assassinato do guerrilheiro Hugo Spadafora; a 20 anos por uma tentativa de golpe de Estado em 89, conhecida como Massacre de Albrook, e pelo fuzilamento de membros das Forças de Defesa do Panamá; a 20 anos pela execução do militar panamenho Moisés Giroldi; a cinco anos por crimes contra a liberdade individual do militar panamenho Humberto Macea; e a 18 meses por corrupção.
Quando estava no Exército, Noriega foi responsável pelo desaparecimento de dezenas de oposicionistas. Alguns deles tiveram seus corpos exumados na antiga base militar de Tocumen. Haviam sido amarrados e tinham sinais de tortura.
Em 2008, a França pediu sua extradição por lavar dinheiro do tráfico de drogas.

Noriega ao deixar o regime fechado, em janeiro de 2017 (Foto: Telesur)


Em dezembro de 2011, foi extraditado para o Panamá, onde foi processado por outras acusações de violações de direitos humanos cometidas durante seu governo. Ele havia sido condenado a 60 anos de prisão e cumpria pena em regime fechado até janeiro de 2017.
A justiça panamenha concedeu a ele o direito de cumprir prisão domiciliar na casa de uma de suas três filhas por causa da cirurgia no cérebro.
Em 2010 a Justiça panamenha abriu um novo processo criminal contra ele devido a uma acusação de desaparecimento, em 1970, e posterior morte do líder da esquerda Heliodoro Portugal. O julgamento foi suspenso em 2016 por seus problemas de saúde.
 

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