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Venezuela: crise política e a hipocrisia da OEA


Se ainda restava alguma dúvida sobre qual é a função da OEA (Organização dos Estados Americanos) e como esse organismo atua em relação à Venezuela, a proposta de orçamento do Departamento de Estado e a ação do Estados-membros na última reunião do Conselho Permanente deixou tudo mais claro do que nunca.
Primeiro, o Departamento de Estado afirmou, no documento entregue ao Congresso estadunidense – e que aqui cito literalmente – veja bem, exatamente como está no texto, que “a Organização dos Estados Americanos promove os interesses políticos e econômicos dos Estados Unidos no Hemisfério Ocidental através do combate da influência de países anti-Estados Unidos, tais como a Venezuela”.
Se o conteúdo dessa afirmação já é por si só bastante preocupante, a constatação de que esse é um documento público, facilmente acessado por qualquer pessoa, é ainda mais preocupante.
Esse é um tipo de linguagem geralmente encontrado em comunicações que são feitas bem longe dos olhos públicos.
O que significa fazer essa afirmação tão abertamente? Não é de hoje que se sabe que a OEA é uma extensão do Departamento de Estado. Mas, nesse documento, eles estão reconhecendo explicita e publicamente que a OEA está trabalhando ativamente para prejudicar o governo venezuelano. Foi um erro de algum estagiário? Ou estaria o Departamento de Estado passando uma clara mensagem aos seus aliados na região?
Não bastasse isso, no último dia 24, o embaixador equatoriano na OEA se utilizou dos mesmos artifícios que vem sendo usados contra a Venezuela dentro da organização e colocou na pauta da reunião do Conselho Permanente uma discussão sobre a crise política no Brasil, à revelia da delegação brasileira, obviamente.
O objetivo do equatoriano não podia ser mais claro: demonstrar a parcialidade com que a organização trata assuntos relativos à Venezuela. E conseguiu. O que se seguiu à fala do embaixador equatoriano foi uma enxurrada de críticas e citações de artigos da Carta da OEA que haviam sido violados ao discutir “assuntos internos” do Brasil – artigos que vêm sendo repetidos à exaustão pela delegação venezuelana, e que caem sempre em ouvidos moucos.
O absurdo da situação não para por aí. Oito países rejeitaram a inclusão do tema na pauta. Coincidentemente, esses mesmos oito países fazem parte do grupo de Estados que está convocando uma reunião extraordinária de chanceleres para o próximo dia 31 para discutir o quê? A crise política na Venezuela.
A OEA tem um longo histórico de intervenções, começando com o golpe militar de 54 na Guatemala, passando pelo bloqueio à Cuba e a vergonhosa cumplicidade com os regimes militares na América Latina, para citar alguns exemplos.
A instituição, que deveria ser um organismo multilateral de concertação entre Estados iguais, é empregada cada vez mais abertamente como instrumento de promoção dos interesses estadunidenses, enquanto, ao mesmo tempo, busca obstruir a criação de outros foros que questionem essa hegemonia dos Estados Unidos.
Certos mesmo estão os cubanos, que há décadas chamam a OEA pelo nome que melhor expressa sua função: “Ministério de Colônias dos Estados Unidos”.
Clique aqui para acessar o vídeo da reunião do Conselho Permanente da OEA sobre a situação do Brasil (a partir dos 47 minutos do vídeo).
Clique aqui para acessar a justificativa de orçamento do Departamento de Estado dos Estados Unidos (a parte citada pode ser encontrada na página 186 do documento).

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  1. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    Desculpem, mas o grau de desinformação – proposital ou por pura incompetência – e falta de profundidade de pensamento desta articulista jamais deixa de surpreender e causar hilariedade. O documento a que ela se refere é o de suporte a pedidos de fundos custeio do Deptº de Estado para o Congresso e, como tal, exige demonstrações de resultados passados bem como os porquês dos pedidos de fundos para a sua atuação junto a esta ou aquela organização. Sendo assim, na página 185 do pdf (179 do documento em si), existe uma introdução que diz: “International organizations offer the United States the opportunity to leverage the financial contributions and expertise of other nations to promote U.S. national interests, including combating violent extremism, limiting the spread of nuclear and chemical weapons, promoting human rights, achieving broad-based, sustainable economic growth that boosts the American economy, and forging solutions to the global threats of armed conflict, hunger, poverty, and disease…” Até aí, caso ela tivesse lido o documento com um mínimo de atenção já teria dado para ver que se trata da justificativa do porque se vai pedir algo. A seguir, entã (página 186 do pdf/180 do documento em si) vem uma lista de 13 organizações, dentre as quais consta a OEA e que inclui, por exemplo, a International Atomic Energy Agency (IAEA), o World Health Organization (WHO), e a International Labor Organization (ILO). Mais ainda, a parte referente à OEA não toca APENAS na Venezuela, mas menciona também o suporte ao acordo de paz na Colômbia e a reconstrução do Haiti, como se pode ler do original: “The Organization of American States (OAS) promotes U.S. political and economic interests in the Western Hemisphere by countering the influence of anti-U.S. countries such as Venezuela and by promoting free and fair elections and building international support for the peace accord in Colombia and rebuilding efforts in Haiti.”
    Em suma, esta articulista, mais uma vez, conseguiu – para quem quer que leia este documento com um mínimo de atenção ou que não tenha obsessão de justificar o governo Maduro – dar monumental demonstração de incompetência profissional e primarismo de pensamento, refletidos, inclusive, na forma pueril e irritante com que narra o que escreve.

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