Mundo

Controles policiais racistas contra imigrantes na Espanha


 
Por Víctor David López*
 
Olá, bem-vindas e bem-vindos ao Nocaute na Espanha.
É normal, e habitual na Espanha, em Madri sobretudo, os controles policiais de identificação de imigrantes, controles aleatórios, controles racistas organizados pela Polícia da Espanha. É normal nos principais bairros com maior população imigrante da cidade. Aqui por exemplo no bairro de Cuatro Caminos, e também nos bairros de Vallecas, Villaverde ou Lavapiés.
 
Há umas semanas encontrei no metrô um cartaz dos Esquadrões de Moradores de Observação de Direitos Humanos, uma nova ONG que está trabalhando para denunciar os controles da Polícia, os controles racistas. Eles falam no cartaz: “A Polícia realiza habitualmente controles de identificação de pessoas estrangeiras em lugares públicos com critérios racistas, xenófobos e classistas.”
 
A polêmica é muito antiga aqui em Madri. Teve entre os anos 2008 e 2011 mais ou menos denúncias pelas cotas que tinham nas delegacias da Polícia dos principais bairros com imigração, o número mínimo de controles que tinham que fazer aos imigrantes pra saber se eles tinham a documentação espanhola, ou expulsar-lhes do país. Eram cotas secretas, ilegais. Por exemplo, na delegacia de Polícia do bairro de Vallecas a cota era de 35 detenções de imigrantes cada semana. Os policiais tinham o objetivo, o alvo, cada dia mais ou menos entre 4 e 8 imigrantes. Em outros bairros as cotas eram maiores: 50 detenções de imigrantes por semana.
 
A Polícia a paisana aproveita pra fazer os controles de documentação nas estações de metrô dos bairros populares. Os estrangeiros ficam encurralados porque a Polícia espera na saída do metrô. O único crime é ser imigrante sem documentação espanhola. Os controles também são racistas porque a Polícia procura, sobretudo, pessoas negras ou com traços latinos ou árabes.
 
O cartaz dos Esquadrões de Moradores de Observação de Direitos Humanos continua assim: “A nossa ONG denuncia os controles e tem sido objetivo de assédio e criminalização por parte da Polícia.” Os Esquadrões de Moradores de Observação de Direitos Humanos estão levando a denúncia que a Polícia fez contra eles –16 pessoas da ONG foram multadas– até a Organização das Nações Unidas, criticando o racismo da Polícia aqui na Espanha.
 
Há duas semanas também uma jornalista foi multada por fotografar os controles ilegais, os controles racistas da Polícia em um bairro de Madri. Ela fotografou, ela queria fazer uma matéria sobre os controles, ela perguntou aos policiais sobre a razão daqueles controles racistas e a Polícia multou ela.
 
Esse é agora, no ano 2017, o nível de racismo da Polícia espanhola, do Governo espanhol, aqui em Madri, na capital da Espanha.
 
* Víctor David López (Valladolid, Espanha, 1979). Jornalista, editor literário e escritor. Colabora na Radio Nacional da Espanha e escreve no jornal El Español. Trabalhou nos jornais espanhóis As, Marca e La Razón. É co-diretor da editora madrilena Ediciones Ambulantes, especializada em literatura brasileira e sobre o Brasil. É autor dos livros “Maracanã, territorio sagrado” (2014), “Brasil salta a la cancha” (prólogo) (2016) y “Brasil, Golpe de 2016” (prólogo). Twitter: @VictorDavLopez

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