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Emmanuel Macron é a Hilary Clinton da eleição francesa.


 
Por Christophe Ventura*
 
Bem-vindos a todos e bem-vindas a todas, aqui de Paris, na França, do Velho Continente.
Agora sabemos como será a final da eleição presidencial. Muitas coisas aconteceram durante esse primeiro turno e ainda é um pouco cedo para saber quais serão as consequências precisas para o futuro de nosso país.
Mas o que ocorreu nessa eleição indica o nascimento de uma nova fase, de uma nova era política na França. E pela primeira vez em mais de cinquenta anos, digamos, e como dissemos nas nossas crônicas, pela primeira vez o próximo presidente ou próxima presidente da França não fará parte formalmente dos dois partidos do bipartidarismo francês.
Pela primeira vez, dois candidatos – Emmanuel Macron, do En Marche! (Em Marcha!) e Marine Le Pen, (da Frente Nacional) Front National – estarão na final desta eleição e pela primeira vez os candidatos oficiais do Partido Socialista dos sociais democratas Benoît Hamon e da direita tradicional republicana conservadora e neoliberal François Fillon não estarão na final dessa eleição presidencial.
É um fato, um terremoto político.
Outro elemento desse terremoto político é o resultado da France Insoumise, de Jean-Luc Mélenchon. Com mais ou menos 20% dos votos não conseguiu alcançar seu objetivo de estar presente nessa final de eleição presidencial, mas conseguiu uma coisa muito importante: conseguiu fazer parte das quatro correntes que agora dominam o cenário político na França.
O bipartidarismo fracassou e agora temos quatro movimentos, quatro correntes mais ou menos equivalentes no cenário político francês, e a esquerda, a France Insoumise (a esquerda autêntica) a esquerda não liberal, digamos, um populismo de esquerda, digamos, tem agora um espaço equivalente à direita, ao centro ultra-centro de Emmanuel Macron e à extrema direita da Frente Nacional, liderada por Marine Le Pen.
Tudo isso, todas essas quatro correntes têm agora cerca de 20, 22% dos votos. É um cenário inédito, e a esquerda, é preciso sublinhar que o Partido socialista não alcançou mais que 7%, menos que 7%.
Dentro da esquerda há uma liderança agora muito forte de Jean-Luc Mélenchon e de seu movimento, para o futuro.
Isso faz parte do terremoto que temos dentro do nosso sistema político.
Bom, falando da final, estamos entre os dois turnos, não vou dizer quem ganhará, mas o que está em jogo é, digamos, a legitimidade que terá o vencedor dessa eleição.
Emmanuel Macron pode contar, digamos, com o apoio do bipartidarismo escondido, já que as forças social-democratas por um lado e por outro lado a direita conservadora podem elege-lo.
Então, como já explicamos, Emmanuel Macron tem uma espécie de aparência, mas por trás estão as forças do sistema. Que encontrarão com Emmanuel Macron a possibilidade de se salvarem uma última vez da força, digamos, ao mesmo tempo da extrema direita de populismo de Marine Le Pen e também do populismo de esquerda de Jean-Luc Mélenchon.
Podem de novo ter uma nova cara para que as coisas não mudem. Esse é um esforço de transformismo que temos com o ultra centro de Emmanuel Macron, mas tudo indica que teria que ser eleito no segundo turno, mas talvez de maneira não muito importante, talvez será, digamos, quase meio a meio com Marine Le Pen.
Isso vamos ver, porque ela é muito inteligente, fez uma campanha com clivagem do povo contra a oligarquia, digamos, as classes populares do país contra a globalização e o establishment. Digamos que ela tentasse uma campanha tipo Trump contra a de Hillary Clinton, que seria na França Emmanuel Macron.
O problema é que o diagnóstico não é falso, isto é, Emmanuel Macron é um pouco como a Hillary Clinton da eleição francesa.
Vamos ver o que vai acontecer no país, tudo está aberto, mas a lógica seria que Macron pudesse ganhar contra ela, porque obviamente sua vitória seria um terremoto negativo, porque, bom, seriam forças muito reacionárias por detrás dela. Mas com Macron a verdade é que a continuidade do neoliberalismo também aparece como uma continuidade muito perigosa para o país, porque vai crescer de novo o ódio popular contra o establishment e lamentavelmente Macron poderia afinal, terminar, como se diz aqui entre aspas “o trabalho” para que ela e a Frente Nacional, Marine Le Pen, pudessem vencer da próxima vez.
Isso é o que vai se exibir nas próximas semanas, além disso teremos as eleições legislativas no mês de junho, e segundo o cenário tudo poderia mudar de novo. Onde estamos é muito volátil, muito frágil, esse é o cenário que temos.
Mas novamente vou terminar esta crônica com o caso Mélenchon, porque ele tem em mãos algumas cartas para escrever de novo o futuro do cenário político na França, o da esquerda, obviamente, mas através da esquerda a possibilidade de escrever a nova página de uma força popular, uma força que teria que apoiar as classes populares, que votaram muito nele, nas grandes cidades mas também no campo. Para, digamos, resistir, lutar, e construir uma alternativa ao neoliberalismo tipo Macron ou ao populismo de direita nacionalista, afinal, e também reacionária para as classes populares, sobretudo para os imigrantes, de Marine Le Pen.
Então, o que vai acontecer não será fácil para a esquerda, mas é um cenário muito novo onde há um potencial muito forte para essas forças populares que terão um espaço maior do que nunca antes, para construir um caminho de vitória para o futuro.
Esses são os primeiros elementos que podemos compartilhar com Nocaute, e obviamente voltaremos na próxima semana com novos elementos para afinar a análise.
Tchau.
 
* Christophe Ventura é jornalista, redator-chefe do site “Mémoire des luttes” (www.medelu.org) e autor do livro “L’éveil d’un continent – Géopolitique de l’Amérique latine et de la Caraïbe” (Editions Armand Colin, Paris).

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