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Eleições francesas: a batalha vai se definindo entre o populismo da direita de Le Pen e o ultra centrismo de Macron


 
 
Por Christophe Ventura*
 
Bom dia a todas e todos, bem vindos aqui a Paris, França, neste Velho Continente.
Continuamos nossas crônicas sobre a campanha presidencial francesa, e através dela tentamos entender um pouco o cenário político que está se desenvolvendo aqui na Europa. É um cenário de crise política e estrutural de todos nossos países.
E esta semana se confirmam as tendências da semana passada, quer dizer que se confirmam as pesquisas, o fortalecimento de, digamos, três polos dentro dessa campanha. E que deixam de fora o Partido Socialista, o partido do bipartidarismo da Quinta República, e é o partido que enfrenta a crise mais forte de todos os partidos e também o dos Republicanos, que não estão certos de participar do segundo turno.
O primeiro polo é composto pelo populismo de direita, de Marine Le Pen, que ainda tem 23% dos votos nas pesquisas, e estamos agora a quase duas semanas do primeiro turno. É um número muito forte, muito forte, que aparentemente lhe garante a presença na final dessa eleição presidencial.
O segundo polo, e esse é um dado importante, Emmanuel Macron, de ultra centro francês, que tem também 22, 23%, mas que enfrenta uma diminuição de sua vantagem.
Depois dele temos o terceiro polo composto quase igualmente, ou igualmente segundo algumas pesquisas, entre François Fillon, dos Republicanos e Jean-Luc Mélenchon, que continua com sua dinâmica claramente muito forte aqui no país e teriam os dois por volta de 19, 20%.
O que se vê é um panorama onde estes três polos compartilham mais ou menos 1/5 dos votos nacionais nas pesquisas.
São pesquisas, o que quer dizer que tudo isso poderá mudar, as pesquisas se enganam muito, mas é isso o que podemos entender das tendências atuais no nosso país.
O fato muito importante, que portanto temos que comentar, é o fracasso lento, mas que parece irreversível, do Partido Socialista e de seu candidato Benoît Hamon, que afinal não solucionou a contradição fundamental entre ser um candidato à esquerda do partido em um partido de direita, com um aparato nas mãos da direita, e uma traição muito forte de todos os dirigentes do partido. A começar por Manuel Valls, que traiu de modo muito claro Hamon, informando que votará em Macron, de ultra-centro.
Então, Hamon queria ter uma estratégia de unidade de seu partido, e não queria eleger entre sua direita e sua esquerda, dentro de seu partido, e afinal perdeu tudo porque agora está em minoria dentro de seu partido, sem apoio dentro, o que é pior que isso, é mais grave que isso porque todos estão fora. E agora não aparece como uma opção confiável para os eleitores de esquerda para, digamos, ter a liderança da esquerda.
Então isso dá 8 ou 9% dos votos aqui na França, o que é um número tão baixo, desconhecido na história dos últimos anos para o Partido Socialista.
É a primeira vítima da crise do sistema que temos, esse Partido Socialista implodiu literalmente, e provavelmente no futuro ficará dividido, terá uma fratura muito forte no futuro.
Atualmente o que se pode dizer é que na esquerda Mélenchon está avançando como o dirigente que terá a liderança para a recomposição política pós-eleição presidencial.
Esta é a situação que temos esta semana e o que também precisamos comentar é o caso de François Fillon, porque para ele também a crise está forte para seu partido de direita, com os problemas que tem esse candidato, mas parece que o núcleo sociológico de direita está afinal a favor de votar nele. O que talvez poderia representar um papel para o segundo turno, que poderia no fim ganhar seu espaço, sua posição contra Macron.
Esta será a batalha que teremos que continuar, entre o ultra-centro e a direita para saber quem, afinal, poderia ir para a final.
Esta é a situação da semana aqui na França, e é certo que na próxima semana as tendências estarão novamente afinadas e que teremos que seguir o que acontece com o senhor Mélenchon e também com essa batalha entre Macron e Fillon.
Até logo.
 
* Christophe Ventura é jornalista, redator-chefe do site “Mémoire des luttes” (www.medelu.org) e autor do livro “L’éveil d’un continent – Géopolitique de l’Amérique latine et de la Caraïbe” (Editions Armand Colin, Paris).

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