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Missão: Eliminar a educação pública


 
 
Por Víctor David López*
A missão é clara: eliminar a educação pública, de todos os níveis. Quando nos primeiros anos do século XXI chegaram as primeiras notícias sobre o Plano Bolonha, que é a reforma do sistema universitário europeu, muitas organizações já falavam do futuro: os governos vendem maior facilidade em mobilidade para os alunos dentro da União Europeia, mas a educação vai ser mercantilizada, as graduações não servirão mais, a partir de agora os mestrados e as especializações (muito mais caros) são os que mandam. A elite ganha, como sempre.
Ao mesmo tempo, as taxas das universidades públicas na Espanha aumentavam e aumentavam. Só para lembrar, aqui a universidade pública não é de graça. Tem que pagar uma cota por ano. Cada vez mais cara. As bolsas de estudo, por enquanto, cada vez são mais raras. A crise dos últimos anos acabou com elas. Na realidade, a crise tem sido e continua sendo perfeita para aqueles que tinham como objetivo a eliminação da educação pública, a mercantilização do ensino.
A maior parte dos mestrados e das especializações é oferecida pelas universidades particulares, ou centros particulares de ensino. As empresas procuram os futuros trabalhadores lá. Eles são parceiros e o ensino se orienta nessa direção. Não tem jeito. Inclusive chegou ao ponto das empresas terem os seus próprios mestrados. Por exemplo, os grandes grupos da mídia. O bacharelado em Comunicação já quase não tem valor, agora o estudante tem que pagar também o mestrado e a especialização das grandes empresas da mídia se ele quiser trabalhar algum dia.
Mas a mercantilização da educação não aparece só no Ensino Superior. No Ensino Fundamental e no Médio existem há três décadas os chamados colégios concertados (empresas privadas com subsídio público). Foram criados quando a democracia era ainda muito nova, pra completar a rede de centros de ensino no país. O Governo espanhol não conseguia chegar em muitos cantos esquecidos da geografia nacional. Hoje a ideia está viciada, manipulada, adulterada. Existem colégios concertados em cada bairro das cidades espanholas, com normas de acesso típicas de centros particulares, deixando fora, por exemplo, os imigrantes.
Sem falar do corte orçamentário na educação pública, pra completar o ataque massivo. Daqui a pouco o normal vai ser falar da pouca eficiência do ensino público, e normalizar a superioridade dos centros particulares. Alguém estará conseguindo lucro e todos já formarão parte da maquinaria. A missão deles está muito clara: eliminar a educação pública. Não é um fato isolado, é uma ação global.
 

* Víctor David López (Valladolid, Espanha, 1979). Jornalista, editor literário e escritor. Colabora na Radio Nacional da Espanha e escreve no jornal El Español. Trabalhou nos jornais espanhóis As, Marca e La Razón. É co-diretor da editora madrilena Ediciones Ambulantes, especializada em literatura brasileira e sobre o Brasil. É autor dos livros “Maracanã, territorio sagrado” (2014), “Brasil salta a la cancha” (prólogo) (2016) y “Brasil, Golpe de 2016” (prólogo). Twitter: @VictorDavLopez

 

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