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Quantas linhas merece um cadáver britânico? E um cadáver gringo? E um cadáver iraquiano, ou africano?


 
Que importância jornalística tem o cadáver de um britânico? E o cadáver de um gringo? E que importância jornalística têm trezentos cadáveres de iraquianos, ou de sírios?
 
Este micro documentário compara o destaque dado pela imprensa ao atentado cometido em Londres, que deixou quatro mortos, com o massacre de trezentos iraquianos por forças norte-americanas em Mossul.
 
Nunca me esqueço de um minucioso levantamento do comportamento da imprensa dos EUA feito pelo grande jornalista mineiro Argemiro Ferreira, anos atrás, quando ele vivia nos Estados Unidos como correspondente estrangeiro.
 
Depois de colecionar, por meses, os despachos das principais agências internacionais de notícias, ele extraía e contabilizava à parte o tratamento e o destaque dado à morte de seres humanos pelo mundo afora. Alguém poderia até dizer que era uma estatística meio macabra.
 
O resultado confirmou suas suspeitas: imprensa estabelecia uma espécie de hierarquia social (ou econômica, ou racial) para determinar o espaço dedicado aos mortos.
 
No período da guerra do Vietnã, por exemplo, para merecer o mesmo espaço dedicado pelas agências à morte de UM oficial norte-americano era preciso que morressem TRINTA oficiais norte-vietnamitas. Ou seja: para as grandes agências um americano valia o mesmo que trinta vietnamitas. E o Vietnã, na verdade, só tinha esse privilégio porque estava em guerra com os Estados Unidos.
 
As estatísticas de Argemiro mostravam que quanto mais “atrasado” o país, maior era a desproporção. Para receber o mesmo destaque dado à morte de um norte-americano qualquer, era preciso que morressem, de uma só vez, alguma coisa em torno de trezentos ugandenses.
 
Como se vê, passaram-se quarenta anos do estudo do Argemiro e o comportamento da chamada grande imprensa mudou muito. Para pior, é claro.

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