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O fracasso do “Trumpcare”: Washington não é Wall Street


 
 
Por Aline Piva
Donald Trump acaba de sofrer um importante revés no Congresso dos Estados Unidos: sua proposta de mudança no sistema de saúde implementado por Obama – conhecido como Obamacare -, teve que ser retirada às pressas da pauta de votação por falta de quórum para sua aprovação. A proposta era um dos carros chefes de campanha, e a decisão vem sendo entendida como uma derrota surpreendente para ele e para Paul Ryan, o presidente da Câmara cuja reeleição contou com o apoio de Trump e que tem trabalhado muito próximo ao presidente para fazer a estratégia da agenda política.
Sabendo que a percepção seria de uma derrota importante, Trump se apressou em ligar para jornalistas do Washington Post e do New York Times, para minimizar o acontecido antes mesmo de que os congressistas tivessem sido oficialmente informados da decisão.
A proposta vinha sendo duramente criticada por amplos setores da sociedade estadunidense, inclusive por setores do próprio Partido Republicano, porque eliminava do sistema de saúde público – ou o equivalente a isso aqui – benefícios essenciais do sistema de saúde, como por exemplo a cobertura de tratamento de problemas de saúde mental, hospitalizações, serviços de emergência, entre outros. Diante da forte repercussão negativa, os republicanos vinham insistindo para que o tema fosse retirado da pauta para que houvesse mais tempo de discussão no processo e para que eles não obrigados a emitir um voto tão impopular. É interessante notar que, contraditoriamente, os Republicanos vêm prometendo revogar o Obamacare desde que ele foi implementado há sete anos atrás, mas agora parecem muito reticentes em arcar com os custos políticos de realmente implementarem essas mudanças.
Essa é a primeira de uma série de propostas bastante controversas que vêm sendo apresentadas ao Congresso, que inclui temas como reforma no sistema de impostos, fim do financiamento às agências que avançam causas como aborto ou mudança climática, entre tantas outras que terão um impacto significativo não só aqui nos Estados Unidos, mas também internacionalmente – como por exemplo o corte de financiamento de missões humanitárias da ONU.
A derrota coloca em evidência as limitações de Trump enquanto negociador – uma imagem que vem sendo construída muito cuidadosamente -, e também as dificuldades enfrentadas pelo Partido Republicano para chegar a consensos dentro das suas próprias fileiras – uma das principais causas dessa falta de votos foi a insistência do Freedom Caucus (algo como a “Bancada da Liberdade”), composta por republicanos ultra-conservadores, de apoiar a lei, ainda que a lei colocasse empecilhos para causas como aborto e outros direitos reprodutivos das mulheres.
Trump sai fragilizado dessa sua primeira batalha política, e isso pode ter reflexos importantes na dinâmica entre a Casa Branca e o Congresso: a escolha dessa proposta para ser a primeira a ser discutida coloca em xeque o tino político do Paul Ryan – o que pode iniciar uma disputa de alto custo para os Republicanos pela presidência da Câmara. Resistências internas começam a emergir, agora bastante empoderadas.
 
 

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