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Prisões para estrangeiros na Europa: drible nos direitos humanos.


 
 
Víctor David López*
 
Imagina ser preso só pelo fato de não ter documentação? Sem roubar, sem cometer crime nem delito… Será que a Europa não teve aula de história na escola? O simples fato de ouvir os políticos falarem sobre a imigração é constrangedor. Os cidadãos manipulados, cada vez que eles falam sobre o assunto, mostram falta de educação além de absoluto desconhecimento dos direitos humanos. Aqui que manda é o egoísmo. Você já ouviu falar dos Centros de Internamento de Estrangeiros.
Os Centros de Internamento para Estrangeiros (CIEs) foram criados na Espanha na década de oitenta. São prisões camufladas, disfarçadas. As razões pelas quais uma pessoa pode ser presa num CIE tem mudado ao longo dos anos. Toda a Europa tem CIEs. Normalmente, os estrangeiros dos CIEs só cometeram um crime: a imigração. E, claro, não ter a documentação que a Europa exige para que uma pessoa seja considerada humana. Ou seja, a Europa criminaliza a imigração. Lá dentro aguardam a deportação do país.
Na Espanha temos sete CIEs: em Madri, Barcelona, Valência, Algeciras, Las Palmas, Múrcia e Fuerteventura, com quase mil e quinhentas vagas. Todos eles lotados. Muitos dos estrangeiros que moram aqui em Madri conhecem bem as instalações do CIE, mas eles acham que é só uma delegacia policial onde tramitar os vistos ou a carteira de identidade estrangeira. Poucos sabem que inclusive eles poderiam entrar na cadeia aqui mesmo, como os colegas imigrantes que sofrem o racismo e a xenofobia das leis espanholas e europeias.
No pasado mês de outubro, trinta e um presos iniciaram um motim neste CIE de Madri –chamado CIE de Aluche, nome do bairro onde fica–. Eles subiram na laje do prédio e de lá gritavam por liberdade, pelas terríveis condições do Centro, da prisão, gritavam nossa vergonha bem na nossa cara. O espetáculo mostrou o melhor e o pior da sociedade espanhola. O melhor de tudo isso foi o apoio de organizações e cidadãos não manipulados, sensibilizados com os direitos humanos. Cidadãos críticos com a ideologia que invisibiliza centenas, milhares de pessoas que abandonaram o país de origem por diversas razões. Cidadãos críticos com a ideologia que criminaliza a imigração.
 
Até mesmo a prefeita de Madri, Manuela Carmena, visitou o Centro Federal e ficou impressionada com as condições. A prefeita falou que em muitos casos as condições do CIE eram piores do que numa prisão. A Manuela Carmena explicava que o Centro não foi feito pra isso. Ela pediu o fechamento dos CIEs. Cada vez mais pessoas na Espanha estão pedindo o fechamento.
 
As associações, as ONG´s, tentam ajudar os estrangeiros dos CIEs mas só podem falar com eles se a visita for solicitada oficialmente pelos próprios internos. Na maioria das vezes não falam espanhol nem inglês e os policiais do Centro não facilitam a comunicação. Também não possuem os tradutores que a lei exige. Mais um drible nos direitos dos imigrantes.
Agora, para piorar ainda mais a situação dos imigrantes nestas prisões, a Comissão Europeia exige aos países serem mais duros ainda com os estrangeiros sem documentação do país. A Europa quer mais tempo nos CIEs para os estrangeiros, para os imigrantes sem documentação. O tempo suficiente para ter concluído o processo de devolução ao país de origem. A Comissão Europeia pede dezoito meses –até agora na Espanha eram dois meses de internamento no máximo–.
Então, fazer o quê? Só continuar na luta. Dar um empurrãozinho nos nossos irmãos imigrantes enquanto damos uma entrada dura nos racistas e xenófobos que tentam driblar os direitos humanos.
 

* Víctor David López (Valladolid, Espanha, 1979). Jornalista, editor literário e escritor. Colabora na Radio Nacional da Espanha e escreve no jornal El Español. Trabalhou nos jornais espanhóis As, Marca e La Razón. É co-diretor da editora madrilena Ediciones Ambulantes, especializada em literatura brasileira e sobre o Brasil. É autor dos livros “Maracanã, territorio sagrado” (2014), “Brasil salta a la cancha” (prólogo) (2016) y “Brasil, Golpe de 2016” (prólogo). Twitter: @VictorDavLopez

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