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As esquerdas francesas tentam se unir para enfrentar o establishment europeu.


 
 
Por Christophe Ventura*
 
Bom dia a todos e todas. Daqui de Paris, do Velho Continente, continuamos conversando sobre a eleição presidencial e a campanha presidencial francesa.
E através dela, ilustrar o momento político que vivemos aqui na Europa.
Hoje vamos falar especificamente das esquerdas na França, da situação, da evolução da situação aqui na França com as esquerdas, porque muitas coisas estão acontecendo.
Esta semana, pela primeira vez houve um contato entre Jean-Luc Mélenchon, Yannick Jadot, que é o candidato dos verdes, e Benoît Hamon, o novo candidato do Partido Socialista. Pela primeira vez se encontraram para começar um processo de diálogo para ver se se pode construir as condições, digamos, para uma articulação, uma aliança, uma candidatura única. Ainda não se pode dizer, porque é muito cedo, porque muitas coisas vão estar sendo discutidas pelos atores.
O diálogo mais importante será entre Jean-Luc Mélenchon, da France Insoumise e Benoît Hamon, do Partido Socialista. Porque Mélenchon foi o primeiro que propôs formalmente este diálogo com Benoît Hamon e disse, vamos conversar sobre o problema para ver se podemos conseguir um acordo entre nós, para ver quem é o mais bem posicionado para representar a esquerda real, não a esquerda liberal, neoliberal, mas a esquerda da solidariedade, da cooperação, da justiça social e da soberania popular. E vamos ver o que podemos fazer.
Mas Mélenchon disse que é necessário ter garantias para falar, porque não se pode falar com um PS dirigido pelo setor elitista do partido, apesar da presença do candidato Hamon. E que também não se pode falar com a força que pretende duplicar ou assegurar a presença na Assembleia Nacional da direita do partido, dos antigos ministros, dezesseis ministros que estão atualmente na lista dos deputados previstos do Partido Socialista. E que isso não pode ser assim. Ele quer trabalhar com as pessoas responsáveis, os atores principais do terrível mandato do governo de François Hollande com suas privatizações, suas leis em favor do capital e das empresas, contra os trabalhadores, etc, etc.
Isso não se pode fazer. E também terão outros pontos para discutir, por exemplo o tema da construção europeia, o tema da União Europeia, porque há fortes divergências nas esquerdas sobre este tema. Uma parte da esquerda que se encontra dentro do Partido Socialista pretende que se pode reformar a União Europeia, que se pode construir novos tratados mais progressistas se for construída uma aliança entre governos social democratas na Europa.
Esta é uma posição que defende o candidato Hamon, que diz que não se precisa, não temos que sair dos tratados da União Europeia, mas que se precisa reformá-los.
Por outro lado, Mélenchon e com ele muitos outros setores da esquerda, dizem que é impossível construir ou desenvolver uma política progressista, social, uma política de avanços, ecologistas também, dentro digamos, dos tratados e das instituições europeias. E que, então, é preciso assumir uma crise salutar, um enfrentamento direto com a União Europeia e seu sistema, instituições, tratados e políticas.
E esta é a estratégia que tem Mélenchon, estratégia de enfrentamento, de ruptura assumida com a União Europeia para construir um equilíbrio de forças na sociedade e nas populações europeias contra o establishment europeu.
É um ponto crucial que estará em discussão se se confirma a conversa entre essas forças que vamos ter, provavelmente nos próximos dias.
E então voltaremos com esse tema na nossa próxima crônica do Nocaute para ver como evoluem, como se constroem as tendências dentro da esquerda nesse momento caótico da política nacional e europeia.
Adeus.
Christophe Ventura é jornalista, redator-chefe do site “Mémoire des luttes” (www.medelu.org) e autor do livro “L’éveil d’un continent – Géopolitique de l’Amérique latine et de la Caraïbe” (Editions Armand Colin, Paris).

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