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Vivemos o triunfo do nativismo estadunidense.


 
Após a vitória de Trump, tem-se tornado um lugar comum na mídia aqui dos Estados Unidos, tanto à direita quanto à esquerda, as comparações entre seu estilo de governo e de outros políticos mundo afora, com especial ênfase aos latino-americanos. O Washington Post, por exemplo, chegou a publicar um artigo intitulado “Trump, o primeiro presidente latino-americano dos Estados Unidos”, que teve uma imensa repercussão inclusive nos setores liberais daqui.
O problema é que por trás a aparente inocência dessas comparações, se esconde não só uma crítica rasa ao sistema político estadunidense, como também um ataque frontal que visa a demonização de alguns países frente à opinião pública – em especial, a demonização da Venezuela. E digo isso porque, segundo um levantamento publicado pelo Los Angeles Times, das 120 vezes em que Trump foi comparado a alguém ou alguma coisa, mais de 30 delas foram a líderes venezuelanos. Em contraste, ele só foi comparado a líderes estadunidenses ou europeus, com ideologias, valores, princípios, muito mais próximos ao dele, como por exemplo Pat Buchanan ou Nigel Farage, um pouco mais de um par de vezes.
Estilo e retórica se sobrepõem ao conteúdo. Não importa que Chávez e Maduro chegaram ao poder com um projeto democrático de emancipação popular. O que importa é fazer a crítica mais rasa e sensacionalista, e arrastar junto todos aqueles que sejam considerados “inimigos” dos Estados Unidos.
E a agenda é clara: impor a ideia de que o que está acontecendo aqui agora, na política estadunidense, é alguma coisa nova, até mesmo impensável, dentro dos limites “normais”. Esquecem, por exemplo, do legado nefasto de Obama de guerras, de deportações, de sanções à Venezuela. Esquecem a agenda xenófoba do Tea Party, a ala mais conservadora dos republicanos. A grande mídia, tanto a conservadora quanto a liberal, normaliza o excepcionalismo, e endossa esse conceito, avançando suas garras contra a América Latina e o Oriente Médio. O que nós vivemos hoje não é novidade. O que nós vivemos hoje é o triunfo do nativismo estadunidense.
Link para reportagem do Washington Post, em inglês: https://www.washingtonpost.com/news/worldviews/wp/2017/01/26/trump-is-the-u-s-s-first-latin-american-president/?utm_term=.e19a68da2b06

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