Mundo

Em 2018 o México tem um encontro com López Obrador e o Brasil com Lula. Onde começam – e terminam – as semelhanças?


 
 
Qual é a diferença entre o Espírito Santo austero do governador Paulo Hartung e o Rio de Janeiro perdulário do governador Pezão? Provavelmente não é tão grande quanto parece.
 
Os dois aplicaram políticas econômicas diferentes. Uma bem ajustada, outra bem perdulária – e os resultados foram os mesmos: grave crise de segurança, situação de rebeldia, quando não de motim das polícias militares. O que nos leva concretamente a perguntar sobre as vantagens do modelo Paulo Hartung. Não que o modelo perdulário, e mais do que perdulário – e agora que se diz até corrupto – seja referência.
 
Mas aqueles que acreditam que governar é cortar gastos, deveriam refletir um pouco sobre as consequências desses cortes de gastos no Espírito Santo, como em outras partes do país.
 
Eu falo isso não porque seja uma questão tão transcendental em si para o país, mas muito mais pelo fato de que ela, de certa forma, resume um pouco os dilemas que alguns governantes aqui estão enfrentando. E como eles estão resolvendo esses dilemas. Porque no fundo, no fundo, se é verdade que lá no passado se dizia que governar é construir estradas, agora para a turma que está no governo, parece que governar é fazer ajustes, é cortar gastos.
 
Depois desse absurdo corte de vinte anos dos gastos públicos, cujas as consequências nós vamos muito em breve ter presentes, estamos vendo concretamente que há todo um processo de contra-reforma que está em curso no país. Que vai passar por essa tentativa (espero que o povo tenha condições de barrar) da reforma da Previdência, depois das leis trabalhistas, enfim, de completar todo um conjunto de medidas que têm como objetivo fundamental fraudar os direitos dos trabalhadores, dos de baixo, e beneficiar concretamente aquilo que eles cinicamente chamam de ambiente de negócios.
 
Eu acho que é até mais do que negócios, talvez seja ambiente para negociatas. Qual é o problema que nós estamos enfrentando? Nós estamos enfrentando um clássico dilema das sociedades democráticas. Em primeiro lugar, uma certa incapacidade que os governantes estão tendo, não só de resolver as questões sociais. Mas mais do que isso, a capacidade que eles estão revelando de agravar os problemas sociais.
 
Segundo lugar: o fato de que os temas da soberania nacional, que ocuparam nos últimos anos um lugar tão importante na vida do país, estão completamente abandonados. Mais do que isso, estão sendo atacados duramente. Aí está o caso do pré-sal, aí está a política externa cada dia mais submissa, mas o que é mais grave, errática também, aí estão anúncios de supostos acordos que vão se fazer sobre a base de Alcântara etc.
 
De tudo isso o que é mais grave é que afeta o terceiro pilar de uma sociedade moderna, que é a sua democracia. Tudo que o governo faz hoje, ele o faz para beneficiar concretamente, seja esse constrangimento dos direitos dos trabalhadores, seja essa abertura criminosa da nossa economia, o estrangeiro.
 
O governo adotou dentro dos limites estreitos da democracia um conjunto de normas e práticas que cada vez mais afrontam nossa democracia. O último exemplo disso é essa indicação do ministro da Justiça para uma função como ministro do Supremo Tribunal Federal que terá lá como objetivo fundamental tentar barrar a Lava Jato.
 
Veja bem, eu sou muito crítico aos procedimentos da Lava Jato, mas é evidente que o presidente Temer, o usurpador Temer, hoje está tratando fundamentalmente de parar a Lava Jato. Fazer com que a Lava Jato não atinja a si próprio e aos seus principais colaboradores como aquilo que se anuncia a partir das delações premiadas da Odebrecht.
 
Tudo tem, no entanto, um objetivo mais distante. Nas últimas semanas não só as pesquisas de opinião pública, que de uma certa forma inquirem sobre as eleições de 2018, como também outras pesquisas que têm sido feitas inclusive por empresas internacionais, demonstram o crescimento da candidatura Lula para presidente da República. Esse fenômeno, que tem sido interpretado como uma espécie de saudade da prosperidade, saudade de um Brasil com esperança, atemoriza enormemente os atuais governantes e os atuais donos do poder, no sentido mais amplo da palavra.
 
Eu estive há pouco tempo, por duas vezes, no México. Constatei lá fenômenos semelhantes ao que nós assistimos aqui no país (se houver tempo, numa outra oportunidade eu quero voltar a falar um pouco sobre eles). Lá o país está de cócoras diante dos Estados Unidos, como todos podem ver, entre outras coisas por esse fenômeno de construção do muro que vai separar os dois países. E que o governo mexicano não tem muito dito, a não ser tímidas reações. Em segundo lugar, a situação social é tremenda. Terceiro lugar, a situação democrática é de deterioração parecida com a nossa. Não é igual porque lá, de qualquer maneira, o presidente Peña Nieto foi eleito e aqui o Temer ascendeu por um golpe parlamentar. No entanto, quando os dois governantes olham o futuro, que coincidentemente também tem como data o ano de 2018 eles veem o temor no Brasil do caso Lula e no México a candidatura de Andrés Manuel López Obrador, candidato situado mais à esquerda, mais vinculado ao campo popular.
 
Conversando com vários analistas, pelo menos três, eles foram lá no México mais taxativos do que aqui. O que eles me disseram? López Obrador tem toda a chance de ganhar eleição e por isso mesmo podem ocorrer duas coisas, veja bem, três analistas de distintas perspectivas. Uma que haja fraude, o que é comum nas eleições mexicanas. Cárdenas foi derrubado por uma grosseira fraude há muitos anos. A segunda possibilidade é que ele venha a ser morto, assassinado. O que também é um processo de eliminação política que o México já assistiu, quando executaram o candidato Colósio que era um candidato mais progressista.
 
Felizmente no caso brasileiro eu acho que essas ameaças não estão colocadas na ordem do dia, mas nos dois casos o que sim, está colocado, é uma inconformidade daqueles que detém o poder, no caso brasileiro se apossaram criminosamente do poder, de não terem desdobramentos para o futuro. São pessoas que não podem captar esperança, não podem propor esperança pro Brasil. Portanto são projetos sem futuro. O futuro quem tem que construir somos nós, aqueles que têm uma visão crítica do que está ocorrendo no país, mas sobretudo que têm condições de propor alternativas à esse atual estado de coisas.

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *