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Disputa presidencial francesa se projeta finalmente no Caribe e na América do Sul


 
Christophe Ventura*
 
Olá para todas e todos. Saudações da França, do Velho Continente, para continuar com nossas notícias do novo mundo que nasce precisamente do Velho Continente, daqui do Velho Mundo.
Continuamos com nossa viagem pela campanha presidencial francesa, que nessa semana de 10 a 15 de dezembro se projetou finalmente no Caribe e na América do Sul.
Três líderes nacionais – Jean-Luc Mélenchon, com La France Insoumise, Marine Le Pen, com Le Front National, (A Frente Nacional) e Emmanuel Macron, do movimento En Marche! (Em Marcha!), digamos, o candidato do centro francês. Que está por um lado dentro da Social Democracia e por outro lado em alguns partidos do centro-direita.
Todos foram quase nos mesmos dias aos mesmos lugares, ou a pouca distância uns dos outros, entre Martinica, Guadalupe e Guiana Francesa.
Marine Le Pen foi à Guiana para expressar sua visão do modelo francês e da relação da França com o resto do mundo, e em particular com a América do Sul. Sua visão é uma visão de um país fechado, que teria que fechar suas fronteiras para impedir os fluxos de imigração para o território nacional. Isso ela declarou na Guiana Francesa e disse que as razões da imigração, particularmente de Suriname, para a Guiana Francesa, tem três razões: a primeira é a possibilidade para os imigrantes de terem a nacionalidade francesa, que permite os “privilégios” da nacionalidade francesa, isto é, o acesso aos direitos sociais, ao estado social, à ajuda e apoio social e também aos dispositivos para ter um acesso à saúde.
São as três razões, para ela, pelas quais há um desejo, um sentimento, uma vontade de emigrar dos países do sul para o território nacional.
Obviamente, para ela a imigração não tem a ver com a pobreza. Não tem a ver com os problemas do modelo econômico, por exemplo, de livre comércio, que estabelece as condições negativas, os termos negativos dos câmbios para os países do Sul.
Não tem a ver também, para ela, com os fenômenos de conflitos e guerras ocidentais, que provocam, facilitam, multiplicam os problemas para as pessoas que vivem no Sul, o que explica também os fluxos de imigração. Que, para ela, obviamente não tem a ver com a mudança climática, que também produz e gera um montão de refugiados climáticos.
Tudo isso não tem que existir na sua visão do país, na sua visão do planeta, na sua visão da contribuição do seu país à mudança das relações internacionais. Para ela, necessita-se apenas fechar nosso país, proteger-se e organizar uma solidariedade somente para os nacionais.
A 1500 quilômetros daqui, na Martinica, o Sr. Mélenchon, da France Insoumise, estava apresentando sua visão dos problemas e suas soluções. Para ele, as razões profundas das migrações têm que ver precisamente com todos os temas que apresentei, rapidamente: o tema do modelo econômico, da pobreza, da mudança climática e da responsabilidade muito central dos países do Norte, dos países ocidentais, na desordem mundial. Crê ele que todos esses fluxos, e sublinhou também que os fluxos de imigrantes estão ocorrendo entre países do sul, mais do que entre países do sul e do norte.
E ele propôs a submissão da França como um país que teria que reforçar, fortalecer suas relações, seus vínculos com os países do Sul para construir uma visão comum da transição ecológica do modelo econômico de desenvolvimento, por exemplo, dos territórios franceses no Caribe e América do Sul, com uma visão de ajuda para construir uma economia do mar comum entre esses países e vínculos com os organismos de integração regional entre a França e os países do subcontinente latino-americano.
Esta é uma visão completamente diferente.
E em terceiro lugar, Emmanuel Macron falou também dessa possibilidade de fortalecer os vínculos com a América Latina a partir dos territórios franceses na região. Mas sobretudo seu projeto para isso é um projeto do desenvolvimento do turismo massivo na zona, quer dizer, não sai realmente do modelo econômico e dos problemas sociais que esse modelo causa nos territórios.
E este foi, digamos, o enfrentamento entre esses três candidatos que representam um papel central na eleição francesa, esta semana no Caribe e na América do Sul.
Durante esse tempo o candidato da direita François Fillon continuou também a apresentar seu programa, e agora está muito claro que teremos um choque durante a eleição francesa de 2017. Sua visão é uma visão muito atualizada da direita europeia e eu penso que Fillon encarna realmente de maneira muito sofisticada a nova direita europeia. Muito neoliberal no econômico e muito radical-conservadora no que diz respeito aos valores, à defesa das tradições religiosas como o catolicismo, etc.
E isso, disse-o claramente quando propôs impedir a limitação da duração do trabalho legal no nosso país para que os trabalhadores sejam disputados de maneira quase sem limites, sem limites de horários, e também para cortar os mecanismos de pagamento adicional quando as pessoas trabalharem mais que as 35 horas limites no nosso país.
Tudo isso para ele teria que terminar.
E expressou também sua visão do fim da Seguridade Social, do Estado Social, e disse que as pessoas têm que ter menos direito de reembolso de seus médicos, etc, etc.
Bom, temos uma visão bem clara do futuro que François Fillon quer para a França.
As próximas semanas serão muito tensas entre todos esses candidatos e também estará sobre a mesa o tema da relação da França com a União Europeia. Disso falaremos em outra oportunidade com Nocaute. Adeus.
 
* Christophe Ventura é jornalista, redator-chefe do site “Mémoire des luttes” (www.medelu.org) e autor do livro “L’éveil d’un continent – Géopolitique de l’Amérique latine et de la Caraïbe” (Editions Armand Colin, Paris).

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