A gente vai ter que decidir se Direitos Humanos é coisa de vagabundo ou se o Fidel era um crápula porque ia contra os Direitos Humanos. Mas não era coisa de vagabundo? Então tudo bem ele ir contra os Direitos Humanos? Ou então não tá tudo bem e a gente vai ser a favor de Direitos Humanos e vai parar de falar m* do tipo “bandido bom é bandido morto”. Vai parar de falsas polêmicas de “salva o policial ou salva o traficante”. Decidam-se.
O momento está tão maluco que as pessoas ajustam as crenças e o discurso delas àquilo que elas querem defender. E não o contrário, que acho que é o mais lógico: eu tenho crença e tenho princípios e eu defendo aquilo que está dentro das minhas crenças e dos meus princípios. Ou melhor ainda: eu olho pro mundo e vou entendendo o que está acontecendo, por que o mundo é mais complexo que isso.
Sabe qual é o significado de complexo? Cheio de pregas. E eu não estou falando nada gay, estou falando da palavra mesmo. Complexo é cheio de pregas. Cheio de reentrâncias, cheio de outros caminhos, cheio de outras visões. O ódio chapa tudo.
Essas coisas acontecem quando o ódio vence a razão. E a gente tem que admitir que o ódio venceu. O princípio é o ódio, a ética é o ódio e tudo que o ódio leva: a vingança, o olho por olho dente por dente, a pena de morte… Você precisa odiar e seus princípios e seus parâmetros se ajustam ao ódio que você precisa exercer.
Você precisa odiar o Fidel por que ele é de esquerda e comunista, então você é a favor dos Direitos Humanos, mas você precisa odiar o Lula, por que ele é de esquerda e ele é comunista, aí você é contra os Direitos Humanos. Que tipo de lógica tem no seu ódio? Nenhuma. Por que ódio não é lógica, ódio é sentimento, ódio é víscera. Víscera não tem lógica, víscera não tem raciocínio. E é claro que a gente odeia, é claro que a gente sente raiva. Mas o ódio não dá margem pra o que há de mais humano que é a complexidade, a contradição, a falha. A gente é passível de erro, todo mundo tem direito a uma segunda chance, todo mundo tem direito a um julgamento justo, todo mundo tem direito a dignidade, todo mundo tem direito à justiça social.
Mas o ódio cega e só importa estar certo, vencer. E como pro ódio interessa vencer, o ódio venceu.
Mas eu, como algumas pessoas, ainda carrego a chama fraca, mas que vai passar por esse tempo trevoso, da persistência no amor, da perplexidade pela vida, da luta pela igualdade social, da luta pelos Direitos Humanos a todos os humanos. Sem ajustar as minhas crenças só pra ficar contra aquilo que eu odeio.

Gustavo Horta says:
Violência em Brasília mostra os limites do golpe e escancara a fraqueza de Michel Temer
> https://gustavohorta.wordpress.com/2016/11/30/violencia-em-brasilia-mostra-os-limites-do-golpe-e-escancara-a-fraqueza-de-michel-temer/
“…É que essa repressão toda, com um congresso completamente controlado e submisso aos interesses dos grandes bancos e instituições financeiras que comandam a economia mundial, representa um reconhecimento tácito de que Michel Temer e seu governo “de facto” perderam o controle da situação e lançam mão da repressão policial para conter, momentaneamente as manifestações contrárias aos planos de desmanche do Estado brasileiro e de retirada de direitos sociais e trabalhistas.
A questão agora é de verificar como os protestos vão evoluir em diferentes partes do território brasileiro. …”
alvaro says:
Ana Roxo, suas postagens são ótimas, você é daquelxs que põe as pessoas a pensar.