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Carlos Ron: “Os Estados Unidos não têm autoridade para impor sanções a outros países”

Carlos Ron é Encarregado de Negócios da Embaixada da Venezuela em Washington, DC. Nessa entrevista para o Nocaute, ele comenta as relações entre seu país natal e os Estados Unidos, as recentes sanções impostas pela administração Trump ao vice-presidente venezuelano e o papel desempenhado pela Venezuela na construção de um novo paradigma de relações internacionais, embasado na cooperação, complementação e solidariedade.

 
 
Muito obrigado pela oportunidade novamente de estar aqui no Nocaute, compartilhando com vocês algumas ideias sobre a situação da relação da Venezuela e os Estados Unidos.
Recentemente, os Estados Unidos voltaram a sancionar a Venezuela, colocando o nosso vice-presidente Tarek El Aissami em uma lista de pessoa envolvidas com o narcotráfico. Em primeiro lugar, a Venezuela não reconhece essa sanção, primeiramente porque os Estados Unidos não têm autoridade para colocar sanções sobre outros países, para fazer avaliações sobre o sistema político, o sistema de segurança, etc. E é uma medida unilateral, extraterritorial e por tal, é contrária ao Direito Internacional. Então a Venezuela não reconhece essas sanções e também Venezuela rejeita a noção, o conceito dessa sanção, pelo fato de que não foram apresentadas provas, não tem nenhum conteúdo, e é claramente um embasamento político que está sendo feito para fazer esse tipo de sanção. E tem que entender que toda vez que o governo venezuelano é sancionado, seja pelo Congresso, seja por [ato] executivo da Presidência, isso ajuda, de alguma maneira, a manter tensões políticas dentro da Venezuela, porque isso é se colocar – coloca os Estados Unidos, coloca os políticos estadunidenses – tomando um lado dentro da disputa política venezuelana.
Isso é um ato de intervenção ingerencista dentro da nossa política nacional e, infelizmente esse lado que fica sendo apoiado com essas ações, que é o lado que eles defendem, que vem para cá pedir a ativação da carta democrática da OEA, que vem pedir outras sanções contra a Venezuela, é precisamente o lado que também promove a violência dentro da Venezuela. É o lado que não respeita o sistema democrático, não respeita a Constituição, e muitas vezes, já desde a tentativa de golpe contra o presidente Chávez em 2002 e os outros atos de violência mais recentes, tem tentado destruir o processo democrático venezuelano, destruir uma democracia que não é só representativa, mas que é participativa e protagônica, que procura que as pessoas sejam os que façam, junto com o governo e o apoio do Estado, a construção do seu próprio destino. Por isso que é muito importante que os Estados Unidos e todos os países respeitem a democracia venezuelana, respeitem os processos internos da Venezuela, que respeitem o povo venezuelano a deixar nós decidirmos nosso próprio futuro.
Atualmente, é bom reiterar que a posição do governo venezuelano para com os Estados Unidos, inclusive com o novo presidente Donald Trump, é de estender a nossa disposição de ter relações de diálogo e respeito entre dois países soberanos, em termos de igualdade, de acordo ao Direito Internacional. Isso tem sempre sido a política do governo bolivariano da Venezuela e se mantém dessa forma. Temos que lembrar que a Venezuela é ainda um país que está na lista, considerado uma ameaça à política exterior e à segurança nacional dos Estados Unidos por causa de um decreto assinado pelo presidente Barack Obama, que foi reiterado, foi estendido por mais um ano dias antes de ele entregar o poder para o novo presidente Trump. Isso nós rejeitamos – e o povo da América Latina rejeita, o povo venezuelano rejeita, inclusive outros governos da América Latina têm rejeitado, porque todo mundo entende que o transfundo desse documento é político e que a Venezuela não representa uma ameaça para ninguém. Pelo contrário: Venezuela é um país comprometido com a paz, comprometido com a integração regional, comprometido com a justiça social e o desenvolvimento humano.
É por isso que hoje em dia a Venezuela tem a presidência do Movimento dos Não-Alinhados, e desde aí, a gente vendo a situação atual no mundo com muita preocupação – as tendências conservadoras, xenófobas, tendências que procuram voltar a uma situação de guerras ao redor do mundo -, desde a presidência da NOAL a Venezuela está propondo um diálogo de civilizações, um diálogo para a paz, para o entendimento entre as culturas. A gente não está mais em capacidade de cometer os mesmos erros do passado, então nós achamos que os Estados Unidos deveriam aproveitar a oportunidade e sentar com sinceridade, e ter um diálogo construtivo diplomático e não ver a Venezuela como ameaça, mas sim entender que o papel da Venezuela na região é um papel de ajuda à estabilização, de ajuda ao fortalecimento da região e ao fortalecimento dos povos da região – que no fim é isso o que a gente está procurando.
A gente tem uma relação de solidariedade muito bonita criada desde o governo do presidente Chávez, sob os princípios da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, os princípios da ALBA, que são exatamente isso: cooperação, complementação, solidariedade, trazer isso para as relações internacionais. Faz uns dias, em comemoração do quarto ano da partida física do comandante Chávez, se celebrou em Caracas uma cúpula dos países ALBA, com a presença dos 12 países membros, e aí se discutiram formas de continuar esse processo de solidariedade, de complementariedade na região, e também uma das decisões importantíssimas que surgiu dessa cúpula foi fazer um chamado para as nossas embaixadas dos países da ALBA e ver como cooperar com essa população nos Estados Unidos que agora pode enfrentar problemas legais por causa da situação em que os migrantes se encontram. E isso é um ato de solidariedade com nossos povos e com esse povo que também faz parte da fábrica, da composição dos Estados Unidos. E, de novo, o compromisso é um compromisso para a justiça social, é um compromisso para o diálogo, para a compreensão das pessoas, para evitar todo o tipo de racismo, xenofobia, agressão e para entender cada um a posição do outro e poder levar as relações em paz e de maneira construtiva pelo benefício do nosso povo, que é o mais importante de tudo. Muito obrigado.
 

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