Mundo

Nova York e o silêncio devastador das ruas

O coronavírus mergulha a capital do mundo em cenas de um filme de ficção apocalíptico que todos têm a impressão de ter assistido; a cidade não é a mesma porque as pessoas não são as mesmas.

Sobre o gramado do Central Park, catorze tendas brancas dão forma a mais um dos muitos hospitais de campanha espalhados pela cidade Nova York. O coronavírus mergulha a capital do mundo em cenas de um filme de ficção apocalíptico que todos têm a impressão de ter assistido. O silêncio devastador das ruas adentra teatros da Broadway fechados como quase tudo na cidade desde meados de março. Apenas supermercados, farmácias e serviços essenciais seguem abertos.

A cidade não é a mesma porque as pessoas não são as mesmas. Jornais, programas de rádio e TVs revivem os sentimentos provocados pelos ataques de 11 de setembro de 2001, embora médicos de Nova York descrevam a situação atual como pior que o 11 de setembro. “O terror agora é semelhante ao terror da época, uma trama perversa de vulnerabilidade, desamparo e incapacidade de adivinhar o que vem a seguir, mas há algo mais cruel no trabalho desta vez, nos é negado o consolo da comunidade exatamente quando mais precisamos”, escreveu o jornalista Frank Bruni ao New York Times.

"A cidade não é mais a mesma"

“O coronavírus mergulha a capital do mundo em cenas de um filme de ficção apocalíptico…”

Em Nova York o vazio na 5ª Avenida esvazia também a pista de patinação do Rockefeller Center e os parques sempre cheios – sobretudo agora que é primavera; o isolamento e o distanciamento social esvaziam a Times Square mesmo com suas luzes acesas. Vez ou outra passa alguém apressado pela estação World Trade Center, gente que só quer chegar logo em casa ou no trabalho porque o som da sirene deixou de ser, para muitos, um ruído urbano corriqueiro.

A pandemia deixa Nova York irreconhecível, bicicletas enfileiradas e motoristas de táxi à espera de passageiros que são cada vez mais raros. Os restaurantes onde normalmente amontoam-se clientes à espera de uma mesa também estão fechados com avisos de que não se sabe quando tudo volta a funcionar. Na Grand Central Station é possível encontrar alguns poucos passageiros que tentam voltar para casa de última hora ou moradores de rua que se acomodam nas escadarias porque a rua já não é mais a mesma.

O estado de Nova York, que possui um terço da população da Itália e metade da população da Espanha, começa a se aproximar dos números desses dois países devastados pelo Covid-19 para a contagem diária de mortes. Na manhã desta sexta-feira (3), o governador Andrew Cuomo confirmou 562 mortes por coronavírus nas últimas 24 horas (mais da metade dos casos estão na cidade de Nova York). Os Estados Unidos já contabilizaram 1.169 mortes em um único dia e em mais um novo recorde mundial. Em todo país, o número total de infectados, até a publicação deste artigo, era de 188.247 e 3.921 mortos.

"240 mil americanos podem morrer de coronavírus"

"matando mais do que as guerras da Coreia e do Vietnã juntas..."

Mesmo que as medidas físicas de distanciamento sejam mantidas, autoridades da Casa Branca já alertaram que até 240 mil americanos podem morrer de coronavírus – matando mais do que as guerras da Coreia (1950-1953) e do Vietnã (1955-1975) juntas (94 mil mortos). Questionado sobre quando a vida em Nova York deve voltar ao normal, Cuomo disse que é muito cedo para pensar nisso: “Ninguém sabe ao certo, ninguém sabe o que vai acontecer. Acho que não voltaremos ao normal, acho que chegaremos a um novo normal”.

"Ninguém sabe o que vai acontecer"

"Acho que não voltaremos ao normal, acho que chegaremos a um novo normal”.

Clarissa Carvalhaes
Texto e fotos

Notícias relacionadas