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Votos do Caribe complicam a reeleição de Almagro à OEA

A reeleição do trumpista uruguaio Luís Almagro à presidência da OEA começa a balançar. O indispensável apoio dos EUA já não é tão seguro. Quem corre por fora é a equatoriana María Fernández Espinoza, aliada de Lenín Moreno e desafeta de Rafael Correa. Consultado informalmente para ser candidato consensual, o brasileiro Celso Amorim respondeu com um polido mas decidido “não”.

A luta por votos na Organização dos Estados Americanos (OEA) começou a preocupar o uruguaio Luis Almagro, que buscará sua reeleição em 20 de março. O uruguaio, diretamente alinhado com os Estados Unidos, tem uma adversária competitiva: María Fernanda Espinosa, que foi chanceler do Equador e presidente da Assembléia Geral das Nações Unidas.

Espinosa aproveitou a cúpula do México da Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe (CELAC) para avançar nas negociações contra a Almagro. Com o impulso do México, a equatoriana busca o voto de pequenos países cujo voto vale tanto quanto o de uma potência.

Nesse sentido, os quinze Estados membros da Comunidade do Caribe (Caricom) apoiam no momento a equatoriana. São Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Monserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago.

A esses países seria adicionada a Argentina, que votará em quem tiver mais chance de derrotar Almagro. Nicarágua e Panamá concordaram em votar com os argentinos. O governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner está de fato trabalhando para obter votos dos estados associados do Caricom, que são Anguilla, Bermuda, Ilhas Cayman, Ilhas Turks e Caicos e Ilhas Virgens Britânicas. Esses estados poderiam acompanhá-los porque têm com a Argentina acordos que os ajudam com inúmeros projetos de cooperação.

Com esses votos, María Fernanda Espinosa alcançaria confortável maioria para derrotar o Almagro em um universo de 33 votos. O terceiro candidato, o embaixador peruano nos Estados Unidos, Hugo de Zela, o atualmente é apoiado apenas por seu país.

No entanto, as peças do outro lado do xadrez também se movem: o atual chefe da OEA tem o apoio público dos Estados Unidos, que arrasta vários países com governos de centro-direita que farão o que Donald Trump pedir. Nesse sentido, os EUA levariam Brasil, Equador, Colômbia, Canadá, Paraguai, Bolívia, Chile e Uruguai. A estes também se acrescentariam Honduras, Guatemala e El Salvador.

O que poderá dar um impulso a Almagro é se os Estados Unidos se engajarem na busca de votos nas Antilhas. Não seria a primeira vez que isso acontece. Em julho de 2005 a Colômbia lançou como candidato a presidente do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento o jovem economista neoliberal Luís Alberto Moreno, nascido nos Estados Unidos e filho de família colombiana quatrocentona. Venezuela e Brasil concorriam com candidatos próprios, respectivamente o ministro das Finanças Nelson Merentes e o economista João Sayad, ex-ministro do governo Sarney. Lula e Chávez fizeram um acordo: a Venezuela retiraria sua candidatura, em apoio a Sayad, em troca de um compromisso: se eleito, o brasileiro nomearia Merentes 1º Vice-Presidente do BID (cargo então ocupado por Sayad).

Negócio fechado, Chávez telefonou a seus amigos caribenhos e antilhanos – compradores do petróleo venezuelano a preços camaradas – para informar que o candidato a presidente não era mais Merentes, mas João Sayad, do Brasil. Informados da conspiração, o presidente George W. Bush e a secretária de Estado Condoleezza Rice entraram em ação e chamaram cada chefe de Estado da região com uma ameaça curta e grossa: se Sayad ganhasse, os países que o apoiassem perderiam toda forma de ajuda econômica dos Estados Unidos. O acordo desmerengou, o neoliberal Luís Alberto Moreno ganhou a eleição e está lá até hoje.

Se jogaram pesado na disputa pelo BID, cuja importância política e estratégica não se compara à da OEA, por que razão os Estados Unidos não fariam o mesmo agora, em um organismo historicamente submisso a Washington?

Mas Trump está encontrando obstáculos para aderir à reeleição de Almagro. Enquanto o secretário de Estado Mike Pompeo manifestou publicamente apoio ao uruguaio, o presidente dos EUA já enfrenta resistência interna. A posição de Almagro pró-aborto gerou o repúdio de lideranças republicanas dos Estados Unidos, que pediram a Trump para não apoiar a reeleição do uruguaio. Prosseguem as pressões de grupos cristãos conservadores e antiaborto, que pretendem apoiar Trump em sua campanha à reeleição. Fontes que participam das negociações da OEA garantiram que, no meio do processo de impeachment e na busca de votos para a reeleição, Trump tem pouquíssimo interesse em abrir um novo foco de descontentamento entre seu eleitorado.

Ex-ministra de Relações Exteriores do Equador, María Fernanda, no entanto, está longe de ser uma unanimidade entre os anti-Almagro. Para os seguidores do ex-presidente Rafael Correa, “Espinosa é uma impostora, assim como Almagro”. Segundo o próprio Correa, “assim como Moreno, Espinosa é uma traidora da Revolução Cidadã”. Ligada a Lenín Moreno, desde que este se elegeu presidente ela se tornou a principal articuladora do processo de perseguição política implementado neste momento no Equador. Em um caso típico de lawfare, Espinosa trabalhou diretamente para que o vice-presidente Jorge Glas fosse condenado, tal como ocorreu com o ex-presidente Lula no Brasil.

Cogitado para ser o tertius, cuja candidatura seria considerada favorita, Celso Amorim, ex-chanceler e ex-ministro da Defesa de Lula, respondeu às consultas com um polido porém sonoro “não”.

(Nocaute, com LPO/Argentina)

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