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A Venezuela, organizando o movimento

Na segunda reportagem da série sobre sua viagem de oito dias à Venezuela, o jornalista Pedro Carrano conta como as organizações populares estão lutando para colocar o país em ordem.

Reportagem/Parte 2

– Sentem-se companheiros! Sejam bem vindos! Aqui, a casa é de vocês, afinal, a Venezuela é uma Pátria Grande, não é mesmo?

Durante nossa viagem à Venezuela, fomos apresentados a diversas experiências de organizações populares. A Organização Camponesa Bolívar Zamora, preocupada com a questão da soberania alimentar, o Movimiento de Pobladores, que atua em áreas beneficiadas pela construção de moradias, conhecemos também a Comuna de Lídice del Alto, em um bairro de Caracas, que trabalha em experiências de juntas comunais para resolver os problemas de seis mil famílias nas áreas de saúde, produção alimentar, educação, comunicação, infraestrutura e cultura. 

A nossa agenda era intensa. De manhã, de tarde e de noite, muitos debates com integrantes do governo, jornalista e professores universitários. Uma parte do dia era reservada para conhecermos as experiências das organizações populares. Os debates, sempre muito francos, abertos e críticos. Curioso que não sentimos aquele ufanismo com relação à situação atual do país. A avaliação que fizemos é de que agora é o momento de buscar um novo modelo que substitua a dependência dos recursos vindos do petróleo.. Todos sabem que o país passou por momentos difíceis logo após a morte de Chávez, quando começaram as retaliações do governo norte-americano e o preço do petróleo caiu.

As organizações populares são marcas presentes no país desde o começo do governo de Hugo Chávez e estão presentes na Constituição venezuelana. Mas, agora, são pautas urgentes para realizar um bom trabalho e lutar contra o bloqueio econômico, a variação cambial do dólar no mercado paralelo, a desvalorização da moeda venezuelana e os baixos salários no país. 

Desde o dia 5 de março de 2013, com a morte de Chávez, a guerra econômica só aumentou. Dois anos depois, em 2015 o presidente Barack Obama decretou que a Venezuela era um inimigo do Tio Sam, dando início a um verdadeiro cerco contra a sua autonomia.

O bloqueio econômico é sentido no dia a dia do país. A ausência de empresas de cartões de crédito como o Visa, o Mastercard, a interferência no comércio internacional, a dificuldade de importar remédios e maquinários necessários para a nova fase de produção.

O bloqueio econômico decretado por Donald Trump, este ano, piorou a situação e foi considerado um arrocho total ao país, já que proíbe todas as empresas de fazer qualquer tipo de transação comercial ou financeira com empresas públicas ou privadas, sob pena de punição. Isso inclui o bloqueio no valor de 7 bilhões de dólares em ativos da Citgo Petroleum Corporation, subsidiária da PDVSA nos EUA. Além disso, a lei do bloqueio ameaça também países que têm interesse em fazer transações com a Venezuela. 

A ação dos principais bancos americanos, sobretudo do Citibank, em proibir as operações financeiras da Venezuela, em um mundo cada vez mais conectado e transnacional, prejudica as operações da Petróleo de Venezuela S.A, a PDVSA. 

Assim mesmo, ao contrário do que a mídia retrata, ou deixa de retratar, a população acessa de forma gratuita serviços básicos de saúde, educação, água e luz. Os programas sociais têm uma cobertura ampla e a atual rede de abastecimento alimentar alcançou, em 2017, quase 11 milhões de famílias venezuelanas. Há uma tentativa de fomentar as comunas e os territórios de organização popular. As pessoas seguem seu caminho, com dificuldades, mas também com muitas possibilidades. 

Amanhã, a última parte da nossa viagem à Venezuela.

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Pedro Carrano é jornalista, militante da organização Consulta Popular e coordenador do jornal Brasil de Fato, no Paraná.


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