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‘Assange tem sintomas de vítima de tortura’, diz ex-diplomata britânico

Em entrevista ao site Sputnik, Craig Murray, ex-diplomata do Reino Unido, contou sobre o estado de Julian Assange após vê-lo durante audiência na corte britânica.

Do Sputnik

Na última segunda-feira (21), o ativista e fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, foi levado a tribunal na Corte de Magistrados de Westminster em Londres, Reino Unido.

Um dos presentes era Craig Murray, ex-embaixador do Reino Unido e atual ativista em defesa dos direitos humanos. Em entrevista à Sputnik Internacional, Murray contou o que viu e falou sobre o estado físico e mental de Assange.

“Bom, eu fiquei muito chocado ao vê-lo na corte na segunda. A sua aparência mudou radicalmente. Ele envelheceu uns vinte anos desde a última vez que o vi há um ano. Eu percebi que ele perdeu uns 15 quilos ou mais, desde que entrou para a prisão de Belmarsh. Tudo isso em apenas poucos meses”, afirmou Murray.

Além disso, o britânico também disse que Assange sofreu queda de cabelo e começou a mancar, coisa que antes não fazia.

Fora a deterioração de sua condição física, Assange apresentou problemas para expressar seus pensamentos assim como dizer seu nome e sua data de nascimento, de acordo com Murray.

“Quando ele tentou dizer alguma coisa no final, quando perguntado se ele entendia os procedimentos, Assange disse que não entendia muito bem o que estava acontecendo. Logo em seguida, ele tentou fazer uma declaração sobre a injustiça do processo e a falta de instrumentos para a elaboração de sua defesa, no entanto, ele não conseguia achar as palavras”, afirmou Murray.

Solitária

O ex-diplomata britânico também ressaltou as condições em que Assange é mantido preso no Reino Unido. Segundo ele, o fundador do WikiLeaks é confinado em uma solitária.

“Eu não sei bem ao certo o que têm feito com ele. Eu sei que ele é confinado em uma solitária. Ele é vigiado o tempo todo. Ele só sai da cela 45 minutos por dia […] Durante os exercícios ele tem um contato muito limitado com poucos prisioneiros. Certamente este confinamento solitário é uma forma de tortura, mas eu não sei o que tem sido feito com ele além disso”, acrescentou Murray.

Baseado em sua experiência com pessoas que foram submetidas à tortura no Uzbequistão e Serra Leoa, o ex-diplomata acredita que Assange seja vítima de tortura.

“Eu sei como elas [vítimas de tortura] se comportam […]. Ele [Assange] tem todos os sintomas de uma vítima de tortura, em termos de desorientação e na dificuldade em expressar sua vontade e falar coerentemente”, afirmou o ativista.

‘Atitude parcial’

Observando o andamento do processo no tribunal, Murray disse que a atitude da juíza, Vanessa Baraitser, se revelou parcial, visto que a todo tempo a magistrada atuava em favor da promotoria, sem mesmo dar explicações.

Desta forma, Murray disse que não haveria grande diferença entre Assange ser julgado tanto no Reino Unido quanto nos EUA, mas acredita que em uma corte superior dos EUA Julian Assange teria maiores chances de vencer.

“Eu acredito que nos EUA, em uma corte superior, ele poderia vencer, porque a Primeira Emenda é um pilar absoluto da sociedade política americana”, declarou Murray.

Interferência dos EUA

Também a audiência foi executada com constante interferência de representantes da Justiça dos EUA, segundo o entrevistado.

“Eles [oficiais da Justiça dos EUA] estavam dando instruções aos promotores. Não era a Promotoria Real Britânica que estava instruindo os promotores. Era a própria Promotoria dos EUA. Eu devo dizer que fui testemunha disso”, afirmou Craig Murray.

Desta forma, o britânico revelou que os promotores de Assange buscavam conselhos diretamente dos oficiais da Justiça dos EUA presentes na audiência.

Grande mídia e Assange

Ademais as acusações feitas pelos Estados Unidos, Julian Assange foi acusado de estupro na Suécia. Desde então, o ativista se tornou foco da grande mídia e, segundo Murray, teve sua imagem suja.

Com o início de seu asilo na embaixada equatoriana na capital britânica, alguns acreditaram que Assange buscava uma forma de fugir da acusação de estupro na Suécia. No entanto, Murray ressalta que o objetivo central do acusado era fugir da possibilidade de extradição aos EUA.

Para Murray, os reais motivos de Assange não foram compreendidos pela grande mídia.

“Ele sempre disse que a razão de ir para a embaixada do Equador não foi para não ir à Suécia. Ele temia a extradição aos EUA. Agora que ele foi levado a custódia, as alegações suecas desapareceram […] Está assim provado que isso é verdade. As acusações suecas foram só um pretexto. Elas nunca foram sérias. Isso foi elaborado para levá-lo a custódia e depois enviá-lo para os EUA”, contou o britânico.

Após publicar telegramas de missões diplomáticas dos Estados Unidos e denunciar supostos crimes de guerra de Washington no Iraque, Julian Assange se tornou alvo de acusações pelo governo americano.

Para evitar sua extradição aos EUA, Assange passou sete anos em asilo na embaixada do Equador em Londres. No entanto, em 11 de abril, após permissão do governo equatoriano, Assange foi preso pela Polícia do Reino Unido e levado a julgamento, tendo como fundo o pedido de extradição do governo americano.

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