Super-Revolucionários

Franz Fanon, ator e pensador da luta anticolonial

‘Abandonemos essa Europa que não para de falar no homem, ao mesmo tempo que o massacra onde quer que o encontre, em todos os cantos de suas ruas limpas, em todos os cantos do mundo’.

Em sua breve vida, Franz Fanon (1925-1961) deixou um legado imenso. Lutou sempre e construiu uma obra essencial para pensar a libertação de povos oprimidos pelo colonialismo e pelo racismo. Resistiu aos fascistas de Vichy na Martinica, sua terra natal, juntou-se ao Exército da França Livre contra os nazistas e, finalmente, engajou-se com todas as forças contra o colonialismo francês na Argélia.

Formado em medicina e psiquiatria, Fanon tinha apenas 36 anos quando uma leucemia o matou, pouco tempo depois de escrever sua obra mais difundida, Os condenados de terra. Sua experiência pessoal, bem como o radicalismo filosófico que adota, fizeram de Fanon um pensador da libertação do colonizado.

Essa libertação deveria ser não apenas “nacional”: era preciso libertar a humanidade do racismo cotidiano. O processo colonial estava, demonstrou ele, intrinsecamente ligado ao racismo do dia a dia. É preciso descolonizar as mentes tanto quanto os países.

Fannon passa a integrar o baralho Super-Revolucionários, que Opera Mundi e o Nocaute publicam, reunindo informações fundamentais sobre grandes figuras do pensamento e da ação transformadora.

O nosso baralho já trouxe as cartas de Fidel Castro, Luís Carlos Prestes, Frida Kahlo, Alexandra Kollontai, Bela Kun, Nelson Mandela, Mao Zedong, Simone de Beauvoir, Ho Chi Minh, Leon Trotsky, Olga Benario, Karl Marx, Salvador Allende, Tina Modotti, Carlos Marighella e Rosa Luxemburgo.

Com concepção e texto de Haroldo Ceravolo Sereza e ilustrações de Fernando Carvall, essas cartas, numa análise séria, mas sem perder o humor jamais, atribuímos “notas” à atuação desses grandes nomes da revolução.

A ideia é, depois de alcançarmos um número suficiente de cartas, montar um jogo inspirado no conhecido Super Trunfo e publicar um livro com os cards e informações sobre esses super-revolucionários.

As notas são provisórias e estão sujeitas a modificação. 

REBELDIA 10

Fanon participou diretamente de duas guerras de libertação: foi soldado do Exército de De Gaulle, depois de deixar Martinica, então controlada pela Marinha da França colaboracionista de Vichy, na Segunda Guerra Mundial e, em 1956, juntou-se à Frente de Libertação Nacional da Argélia, na luta contra o imperialismo francês.

DISCIPLINA 7

Na Segunda Guerra Mundial e depois em seus estudos em Lyon, onde tornou-se médico e psiquiatra, Fanon resistiu ao racismo cotidiano e o denunciou. Quando a tropa aliada cruzou o rio Reno e entrou na Alemanha, junto com os fotojornalistas, o regimento de Fanon foi “embranquecido”, com a retirada dos soldados não brancos. 

TEORIA 9

O livro Pele Negra, Máscaras Brancas (1952), em que analisa os efeitos psicológicos para os negros da sujugação colonial, que foi rejeitado como tese de doutorado (ele apresentaria outro trabalho para obter o título), mas publicado pela Édition du Seuil, foi a primeira obra de uma rápida e prolífica produção anticolonial e antirracista, sob a influencia de intelectuais como Aimé Cesaire (que foi professor de Fanon na Martinica), Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Jacques Lacan. 

POLÍTICA 6

Apesar de morto precocemente, vítima de uma leucemia, Fanon teve participação significativa na luta política africana. Em 1956, expôs, na “Carta de renúncia ao Ministro Residente”, sua ruptura com a política assimilacionista francesa e acabou expulso da Argélia em 1957. O hospital em que trabalhava e onde, originalmente, devia tratar de soldados e torturadores que combatiam a FLN argelina, foi desmontado, considerado um “ninho de rebeldes”. Fanon exilou-se em Túnis e, depois, foi embaixador do governo provisório em Gana. Muitos de seus escritos do período, alguns sobre táticas militares, foram, depois, reunidos no livro Rumo a uma Revolução Africana.

COMBATIVIDADE 7

Além da vida revolucionária, Fanon, sobretudo com Os condenados da Terra, indicou motivações e caminhos para a luta e para a teoria pós-colonial, sobretudo na África e na América Latina. Che Guevara em Cuba, Ali Shariati no Irã, Steve Biko na África do Sul e Malcolm X nos Estados Unidos são alguns dos revolucionários que seguiram trilhas abertas por Fanon. 

INFLUÊNCIA 10

Os livros e as ideias de Fanon influenciaram e continuam a influenciar gerações de rebeldes anti-imperialistas e anticoloniais. Os estudos negros, e mais especificamente, as teorias do Afropessimismo e da Teoria Crítica Negra, desenvolvidas por autores como Sylvia Wynter, David Marriott, Frank B. Wilderson III e outros, utilizam conceitos como “zona do não ser”, a psicanálise da negritude e a ontologia e a fenomenologia desenvolvidas por Fanon com pressupostos de suas formulações.

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