Super-Revolucionários

Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança

“Um partido comunista não pode, em nome de uma suposta democracia abstrata e acima das classes, abdicar do seu papel revolucionário e assumir a posição de freio dos movimentos populares”.

Luís Carlos Prestes (1898-1990) é uma das figuras de esquerda mais influentes na história do Brasil no século XX. Nascido em Porto Alegre (RS), formado em Engenharia Militar no Rio de Janeiro (1919), participou do movimento que ficou conhecido como Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em 1922, o primeiro levante do movimento tenentista, que tentava pôr fim ao governo autoritário e oligárquico da República Velha.

Nessa época, Prestes era apenas um militar progressista. Punido e enviado a Santo Ângelo, interior gaúcho, o já capitão liderou um novo levante, em outubro de 1924. Os militares que aderiram ao grupo se juntariam ao grupo paulista, comandado por Miguel Costa, dando início à chamada Coluna Miguel Costa-Prestes, ou simplesmente Coluna Prestes, que percorreu mais de 25 mil quilômetros dentro do território brasileiro, com a bandeiras do voto secreto, da defesa do ensino público e da obrigatoriedade do ensino secundário para toda a população. O grupo se dispersou apenas em 1927.

Prestes e grande parte do seu grupo se refugia na Bolívia, onde o capitão inicia sua aproximação com o marxismo. Prestes se tornaria o principal líder dos comunistas brasileiros, que, apesar da ilegalidade na maior parte de sua existência, teriam papel central no combate ao autoritarismo getulista, na organização sindical do país, na luta pela reforma agrária e pela organização sindical. 

O PCB foi, até o surgimento do PT, em 1981, o mais importante partido político dos trabalhadores brasileiros. Prestes tornou-se conhecido como “O Cavaleiro da Esperança”, nome dado a um livro de Jorge Amado em sua homenagem.

Prestes é a mais nova carta do baralho Super-Revolucionários, projeto de Opera Mundi e do Nocaute, o blog do escritor e jornalista Fernando Morais. Regularmente, os sites publicam cartas de grandes nomes da luta social e do pensamento revolucionários.

Nosso baralho já trouxe as cartas de Frida Kahlo, Alexandra Kollontai, Nelson Mandela, Mao Zedong, Simone de Beauvoir, Ho Chi Minh, Leon Trotsky, Olga Benario, Karl Marx, Salvador Allende, Tina Modotti, Carlos Marighella e Rosa Luxemburgo.

Tão logo alcancemos um número suficiente de cartas, lançaremos um jogo inspirado no conhecido Super-Trunfo, junto com um livro com informações essenciais sobre esses super-revolucionários.

Numa análise séria, mas sem perder o humor jamais, atribuímos “notas” à atuação de homens e mulheres que dedicaram suas vidas à contestação e à revolução.

As notas são provisórias e estão sujeitas a modificação.

REBELDIA 8

Prestes era um rebelde antes de aderir ao socialismo. Participou de revoltas tenentistas e liderou a Coluna Miguel Costa-Prestes, feito militar que o tornou uma lenda viva ainda jovem, referência para militares e militantes progressistas durante todo o século XX.

DISCIPLINA 10

Durante quase toda a sua trajetória no Partido Comunista, Prestes foi um representante denodado da linha política da Terceira Internacional, o que lhe rendeu não poucas críticas e também significou cisões que levaram à formação do PC do B, em 1962 (fração do partido que aderiu à liderança chinesa), e da ALN (Ação Libertadora Nacional) de Carlos Marighella, em 1967. Deixou o partido em 1980, após fazer críticas à linha adotada pelo partido durante os anos em que viveu no exílio. Na “Carta aos Comunistas”, escreveu: “Um partido comunista não pode, em nome de uma suposta democracia abstrata e acima das classes, abdicar do seu papel revolucionário e assumir a posição de freio dos movimentos populares

TEORIA 7

Mais que um teórico, Prestes foi um líder de partido, capaz de organizar os comunistas em momentos difíceis: após o fracassado levante da Aliança Nacional Libertadora, em 1935; no curto período de legalidade (entre 1946 e 1948), quando elege-se senador constituinte; na dura perseguição sofrida já nos primeiros dias do regime militar, em 1964. Mesmo na clandestinidade, manteve o partido combativo, rejeitando, no entanto, a luta armada por razões pragmáticas.  

POLÍTICA 8

Prestes foi um grande estrategista político, muitas vezes criticado pelo voluntarismo, outras por excesso de cautela. Fiel aos ideais do partido, defende Getúlio Vargas após o fim da Segunda Guerra, mesmo tendo sua esposa, Olga Benario Prestes, sido enviada por Vargas ao regime nazista, onde foi morta, num campo de concentração. O otimismo com a proximidade entre Estados Unidos e União Soviética após o fim do conflito com o fascismo acaba em 1948, quando se consolida a Guerra Fria, e Prestes e o PCB adotam uma linha mais radical.   

COMBATIVIDADE 8

A atuação do PCB e de Prestes sob a clandestinidade entre 1945 e 1964 força o PTB, partido de Getúlio Vargas e João Goulart, a adotar políticas nacionalistas e progressistas. Havia expectativa de que Prestes e Goulart, juntos, pudessem unir as forças antigolpe, mas nenhum dos dois consegue ou mesmo tenta acionar o chamado “dispositivo militar”. A não preparação do PCB para resistir a um eventual golpe fragiliza a posição da direção do partido com a base mais aguerrida.

INFLUÊNCIA 9

Por sua persistência, pela capacidade organização e liderança, mas também pela popularidade alcançada em sua longa trajetória, Prestes permanece como uma referência para lutadores de diferentes partidos políticos progressistas brasileiros, inclusive os de matriz nacionalista, como o PDT de Leonel Brizola, que foi apoiado por Prestes em suas disputas eleitorais para governador (1982) e presidente (1989).

Notícias relacionadas