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Evo passa a perna em Bolsonaro e entrega Battisti diretamente à Itália

Na esperança de exibir Battisti como um troféu, PF manda avião a La Paz para transportá-lo ao Brasil. A aeronave voltou vazia: a Bolívia atendeu ao pedido de Roma e o extraditou para a Itália, sem a escala-show em Brasília, pretendida pelo governo brasileiro. O jornalista Ricardo Kotscho pergunta: “Quem vai pagar o avião da PF que foi buscar o Battisti e voltou vazio? O Queiroz?”

O italiano Cesare Battisti, condenado na Itália à prisão perpétua por quatro homicídios nos anos 70, recebeu do Brasil o status de refugiado durante o governo do ex-presidente Lula.

Desde o golpe, em 2016, que depôs Dilma Rousseff, a situação de Battisti se complicou. E em 2018 o STF autorizou sua prisão e a extradição para a Itália foi assinada pelo então presidente Michel Temer.  

Em 14 de dezembro, o italiano passou a ser considerado foragido. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, nos bastidores, a polícia dizia ter certeza de que iria pegar Battisti, supondo estar monitorando-o por meio de celular.

No entanto, Battisti tinha montado um esquema para despistar a polícia e já não estava fora do alcance da PF.

Battisti foi preso pela polícia da Bolívia nas ruas de Santa Cruz de La Sierra na noite deste sábado (12). Na intenção de exibi-lo como troféu, o presidente Jair Bolsonaro montou uma operação para trazê-lo ao Brasil, antes de despachá-lo para a Itália.

O ministro do GSI, general Augusto Heleno, anunciou que um avião da PF havia sido deslocado para buscar Battisti. Mas antes que o Brasil pudesse trazê-lo de volta, a Itália o levou da Bolívia.

“A tentativa amadora e desencontrada do governo Bolsonaro em exibir Battisti como um troféu foi solenemente ignorada pela Itália e Bolívia, deixando o Brasil numa condição de ‘anão diplomático’”, afirmou o jornalista Leandro Colon, na Folha de S. Paulo.

“Procurando um troféu para usar no seu eterno marketing político, como se ainda estivesse em campanha, o governo do capitão Jair Bolsonaro, mal orientado por seus ministros, notadamente aqueles com quem se reuniu na manhã de domingo – Sérgio Moro, da Justiça, general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores – acabou pagando mico ao enviar um avião da Polícia Federal à Bolívia, no intuito de buscar o italiano Cesare Battisti. O avião voltou vazio”, escreveu o jornalista Marcelo Auler.

Para muitos, foi uma surpresa que um governo de esquerda como o de Evo Morales, na Bolívia, pudesse entregar Battisti à Itália.

A quem pergunta as razões que teriam levado Evo a extraditar Battisti (e ser o único presidente de esquerda na posse de Bolsonaro) é inevitável ressaltar que as exportações de gás natural da Bolívia para o Brasil (cerca de US$ 2 bi anuais) representam 5% do total do PIB do país andino.

Segundo Milton Temer, ex-deputado e dirigente do PSOL, só é possível entender a decisão da Bolívia de extraditar Battisti “pela insegurança de Evo em ser transformado no próximo Maduro, sem o mesmo apoio militar.”

 

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