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O tour de beija-mão do clã Bolsonaro

O mais novo presidente de fato do Brasil nem tomou posse oficialmente, mas seu clã já iniciou o tour de beija-mão. Agradecimento aos serviços prestados? Ou reforçando promessas passadas? Talvez ambos.

O fato é que Eduardo Bolsonaro – aquele que teve um aumento de mais de 400% no patrimônio – passou os últimos dias passeando pelos corredores de Washington. Reuniu-se com representantes do governo, com Luis Almagro (o ditador-em-chefe da OEA), com o genro de Trump e até achou um tempinho na agenda para participar do jantar de aniversário de Steve Bannon, o ex-assessor do presidente dos Estados Unidos que promete criar uma cruzada global contra o “marxismo cultural” — seja lá o que for isso.

Sintoma dos nossos tempos. Enquanto gastamos nossas energias e nos deprimimos com as asneiras que escreve o futuro chanceler de fachada, a cria do presidente se encarrega de selar os acordos que definirão os rumos da nossa política externa por anos (senão décadas). Nada novo: o clã Trump já vem cumprindo esse papel há vários anos — e lucrando muito com isso.

Essa vem sendo uma semana agitada: nesta quinta, John Bolton, assessor de Segurança Nacional de Trump, faz uma escala no Brasil antes de engrossar as fileiras da Cúpula do G20, que acontece na sexta, na Argentina. Na agenda da reunião, nada que Eduardo Bolsonaro já não tenha acertado em Washington: intensificação do cerco à Venezuela, Nicarágua, Cuba, comércio bilateral (leia-se: devolver o Brasil aos tempos de colônia de exploração) e claro, acabar de uma vez por todas com a “ameaça chinesa” – agenda que deve ser reforçada por Trump no G20. No sábado, López Obrador assume a presidência do México com a promessa de retomar o não-intervencionismo como eixo fundamental da política externa mexicana.

Enquanto a eleição de Bolsonaro vem sendo celebrada nos círculos mais reacionários de Washington como um passo para a conquista do “Santo Graal da diplomacia regional dos Estados Unidos”, o Financial Times já se adianta em inverter a realidade, consagrando o futuro governo de Obrador como uma “ameaça à democracia liberal maior que Bolsonaro”.

Mais sintomas dos tempos estranhos em que vivemos, onde os fatos concretos, a realidade objetiva, têm menos importância para a opinião pública do que apelos à emoção coletiva ou a crenças pessoais. A única coisa que importa é que o argumento pareça legítimo — por mais irreal que seja. É por isso, por exemplo, que o Financial Times pode acusar Obrador justamente daquilo que já está sendo feito por Bolsonaro, como nomear um super-ministro ou ter um Judiciário mais que alinhado com o “espírito” do que vem por aí. É o pensamento mágico elevado ao nível de pós-verdade. É a mentira como a mais nova arma de dominação real.

 

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