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Como a Venezuela trocou o dólar por uma nova moeda

A Venezuela deu mais um passo para substituir de vez o dólar como moeda de troca. O país, que já vinha cotando o preço do barril de petróleo em moeda chinesa desde setembro do ano passado, anunciou que substituirá o dólar por euros, yuans ou “qualquer moeda comercializável” em todas as transações domésticas.

E não é exclusividade da Venezuela: Rússia, China, Índia, Turquia e Japão já anunciaram medidas para promover exportações em suas próprias moedas, em um movimento que pode ser o anúncio do fim do mundo como o conhecemos.

E o que é mais irônico: é um movimento impulsionado justamente pelas medidas adotadas pelos Estados Unidos, em seu desespero em manter-se como potência global. É resultado direto das políticas unilaterais (e ilegais, sempre bom lembrar) que vêm sendo implementadas há décadas, mas que ganham nova ênfase com Trump. É resultado da truculência das sanções, do infantilismo de uma política de chantagem e prepotência.

Mas vocês podem me perguntar: as sanções não são necessárias? Nesse caso, eu diria para olharmos os números. Se analisarmos o caso da Venezuela – e há outros, muitos outros, Cuba, Irã, Iraque, enfim, uma longa lista de países submetidos aos desmandos dos Estados Unidos e aliados – veremos que os resultados dessas medidas unilaterais são sempre daninhos ao povo. Para dar apenas um exemplo: sabe quanto a Venezuela gastou só esse ano para pagar os custos de conversão para transações internacionais?

US$20 milhões. US$ 20 milhões que não puderam ser investidos em saúde, educação, consequência direta das sanções unilaterais. E o que US$ 20 milhões compram? Bem, segundo estimativas da Organização Panamericana de Saúde, são necessários US$ 21 milhões por ano para cobrir todas (todas!) as despesas do tratamento de HIV na Venezuela.

E mais: porque essa cruzada justicialista só atinge determinados países? Porquê, por exemplo, a Arábia Saudita, principal responsável pela fome no Iêmen, a maior crise desse tipo dos últimos cem anos, não se vê alvo dessas políticas “humanitárias”? Porquê o próprio Estados Unidos, que violam seguidamente os mais básicos princípios do Direito Internacional seguem contando com o apoio irrestrito dos organismos criados justamente para prevenir esse tipo de abuso?

De um lado, uma política de agressão perpétua. De outro, a construção de um modelo de integração que aumente a autonomia e influência coletivas, com equilíbrio de poderes em substituição ao modelo de dominância unilateral. Desdolarizar a economia é apenas o primeiro passo nesse processo mais que necessário.

Mais Nocaute:

Carta de Lula aos brasileiros no segundo turno das eleições

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  1. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    Fora a questão da Arábia Saudita – sem sombra de dúvida um regime autoritário que tem, inclusive, “Polícia Religiosa” -, estará a articulista por acaso afirmando que, ao sair do Dólar para negociar em Yens, Rublos, Liras Turcas, Rúpias, etc, a Venezuela deixará de pagar custos de conversão para transações internacionais? É isso mesmo?

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