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Trump, lá e cá

Tito Vargas (*)

No inicio de 2018 foi lançado um impressionante documentário intitulado “Trumping Democracy” (“Driblando a Democracia”), concebido a partir de informações legalmente obtidas por seus realizadores. O título é um trocadilho com um dos significados da palavra “trump”, que significa “enganar, driblar”.

O conteúdo do documentário está sintetizado pela frase de seu diretor, o jornalista francês Thomas Huchon, que aparece na tela inicial: “Dinheiro de Verdade”, “Fake News”, “Seus dados”.

O filme mostra como pode-se manipular uma nação utilizando o princípio maquiavélico adotado por Goebbels para a construção do sonho de Hitler: “Minta, minta, minta: sempre ficará alguma coisa.”

“Trumping Democracy” revela que isso é possível através do casamento das técnicas mais avançadas de manipulação de massas com o desenvolvimento dos mais  sofisticados algoritmos que a computação permite, ambos baseados na coleta tanto legítima quanto ilegal de centenas de dados sobre dezenas de milhões de pessoas.

Tudo isso foi montado sob a batuta de Steve Bannon, o guru intelectual de Trump, a partir de uma empresa denominada Cambridge Analytica, dedicada à coleta, análise e impulsão de mensagens pelo Facebook, Whatsapp, Twitter, etc.

O filme de Huchon mostra como, aproveitando-se de idiossincrasias do sistema eleitoral americano de votação final pelo Colégio Eleitoral, a Cambridge Analytica influenciou de forma geral o voto de 150 milhões de americanos e o voto especifico de 77.000 eleitores em estados chaves de Wisconsin, Michigan e Pennsylvania que deram a Donald Trump a vitória, embora ele tenha perdido no computo nacional por três milhões de votos para Hillary Clinton.

O sucesso da ferramenta levou Bannon a “vender” seus serviços a notórios  grupos de direita europeus e, além de ter influenciado definitivamente a votação para o Brexit no Reino Unido, obteve  sucesso na atuação da extrema-direita  na Hungria, Polônia e  Itália.

O filme mostra como, com tão poderosa ferramenta, mentiras foram espalhadas sobre adversários, e temas nacionais foram simplificados à dinâmica de brigas de botequim.

Mas os objetivos fundamentais foram, no final das contas, atender a princípios tão diversos dos objetivos históricos da politica americana mas muito próximos do neofascismo que está nas origens do movimento politico representado por Trump e Bannon.

A Cambridge Analytica esteve no Brasil. Procurou vários marqueteiros  oferecendo o “milagre” de suas ferramentas.

Quando foi pega em um escândalo de roubo de dados confidenciais no Reino Unido a Cambridge viu-se obrigada a fechar, mas seus “missionários da boa palavra” continuaram a vender sua “tecnologia”.

Aqui no Brasil um grupo a comprou.

Bannon declarou-se há já vários meses a favor de Jair Bolsonaro, tendo encontrado seu filho.

No dia 11 ultimo Bolsonaro desmentiu a notícia, mas o que Bannon disse está bem registrado. Junte Bannon, Cambridge Analytica e Trump e você encontra alguém no Brasil.

Com as teses de armas para todos, ódio aos inimigos, acusações de imoralidade aos adversários políticos, você teria dificuldades de saber quem, no Brasil, comprou a tecnologia e é o herdeiro de Trump?

Terá sido a campanha de Bolsonaro uma versão brasileira do “America First”?

(*) Tito Vargas é sociólogo e jornalista brasileiro, residente nos Estados Unidos.

Assista ao documentário:

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