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Cinco anos depois das denúncias de Snowden, continuamos usando plataformas que prestam informações para NSA.

Em sua coluna semanal no Nocaute, Sérgio Amadeu explica como o serviço de espionagem norte-americano rastreia a vida de governos e cidadãos comuns através de parcerias com plataformas como o Google, Yahoo e outros.

Oi, eu sou o Sérgio Amadeu. Sou professor da Universidade Federal do ABC. E estou mais uma vez aqui no Nocaute para discutir as implicações políticas das tecnologias. Enfim, a tecnopolítica.

Hoje eu vou começar falando de patentes. Em geral, patente é algo que o inventor registra para proteger a sua invenção. É uma invenção vinculada à produção industrial que você gasta muito para desenvolvê-la. Mas, nos Estados Unidos as patentes são bem abrangentes. Você vê muito patentes até de softwares, de equações matemáticas e patentes de algoritmos e sistemas algoritmos.

E a patente que vocês estão vendo aí, é uma patente registrada pelo Yahoo. Na verdade, ela servia para descobrir lideranças nas redes sociais. Então, as patentes são métodos de como você vai organizar aqueles algoritmos. Essa patente mostra como é possível, a partir da navegação dessas pessoas nas redes sociais, você identificá-las.

Você poderia dizer: por que você está falando isso? Eu estou falando isso porque em 2013, cinco anos atrás, particularmente em junho, uma figura importante denunciou a relação entre o governo americano, as agências de espionagem americana e as grandes corporações de tecnologia.

Essa pessoa se chama Edward Snowden.

Ele fez denúncias do programa prisma. Que é um programa que utilizava as corporações que nós estamos com elas  o tempo todo fazendo buscas, tendo email, fazendo compartilhamento de conteúdos em redes sociais e essas corporações têm plataformas. E essas plataformas sabem exatamente o que você está fazendo.

Não só aquilo que a gente está publicando. Mas aquilo que a gente não publicou. A nossa caixa postal, os cliques que a gente deu, os rastros que nós deixamos. Tudo isso era passado para a agência de espionagem eletrônica norte-americana, chamada NSA.

E isso foi um escândalo, porque dentre aqueles que foram espionados, estavam a presidenta Dilma, a direção da Petrobras e outras empresas brasileiras. E foi um escândalo, a própria presidenta Dilma, também com apoio da primeira-ministra da Alemanha, foram na Assembleia Geral da ONU e discutiram, apresentaram a sua contraposição a esse tipo de vigilância massiva, que não respeitava governos, que não respeitava cidadãos, que coletava dados e coleta dados no mundo inteiro.

A própria Dilma cancelou uma visita ao presidente Obama depois desse escândalo, enquanto os Estados Unidos não se retratassem. A verdade é que os Estados Unidos não se retrataram, mas também é verdade que a presidenta Dilma disse que ela queria que o governo, no seu interior, não usasse mais emails dessas corporações que fazem parte do sistema de espionagem norte-americano.

Pois bem, nós estamos cinco anos depois, e a minha pergunta é: nós deixamos de usar emails da microsoft no governo. Deixamos de usar emails do gmail? Ou continuamos usando? Deixamos de usar plataformas estrangeiras para fazer negociações sigilosas do Ministério das Relações Exteriores ou continuamos fazendo? Essa é a dúvida. A minha dúvida tem procedência. Porque me parece que nenhuma providência foi tomada contra a espionagem global. Muito foi dito, muito foi alardeado e parece que as pessoas acreditam que Donald Trump deu uma ordem para paralisar a captura de informações estratégicas para os Estados Unidos.

Eu não acredito nisso. Se você acreditar, tudo bem.

Cinco anos depois, continuamos usando emails de corporações estrangeiras que estão debaixo do Patriot Act e que prestam informações para o sistema de vigilância dos Estados Unidos.

Espero que a gente mude isso no próximo governo. Espero mesmo, que a gente possa adquirir autonomia e que a gente possa ter sistemas tecnológicos desenvolvidos aqui ou desenvolvidos com segurança.

Fica aí essa dica e até a próxima.

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