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Villas Bôas: caso Bolsonaro “gerou comoção e pode alterar a legitimidade do próximo governo”. Deputado Damous pede demissão do general.

Em entrevista à repórter Tânia Monteiro, do jornal O Estado de S. Paulo, o comandante do Exército diz que, se perder, Bolsonaro “pode dizer que prejudicaram a campanha dele”. E, caso o capitão seja eleito “provavelmente será dito que ele foi beneficiado pelo atentado, porque gerou comoção. Daí, altera o ritmo normal das coisas e isso é preocupante”.  O deputado Wadih Damous pediu a demissão de Villas. Em Minas, Fernando Pimentel respondeu às ameaças do vice de Bolsonaro, general Mourão.

Em graves e surpreendentes declarações publicadas neste domingo no jornal O Estado de S. Paulo, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas – que em abril já havia postado palavras polêmicas em seu Twitter -, afirmou que o atentado ao candidato Jair Bolsonaro pode até mesmo colocar em dúvida a legitimidade do próximo governo a ser eleito.

Segundo Villas Bôas, “o atentado confirma que estamos construindo dificuldade para que o novo governo tenha uma estabilidade, para a sua governabilidade. Por exemplo, com relação a Bolsonaro, ele não sendo eleito, ele pode dizer que prejudicaram a campanha dele. E, ele sendo eleito, provavelmente será dito que ele foi beneficiado pelo atentado, porque gerou comoção. Daí, altera o ritmo normal das coisas e isso é preocupante”.

Em abril, antes que os ministros do STF se reunissem para o julgamento do habeas corpus de Lula, o general publicou um tuíte que foi interpretado como ameaça.

Leia o tuíte que foi lido durante os últimos minutos do Jornal Nacional, na noite anterior ao julgamento do habeas corpus de Lula no STF:

Nesta última entrevista ao Estadão, ao ser perguntado sobre a candidatura de Lula, Villas Bôas afirmou que “considera uma afronta à soberania nacional” a determinação da ONU de que Lula tem o direito a ser candidato. “Eu gostaria que “as decisões relativas a este tema sejam definidas e decididas rapidamente, de uma maneira definitiva, para que todo o processo transcorra com naturalidade”.

Em nota, o Partido dos Trabalhadores repudiou as afirmações do general, que considerou de cunho autoritário e inconstitucional.

“O Partido dos Trabalhadores convoca as forças democráticas do país a repudiar declarações de cunho autoritário e inconstitucional do comandante do Exército divulgadas pela imprensa neste domingo”, diz nota divulgada pelo PT neste domingo. “Depois de dizer quem pode ou não pode ser candidato, de interpretar arbitrariamente a lei e a Constituição o que mais vão querer? Decidir se o eleito toma posse? Indicar o futuro presidente à revelia do povo?”, afirma a nota da Executiva Nacional do partido.

Wadih Damous defende demissão de Villas Bôas

O deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) criticou, nesta manhã, por meio do twitter, as declarações do general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, que manifestou posição contrária à candidatura do ex-presidente Lula, em entrevista publicada no jornal Estado de São Paulo, neste domingo.

“As declarações do General Vilas Boas são inaceitáveis porque ilegais. Em qualquer país em que vigore uma Constituição, o General seria exonerado. Trata-se, na pratica, de uma intervenção militar na política. Querem tutelar as eleições e garantir a vitória do candidato nazifascista”, afirmou Damous em sua conta no twitter.

Na entrevista ao Estadão, Villas Bôas declarou que “o pior cenário é termos alguém sub judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira”. “A Lei da Ficha Limpa se aplica a todos”, concluiu.

Leia aqui os principais trechos da entrevista do general ao Estadão:

O sr. já estava preocupado com o acirramento dos ânimos. O atentado a Bolsonaro aumentou essa preocupação?

O atentado é a materialização das preocupações que a gente estava antevendo de todo esse acirramento dessas divergências, que saíram do nível político e já passaram para nível comportamental das pessoas. A intolerância está muito grande. E esse atentado, infelizmente, veio a confirmar essa intolerância generalizada e a nossa falta de capacidade de colocar acima dessas questões políticas, ideológicas e pessoais o interesse do País.

Qual o efeito do atentado para o momento eleitoral?

O atentado confirma que estamos construindo dificuldade para que o novo governo tenha uma estabilidade, para a sua governabilidade, e podendo até mesmo ter sua legitimidade questionada. Por exemplo, com relação a Bolsonaro, ele não sendo eleito, ele pode dizer que prejudicaram a campanha dele. E, ele sendo eleito, provavelmente será dito que ele foi beneficiado pelo atentado, porque gerou comoção. Daí, altera o ritmo normal das coisas e isso é preocupante.

Como o Exército acompanha a tentativa de registro da candidatura do ex-presidente Lula?

A gente vem pautando nossa atuação e discurso em cima da legalidade, legitimidade e estabilidade. Entendemos que a estabilidade é fundamental para o funcionamento das instituições. Até porque, o inverso, a instabilidade, implica diretamente nossa atuação, como na greve dos caminhoneiros. Preocupa que este acirramento das divisões acabe minando tanto a governabilidade quanto a legitimidade do próximo governo. Nos preocupa também que as decisões relativas a este tema sejam definidas e decididas rapidamente, de uma maneira definitiva, para que todo o processo transcorra com naturalidade.

Um dos argumentos da defesa de Lula é um parecer do Comitê de Direitos humanos da ONU. Como avalia?

É uma tentativa de invasão da soberania nacional. Depende de nós permitir que ela se confirme ou não. Isso é algo que nos preocupa, porque pode comprometer nossa estabilidade, as condições de governabilidade e de legitimidade do próximo governo.

Na possibilidade de Lula se tornar elegível e ganhar, qual seria a posição das Forças?

O pior cenário é termos alguém sub judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira. A Lei da Ficha Limpa se aplica a todos.

Bolsonaro aparece como candidato dos militares. Ele é o candidato das Forças Armadas?

Não é candidato das Forças. As Forças Armadas são instituições de Estado, de caráter apolítico e apartidário. Obviamente, ele tem apelo no público militar, porque ele procura se identificar com as questões que são caras às Forças, além de ter senso de oportunidade aguçada.

O sr. recebeu vários candidatos. O que pediu ou ouviu?

A intenção foi tão somente apresentar temas que digam respeito à Defesa.

Íntegra da nota do PT em repúdio às declarações do general Villas Bôas:

O Partido dos Trabalhadores convoca as forças democráticas do país a repudiar declarações de cunho autoritário e inconstitucional do comandante do Exército divulgadas pela imprensa neste domingo.

A entrevista do general Villas Boas é o mais grave episódio de insubordinação de uma comandante das Forças Armadas ao papel que lhes foi delimitado, pela vontade soberana do povo, na Constituição democrática de 1988.

É uma manifestação de caráter político, de quem pretende tutelar as instituições republicanas. No caso específico, o Poder Judiciário, que ainda examina recursos processuais legítimos em relação ao ex-presidente Lula.

É muito grave que um comandante com alta responsabilidade se arrogue a interferir diretamente no processo eleitoral, algo que as Forças Armadas não faziam desde os sombrios tempos da ditadura.

Depois de dizer quem pode ou não pode ser candidato, de interpretar arbitrariamente a lei e a Constituição o que mais vão querer? Decidir se o eleito toma posse? Indicar o futuro presidente à revelia do povo? Mudar as leis para que o eleitor não possa decidir livremente? O Brasil já passou por isso e não quer voltar a este passado sombrio.

A Constituição diz claramente que as Forças Armadas só podem atuar por determinação expressa de um dos poderes da República, legitimados pelo estado de direito democrático, e nunca a sua revelia ou, supostamente, para corrigi-los.

A sociedade brasileira lutou tenazmente para reconstruir a democracia no país, com o sacrifício de muitas vidas, após o golpe civil e militar de 1964, que acabou conduzindo o país a um regime ditatorial nefasto para o povo e desmoralizante para as Forças Armadas.

A democracia e o estado de direito não admitem tutela alguma, pois se sustentam na soberania do voto popular.

Um governo legítimo, comprometido com o futuro do país, já teria chamado o general Villas Boas a retratar suas declarações de cunho autoritário e tomado as medidas necessárias para afirmar o poder civil e republicano.

Como se trata de um governo nascido de um golpe, decadente e repudiado pela quase totalidade da população, não lhe resta qualquer autoridade para impor a ordem constitucional aos comandos militares.

Compete ao povo e aos democratas do país denunciar e reagir diante de um episódio que só faz agravar a grave crise social, política e econômica do país.

O Brasil precisa urgentemente de mais democracia, não menos, para retomar o caminho da paz e do desenvolvimento com inclusão social.

Comissão Executiva Nacional do PT

Em Minas, governador Fernando Pimentel rebate a entrevista de outro general, Hamilton Mourão, candidato a vice de Jair Bolsonaro, concedida à rede Globo poucas horas após a agressão de Juiz de Fora.

Em discurso a militantes e políticos do PT, em Belo Horizonte, também rebateu fortemente as declarações dadas anteontem pelo general Hamilton Mourão, candidato a vice de Bolsonaro. “Não sei se vocês viram, o candidato a vice-presidente na chapa do Bolsonaro deu uma entrevista à Rede Globo e ele fala explicitamente ‘nós vamos ganhar, e se não ganhar nós vamos ficar atentos porque temos as Forças Armadas ao nosso lado’. “E aí alguém pergunta para ele: você vê alguma possibilidade de um golpe? Ele responde”: ‘Vejo, claro, o presidente pode convocar a gente’.

O governador mineiro prosseguiu em seu protesto: “E o presidente de que ele está falando é o Temer, viu? Ele está falando é do Temer”: ‘O presidente pode nos convocar, seria uma espécie de autogolpe, ele chama a gente, a gente intervém e bota ordem nessa anarquia’. “Quer dizer, agora é explícito”, concluiu Pimentel: “Eles estão falando, verbalizando a intenção deles de fazer o Brasil regredir.”

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  1. Avatar

    Não vi nada demais em sua declaração. Só acho que um presidiário não deveria ser candidato a presidência de um país, afinal que país é esse que elegeria um presidiário como presidente.
    O lulismo está mais que evidente.
    Ele foi muito inteligente em seu mandato, deu migalhas aos pobres e conta com isso hoje para tentar a todo custo reengressar na presidência.
    Ainda não tenho um candidato, mas posso garantir que quem passou anos no poder e deixou o rombo que está Não merece retornar.

  2. Avatar

    a pergunta é: como pode um cidadão desses chegar ao cargo de general?
    fico pensando o quão desprotegidos de uma ação externa estamos com um general desse naipe.
    fhc, lula e dilma erraram em não aprofundar a comissão da verdade, botar os torturadores na cadeia, como fizeram os argentinos e como estão fazendo os chilenos.
    enquanto esses crápulas não sentirem a mão pesada da sociedade eles continuarão agindo contra o povo. essa é a história do exército, desde duque de caxias.
    sem cadeia eles continuarão a conspirar.

  3. Avatar

    Não deveria estranhar nem o tom e muito menos o conteúdo do generalato quatro estrelas nacional.
    A formação originária ancorada nas academias norte-americanas e as disciplinas da Escola Superior de Guerra não apontam em direção e sentido diferentes do que disseram os comandantes Villas Bôas, Mourão e Heleno.
    Há uma “candidatura militar” renascendo das cinzas de 64 e escalando o rescaldo da Lava Jato e do Impeachment.
    Há a perspectiva de que – de fato e na prática – uma “Junta Militar” venha a comandar o país.
    Bastaria a nomeação de um Ministro da Defesa com origem na Caserna, um ministro da Casa Civil também da Caserna e um ministro da Justiça também da Caserna.
    Não seria absurdo imaginar uma intervenção militar provocada pelo Executivo comandado pelo ex-capitão.
    O pretexto e a motivação seriam facilmente justificáveis e, pior, apoiados pela opinião pública: o estado de anomia social e a ofensiva das facções criminosas pré-mafiosas em todo o território nacional.
    Aproxima-se uma tempestade e a fragmentação da esquerda – liderada pelo equívoco monumental de Lula em insistir em sua candidatura a qualquer preço – abriu o flanco para a disparada do ex-capitão rumo ao Planalto.
    Resta ao centro-esquerda apenas o voto útil para levar o herdeiro de Brizola ao segundo turno.
    Se o “poste” de Lula passar ao segundo turno, a “candidatura militar” sairá vitoriosa.

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